Até hoje a luta das mulheres por igualdade em todos lugares e atividades é árdua por vários motivos. Um deles é que muitos não acreditam que somos capazes de realizar as mesmas atividades que os homens realizam. Esse pensamento não é algo que surgiu agora! Desde a Grécia antiga, quando os gregos criaram as Olimpíadas, mulheres já eram proibidas de participar. E mais, depois que as Olimpíadas vieram para os tempos modernos, a recomendação era que mulheres ficassem no lugar delas, pré-definido como cuidadoras do lar e mães.
Mas qual é o lugar da mulher? Seria esse um lugar incomum? E desde quando mulheres puderam competir praticando esportes? Os relatos começam a surgir a partir de 1900, ano em que as mulheres puderam pela primeira vez participar das Olimpíadas em dois esportes: o golfe e o tênis – esportes de elite, disputados por mulheres que tinham condições não só físicas, mas também econômicas e sociais para financiar seus treinos e competições.
No entanto, pensando nos dias atuais, quando você corre ou vê uma pessoa correndo, provavelmente não passa pela sua cabeça questões sociais de igualdade de gênero, por exemplo. Principalmente se for uma mulher, já que hoje em dia o esporte de corrida de rua é mais democrático e as pessoas podem sair correndo para qualquer lugar que decidirem ir.
Vale lembrar que nem sempre foi assim, por isso voltaremos a 1967 – um ano nem tão longe assim – para conhecer a história de Katherine Switzer, uma Alemã que ressignificou o lugar das mulheres nas corridas de rua a partir de sua participação na Maratona de Boston.
#ParaTodosVerem – A imagem está toda em tons de preto e branco. Centralizada, há uma mulher jovem sorrindo, de cabelos presos e agasalho. Essa mulher é Katherine Switzer.
O que é uma maratona?
Uma maratona é uma prova de corrida de longa distância, mais especificamente são 42km 195m. Uma das mais famosas é a maratona de Boston, nos Estados Unidos, lugar onde Katherine Switzer marcou seu nome na história do atletismo.
A história
Em 1967, passados quase setenta anos desde que a competição existia, a prova ia acontecer mais uma vez, e só homens eram autorizados a participar. Isso porque havia uma crença limitante de que mulheres não eram capazes de correr uma distância tão longa, por serem consideradas menos resistentes que os homens, além de não possuírem força física e por não ser “coisa de mulher“.
É exatamente nesse ponto de crenças limitantes que Katherine Switzer entra na história do atletismo. Ela, que já corria e até tinha um treinador, decidiu correr a maratona de Boston. A partir de sua decisão, comunicou seu treinador, que inclusive a desmotivou de participar dizendo que “que uma mulher não era capaz de correr a distância de 42 quilômetros da maratona”. Mas ela não se deixou abater e se inscreveu mesmo assim no comitê do evento.
A inscrição
Ignorando a regra mais importante do evento, Katherine foi fazer sua inscrição, e para não ser reconhecida, assinou seu primeiro nome apenas com a inicial – a letra K – e o restante escreveu normalmente. Assim, ninguém percebeu a violação feita, e no dia da Maratona, a atleta foi correr ao lado de seu treinador e seu namorado.
A corrida
No dia da corrida, chovia e estava frio. Isso foi de grande ajuda porque Katherine acabou vestindo uma blusa, carregando o número 261 em seu peito, e uma calça. Por esse motivo, inicialmente passou despercebida aos olhos masculinos.
Em dado momento do percurso, o carro da imprensa, que passava cobrindo a corrida, estava com o organizador do evento dentro dele. Esse homem percebeu que havia uma mulher correndo, então ele pulou do carro e saiu atrás de Katherine gritando para que ela se retirasse imediatamente daquele lugar. Ela não se intimidou em momento algum e continuou correndo, graças ao seu namorado, que empurrou e derrubou o organizador do evento no chão, permitindo assim que Katherine continuasse a corrida.
#ParaTodosVerem – Na imagem em preto e branco há dez pessoas correndo a maratona de Boston com números em seus peitos. Uma delas Katherine Switzer, que está sendo empurrada pelo organizador do evento e, ao mesmo tempo, sendo protegida por dois homens que o afastam para o lado esquerdo da rua.
Resistência
Nesse momento de confusão, Katherine olhou para o seu treinador e disse as seguintes palavras: “Tenho que terminar essa corrida, nem que seja de joelhos porque se eu não terminar ninguém vai acreditar que as mulheres são capazes disso“.
E assim foi, a atleta terminou os 42 quilômetros da maratona em quatro horas e quarenta e dois minutos. Foi a primeira mulher a correr oficialmente uma maratona.
Depois de seu feito, Katherine começou a dar palestras a respeito da importância da mulher em diversos espaços no esporte, inclusive na corrida. Mas demorou ainda 5 anos para que as mulheres fossem incluídas oficialmente na Maratona de Boston.
Pós corrida
Katherine não parou após a linha de chegada em Boston, ela se tornou uma ativista para corredoras mulheres, palestrante e foi ainda uma das principais responsáveis por incluir a maratona feminina nos jogos Olímpicos, dizendo a seguinte frase: “Nós sabemos que se nós dermos poder às mulheres, elas são capazes de qualquer coisa”.
#ParaTodosVerem – Na imagem, toda em preto e branco, há quatro pessoas correndo com shorts e blusas de manga longa, além dos números da corrida colocados no peito. Katherine está no meio da foto, de agasalho e com o número 261 colado em sua blusa. Ao fundo há algumas árvores, casa e veículos de modelo antigo.
Qual é o lugar da mulher?
Agora você consegue dizer desde quando as mulheres foram inseridas no esporte. Mas será que apenas o tempo importa, sendo que isso sempre se tratou de muito mais do que apenas participações em jogos e corridas?
Hoje a dificuldade não é lutar por um lugar no esporte. Isso as mulheres já alcançaram, é o básico. A questão vai muito além. E é exatamente por isso que a cada meta batida num simples esporte como a corrida, ou a cada vez que uma mulher carrega uma medalha no peito, sobe num pódio, ou pratica um esporte por hobbie, isso é motivo de orgulho e comemoração! É também motivo de reflexão por todas as que vieram antes, buscando e abrindo espaço para todas as que virão à frente no futuro.
E assim as mulheres seguem. Em meio a muitas lutas, desigualdades e pouco reconhecimento, uma coisa elas têm de sobra: a garra e a força de vontade de estarem em todos os lugares, mesmo que para isso seja necessário fazer como Katherine Switzer – resistir.
#ParaTodosVerem – Imagem de capa: na imagem há um papel branco com o número 261 fotografado pela metade sobre o asfalto, e acima dele, um tênis preto pisando no papel.
Referências