Olhando para a imagem de capa, já se pode ter uma ideia do que abordaremos neste post, certo? Se não, talvez com uma parte desse poema fique mais claro.
Os Sapos (Manuel Bandeira 1918/1919, recitado por Ronald de Carvalho em 1922)
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
– “Meu pai foi à guerra!”
– “Não foi!” – “Foi!” – “Não foi!”.
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: – “Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
[…]
Essas duas obras, o poema e a pintura da capa foram realizadas por dois artistas importantes e que participaram de uma grande manifestação artística.
Mas vamos voltar um pouco no tempo… O número 22 em relação aos anos tem vários significados. No dia 7 de setembro de 1822, D. Pedro I disse “Independência ou morte” às margens do riacho Ipiranga, proclamando, assim, a nossa independência de Portugal.
Cem anos depois, pensando no ano de Independência e no contexto, um evento foi realizado com uma outra ideia de Independência, desta vez artística²: foi a Semana de Arte Moderna. Durante os dias 13, 15 e 17 de fevereiro, o Theatro Municipal de São Paulo foi palco de apresentações de poesias, música, dança e exposições de pinturas e esculturas.
Aquela semana de manifestação artística ganhou um grande significado para a cultura brasileira, pois foi realizada com a intenção de romper com os laços do passado, como o Parnasianismo e o Academicismo¹ e a busca de uma identidade nacional. Além disso, com a ideia de apresentar uma estética inovadora que tinha como influência as vanguardas europeias¹ e evidenciar uma arte só brasileira, com uma linguagem mais oral e coloquial¹.
Participaram da Semana de 22 vários autores e artistas como Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Anita Malfatti, Manuel Bandeira, Villa-Lobos, Graça Aranha, Di Cavalcanti e outros incríveis¹. Tarsila do Amaral não estava presente, mas expôs algumas de suas obras.
Na arte a seguir percebemos que já com o cartaz do evento o artista Di Cavalcanti queria transmitir a estética inovadora. Uma pé de café, lembrando de um dos principais produtos do país na época, além disso, as letras diferentes com algumas em destaque.

CAPA do programa da Semana de Arte Moderna de 22 – Di Cavalcanti. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira.
#ParaTodosVerem – Cartaz em vertical com as letras na parte superior desenhadas, as letras “S” de semana e “A” de moderna em vermelho e as outas em preto formando “Semana de Arte Moderna”, embaixo uma ilustração de um pé de café com os cafés em vermelho e abaixo “S.Paulo/ 1922”.
Esses artistas estavam à frente da sua época, e a Semana recebeu muitas críticas. Pessoas iam assistir e vaiavam, não conseguiam entender o que os realizadores queriam e estavam mostrando.
Em 1917, Monteiro Lobato, escritor de obras infantis e de “Negrinha”, criticou as obras de Anita Malfatti. Entretanto, outros como Sérgio Milliet, um crítico de arte, apresentou uma visão positiva dos artistas da Semana de 22²:
“Penetremos juntos ao hall do Grande Teatro e admiremos um pouco esta exposição. Eis, da esquerda para a direita, John Graz, que nos apresenta telas de um colorido vigoroso e de um simbolismo místico simples, duro e ingênuo… Anita Malfatti, vigorosa e ousada, e inteligente. […]”²
Essa próxima obra incrível, cheia de cores, é da Anita Malfatti. E a de baixo é de John Graz, pintor suíço que veio para o Brasil na década de 204. Imagine andar por um corredor em que as obras desses grandes artistas, com cores e estilos diferentes estão sendo expostas!

A Boba, 1916 – Anita Malfatti In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira.
#ParaTodosVerem – Arte em vertical com uma mulher de cabelos pretos ao meio e tom de pele amarela olhando para cima. Em seu rosto tem algumas manchas em vermelho. Ela está vestida com uma camisa amarela e sentada em uma cadeira amarela. A parte superior do fundo é verde, o centro azulado e atrás da cadeira há uma mistura de vermelho e curvas azuis.

Retrato do desembargador Gabriel Gonçalves Gomide, 1917 – John Graz. In: MASP
#ParaTodosVerem – Obra em horizontal com um senhor sentado em uma cadeira de madeira. Ele é calvo na parte superior e tem bigode e cabelos brancos. Está olhando para baixo com um semblante sério, usando um terno verde. A cadeira em que está sentado é marrom. Na parte direita da imagem tem uma cortina amarela com flores brancas.
Naquela época quem pensaria que aquela semana continuaria sendo estudada por todos brasileiros e ainda que seria lembrada e festejada 100 depois?! Foi um movimento muito importante e enriquecedor para a nossa cultura, apresentando diferentes linguagens, obras e esculturas.
E depois…
A Semana de 22 aconteceu e todos sabem que não foi esquecida. Muitas revistas surgiram depois dela para continuar mostrando a identidade brasileira e essas novas estéticas, como Klaxon, Antropofagia, A Revista e Festa. E movimentos, como Pau-Brasil, Antropofágico e Verde-Amarelo.
Além disso, influenciou a Bossa Nova e o Tropicalismo. O movimento Antropofágico de Oswald de Andrade inspirou no nome Tropicalismo, que foi pensado a partir da obra de Hélio Oiticica “Tropicália”³.
Comemorações
Para a comemoração do Centenário da Semana de Arte Moderna, a Prefeitura de São Paulo está apoiando o Projeto 22+100, com o qual comemora aquele ano importante em 100 dias. Começou dia 22 de janeiro e vai até 1° de maio.
Segundo a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo para CASACOR “em 1922, quem apresentou o Modernismo foi a classe intelectual dos artistas. Hoje, 100 anos depois dos modernistas reivindicarem uma arte verdadeiramente nossa, quem apresenta o modernismo é a periferia pujante”.
Irão acontecer eventos no Theatro Municipal do dia 10 a 17 de fevereiro, exposições do Museu de Arte de Rua pelas ruas de São Paulo. O grupo Saudosa Maloca Modernista irá fazer uma roda de samba na semana do centenário. Acontecerá o “Final de Semana no Parque Ibirapuera”, cheio de atividades para todas as idades e, por fim, apresentações no Vale Anhangabaú em 1° de maio, todas essas comemorações reunidas pelo CASACOR e disponibilizadas pela Prefeitura da Cidade de São Paulo.
Por fim, a Pinacoteca de São Paulo também irá comemorar com a exposição: “Modernismo. Destaques do acervo”, que vai do dia 22 de janeiro até 31 de dezembro e contará com mais de 1000 obras e várias relacionadas ao modernismo. Quadros prestigiados estarão no local, como “Amigos” de Di Cavalcanti, “Antropofagia” de Tarsila do Amaral, “Auto-Retrato” de Victor Brecheret5.
Um evento que balançou as estruturas da época não pode ser esquecido!
#ParaTodosVerem – Arte feita com montagem a obra “A Estudante” de Anita Malfatti. Pintura da capa em vertical do lado direito com uma mulher sentada em uma cadeira de madeira. Ela está olhando para o lado, a sua face é da cor amarelo e com tons avermelhado em volta dos olhos, na bochecha e boca. O seu cabelo está ao meio e é marrom, está usando uma camisa amarela esverdeada com uma gravata azul e uma saia azul. O seu braço direito está em cima da perna. O fundo é um degradê de azul e verde. Do lado esquerdo está escrito “O Centenário” em preto, o primeiro e o último “O” estão em preto, de
Fontes:
5 CASACOR