É de conhecimento comum que esporte é saúde. As pessoas que praticam alguma atividade física diariamente sentem uma melhora na qualidade de vida. O esporte as tornam mais produtivas e dispostas, previne e até combate doenças, sejam elas físicas ou mentais. Ele deve ser incentivado desde cedo, pois também ensina valores fundamentais como trabalho em equipe, solidariedade, autoconfiança e uma maior determinação. Os atletas que nos dão orgulho nas competições e Olimpíadas, como Arthur Zanetti, na modalidade de argolas; Rafaela Silva, no judô; Fabiana Murer, no salto com varas; Neymar, no futebol, dentre tantos outros exemplos, começaram a praticar desde crianças. Mas, como eles chegaram onde estão? É pura sorte? Não, é investimento, tanto de tempo, quanto financeiro.

A primeira Lei Federal de Incentivo ao Esporte, nº 11.438/06, foi sancionada em 2006. Ela tem como principal objetivo estimular o patrocínio de atletas por todo o país, por empresas e pessoas físicas, promovendo um trabalho conjunto entre o governo e a sociedade. A partir dela, muitos outros projetos foram elaborados no setor, inclusive o Plano Brasil Medalha, de 2012, que destinava formar novas gerações de atletas, estruturar centros de treinamentos que acomodam desde as equipes de alto rendimento, até as categorias de base, com enfoque nas Olimpíadas e Paraolimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro.

Um dos maiores projetos de incentivo direto é o Bolsa Atleta, o qual possui verbas municipal e federal e foi criado em 2005: “é um programa de incentivo ao esporte de rendimento e de formação, para ajudar os atletas no custeio do dia-a-dia em relação à prática do esporte”, afirma Marcos Batista, gerente de pesquisa e planejamento da Secretaria de Esportes de Maringá. O programa atende aproximadamente 520 atletas da cidade, com o intuito de garantir condições mínimas para que eles se dediquem exclusiva e tranquilamente ao treinamento de competições locais e internacionais.

Marcos Batista

Marcos Batista, gerente de pesquisa e planejamento da Secretaria de Esportes de Maringá (foto: Isabela Palma)

Segundo dados do Governo Federal, 77% dos 465 atletas convocados ao Rio 2016 eram bolsistas e das 19 medalhas conquistadas, apenas uma não era de atleta bolsista. Já nos Jogos Paraolímpicos, 90% da delegação contava com o Bolsa Atleta e todas as 72 medalhas conquistadas foram por atletas que recebiam apoio financeiro do Ministério do Esporte. Para ter acesso ao benefício, Batista conta que há um período do ano em que as inscrições são abertas e os currículos de desempenho, avaliados: “ele [o atleta] faz o pedido, concorre com outros atletas pelo currículo dele, pelo aproveitamento do ano anterior e consegue a bolsa para o ano seguin, então a gente faz uma seleção com os melhores”. No entanto, é necessário que o candidato se inscreva anualmente, pois o benefício não se renova automaticamente.

Luís Henrique, praticante do atletismo, comenta os passos para se ter acesso à Bolsa: “Primeiro você possui resultados, depois o processo é divulgado no site da prefeitura, e sai também para cada treinador de cada modalidade. Para você começar a treinar alguma modalidade que está incluso na Bolsa, tem que ir para o local de treinamento específico, onde vai ocorrer federação, registro do atleta, você vai ter o resultado e só no outro ano você começa a ganhar por esse resultado, por exemplo: em 2017 eu recebi pelos resultados de 2016. Então no primeiro ano tem que ser só na batalha, não começa já ganhando dinheiro. Eu, por exemplo, levei 5 anos pra começar a receber algo”.

Luís Henrique (atletismo)

Luís Henrique (atletismo)

A maioria dos atletas bolsistas conheceram o esporte enquanto crianças, passaram a praticar como um passatempo e acabaram se beneficiando com isso. Lauana, jogadora de basquete há 12 anos, contou que o esporte era “modinha” em seu convívio social, e haviam aulas gratuitas no centro esportivo de seu bairro: “o basquete proporcionou várias coisas, a gente ganhou bolsa em colégio particular, fomos chamada pra jogar no Maringá, e então continuamos. Foi assim que eu comecei, que eu me interessei pelo que ele conseguiu me proporcionar”, ela afirma.

O currículo que os atletas precisam apresentar dependem da quantidade de jogos, torneios e campeonatos, porém as Bolsas disponibilizadas pelas secretarias de esportes não fazem distinção entre as modalidades masculinas e femininas: “de acordo com o seu currículo, se você participou de um brasileiro, se teve a oportunidade, você vai receber mais. Então acontece que, como os meninos jogam mais, o currículo deles é muito melhor e, consequentemente, tendem a ganhar mais”, comenta Amanda, também jogadora de basquete. Elas comentam que mesmo os homens que ficam no banco durante os jogos, recebem mais que as mulheres que jogam os 40 minutos representando suas equipes.

Instagram ADRM Maringá1

Time de basquete feminino de Maringá (Reprodução/Instagram ADRM Maringá)

O auxílio que os atletas recebem no começo é escasso: Amanda afirma que o dinheiro inicial quase não é o suficiente para pagar a passagem de ônibus para os torneios. As jogadoras, porém, acreditam que as coisas podem melhorar, assim como Batista: “a gente sempre vai tentando aumentar o valor e o número de bolsas e de modalidades, mas isso é um processo gradativo, então cada ano a gente procura melhorar” afirma.

Para ter acesso a Bolsa, Luís Henrique conta que não há segredo, e sim o treinamento: “para conseguir, os passos são resultados nacionais, estar entre os melhores ou o melhor do Brasil, e comprovar algumas coisas como participação em competições, treinamentos e planejamento anual”.

A matéria foi produzida antes da pandemia de Covid-19.