Necessário lembrar… Nas partes anteriores desse texto lidamos com a questão ambiental dentro do viés científico. Ou seja, procuramos apresentar, em termos gerais, a discussão sobre meio ambiente e mudanças climáticas diante daquilo que as ciências tem apresentado. Sugiro reler os outros dois textos caso fiquem perdidos, já que ficar perdido nesse mundo sem tutorial de Youtube é bem fácil.

A grande questão aqui, insisto nisso, é política. Mas não somente a política de partidos, do tipo “e o PT hein?”, mas política entendida em sentido amplo, que envolve diversos atores, sejam públicos, jurídicos ou físicos. Um cipoal, ou se preferir uma treta, que se desenrola em vários níveis.

Primeiro, grandes empresas, e aqui dê ênfase nessa ideia de “grande empresa”, pois estamos falando dos gigantescos conglomerados internacionais, os verdadeiros donos do globo, que têm marcas espalhadas por todas as partes do planeta. Não se trata, então, da padaria do bairro ou da fábrica de ração ou de frango, que tem em todo o lugar.

Muito embora, possivelmente essas, menos a padaria, sejam parte de um dos tentáculos dessas “grande empresas”, se tiver dúvida faça uma busca na internet sobre isso, vão surgir na sua tela vários mapas conceituais ligando uma cacetada de marcas a uma quantidade ínfima de empresas. Essas atrapalham qualquer pacto global em torno das mudanças climáticas. Você não vai ver editoriais e muito menos manchetes em jornais e revistas tratando disso, possivelmente são donas desses veículos de comunicação também.

Mas essas empresas atuam fortemente para inviabilizar qualquer acordo climático. Vejam… não se trata aqui de dizer “Não queremos isso” ou “Não assinaremos isso”, o jogo é outro. Essas empresas agem positivamente junto a esses acordos, aceitando as regulações, normas, objetivos e diretrizes. Por quê???

Por um lado, normalmente, esses tratados ambientais e climáticos em especial, vide Protocolo de Kyoto, fornecem uma base de obtenção de ganhos financeiros, a partir de mecanismos de compensação da chamada mitigação de carbono, o mercado de carbono etc.

O negócio então é o seguinte: essas empresas recebem financiamento de entidades internacionais, como a ONU, toda vez que apresentarem projetos que diminuíssem a própria emissão de carbono. E essa dinheirama não é pouca, está na casa das centenas de milhões de dólares por ano. Legal né? mas… Essa atividade mitigadora esconde o outro lado da moeda. Por vivermos em uma situação de facilidade produtiva espacial, ou melhor, não há mais a necessidade das fábricas estarem localizadas em determinada região para poder produzir, já que a expansão fabril encontra lugar em qualquer parte do mundo, essas grandes empresas vão mudando os locais das fábricas, em busca de regiões, países etc. que ofertem a maior possibilidade de poluir, de atuarem do jeito que acharem melhor, e nesse caso, dane-se o meio ambiente e o clima. É o sistema WIN-WIN, ganham com medidas ecológicas e ganham com a poluição.

O segundo grupo desse cipoal/treta são os políticos, esses de carteirinha. As empresas ao passarem um recado ambíguo sobre a questão ambiental/climática, levam a abertura para os “tomadores de decisão” fazerem o que bem querem. Na maioria das vezes isso significa não fazer nada, ou fingir que fazem. De fato, há um grande interesse no imobilismo, em aguardar alguma indicação clara do interesse industrial para agirem.

Vejam o exemplo dos EUA do final da década de 1990 até 2021. Os presidentes estadunidenses fizeram uma verdadeira montanha-russa em relação a aceitar/rejeitar os acordos climáticos internacionais. Isso não só representa uma linha ideológica sobre o caso, mas uma posição frente aos interesses econômicos. Quando favorável, já que o grande público empurra a pauta goela abaixo dos governantes e empresas, são assinados e estimulados os tratados. Agora se o público perde interesse, dane-se o clima e meio ambiente em geral.

O Brasil é outro caso de destaque. O país era um dos líderes globais nas questões ambientais e até mesmo climáticas, o código ambiental um dos mais modernos etc, temos até mesmo políticas públicas para as mudanças climáticas. Mas tudo isso foi sendo deixado de lado nos últimos anos, especialmente quando o petróleo voltou a ser o foco da matriz energética nacional, o governo atual praticamente excluiu a discussão sobre aquecimento global de sua agenda. Estamos perdidos.

O terceiro grupo nesse complicado jogo, somos nós, a sociedade. Aqui a explicação é fácil e vem na forma de pergunta. O que nós, coletivamente, temos feito em torno do problema? Economizado água e energia? Não utilizando canudo de plástico? Olha, tudo isso é importante, mas não resolve nada…

Na verdade, estamos sempre esperando uma solução dos outros dois grupos aí pra cima. Precisamos coletivamente, enquanto principais interessados e prejudicados, forçar os outros grupos a tomarem rumos que sejam realmente eficazes contra as mudanças climáticas. Mas isso sempre coletivamente, com ações em conjunto, sempre nos perguntando que futuro queremos deixar para o planeta todo.

 

#ParaTodosVerem – fotografia de Jaguara, Bahia, por José Neydson. Imagem horizontal, apresenta uma igreja pequena ao centro, num descampado. Na frente da igreja, ao longe se vê duas pessoas em suas bicicletas. Em primeiro plano, à esquerda uma árvore seca. A foto foi editada e foram incluídas linhas verticais e horizontais como se formasse um quadriculado. Em um desses quadrantes foi inserida uma imagem de uma mão segurando uma nota de 100 euros.