Essa coluna tem lidado com vários assuntos ao longo de sua curta existência. Já tratamos de agrotóxicos, mudanças climáticas, incêndios na Amazônia, crise hídrica, ecofeminismo e políticas ambientais. Temas e problemas que foram surgindo durante o ano passado, devido em grande parte aos dilemas que o tempo presente iam colocando em nossa frente. Na frente de todos nós, não se esqueçam disso. Textos que procuraram traçar a questão ambiental em termos simples e diretos. Pretendemos continuar assim, seguindo com a reflexão dos temas de agora, ainda quentes. Mas… gostaria de fazer uma breve interrupção e trazer um assunto que precisa ser discutido: o mito eterno do desenvolvimento. Calma que eu explico.

Desde o final dos anos 1950, pelo menos, veio surgindo nos meios econômicos em vários países, com epicentro nos EUA, a discussão sobre a capacidade de crescimento econômico baseado na industrialização. Essa é uma das pechas do capitalismo característico do século XX. A necessidade de aumento dos índices econômicos nacionais, o tal do PIB (Produto Interno Bruto), sendo tais índices o que marca uma nação desenvolvida ou subdesenvolvida, rica ou pobre, moderna ou defasada etc. etc. etc. Esta ideia desenvolvimentista foi concebida, de forma mais clara, por Walt Whitman Rostow, conselheiro de Estado dos EUA, que partia da noção de uma certa escala evolutiva das nações, marcada pelo grau de desenvolvimento econômico de cada uma delas. Sem entrar em minucias tal “ideia” ganhou forma e passou a determinar o lugar dos países no mundo contemporâneo. Também acentuou a relação entre hemisfério norte e sul, já que a maioria dos países pobres e subdesenvolvidos estão do lado de cá do equador.

Ora, vejam, a proposta de Rostow era carregada de outras nuances, que foram deixadas de lado. A principal delas é a noção de que um país só conseguiria se desenvolver se tivesse adotado plenamente o regime democrático. Havia uma clara associação entre crescimento econômico e a liberdade política. Algo que em certo aspecto pode parecer positivo, já que associa as questões de mercado, trabalho, industrialização à capacidade de um país em dar voz aos seus cidadãos. Porém, quando saímos da superfície da questão percebemos que a definição feita por Rostow para desenvolvimento gerou várias consequências.

Entre os resultados temos o aumento das desigualdades sociais e econômicas, a discriminação entre populações ricas e pobres, acentuação do preconceito cultural entre países, aumento da imigração do Sul para Norte, além de denotar cada vez mais a diferença econômica entre nações. De fato, isso ainda nem arranha a superfície dos problemas que a noção de desenvolvimento tem causado. O desenvolvimentismo tem levado a intensificação a exploração do/a trabalhador/a e do meio ambiente. Uma consequência original do capitalismo em sua essência, mas agora justificada pela necessidade de crescimento econômico a qualquer custo.

Essa conversa continua no próximo mês…