Texto escrito em coautoria com Bruna Possebon.
Em um contexto no qual os problemas ambientais estão cada vez mais escancarados, surgem propostas, de movimentos sociais, intelectuais e da sociedade civil organizada, que visam alterar as formas de enfrentamento dessa situação. Diante do acirramento da crise do meio ambiente, com as notórias evidências do colapso do mundo natural, tais como: derretimento de geleiras; acumulo de plástico em mares e oceanos; desmatamento e caça de animais em extinção, suas consequências são enfrentadas pelos movimentos ambientais e ativistas em geral.
A existência de um movimento social em torno da causa ambiental é justificada por seus objetivos, ou seja, frear as práticas danosas do sistema produtivo atual junto ao meio ambiente e propor uma nova relação entre humanos e não-humanos. Mas a atuação dos agentes sociais ligados aos movimentos ambientais tem se tornado, cada vez mais, uma função perigosa, especialmente no Brasil. Segundo a CNN, o país está em terceiro no ranking de mortes de ativistas ambientais e dos direitos humanos. Nesse sentido, por exemplo, as ações propostas por lideranças indígenas tais como Raoni Metuktire e Sônia Guajajara podem ser consideradas de extrema relevância no cenário atual. Parte das pautas defendidas por estes ativistas incluem a demarcação das terras indígenas e o combate ao garimpo ilegal.
Apesar das realizações práticas em defesa do meio ambiente serem de extrema importância, concomitantemente, outros conhecimentos emergiram com um enfoque mais teórico, como a educação ambiental e o ecossocialismo. Porém, nosso destaque aqui é o denominado ecofeminismo. O nome não deixa muito mistério, esse é um campo teórico que propõe aproximações entre os ideais feministas e as questões ambientais. A primeira ideia ecofeminista ocorreu na década de 70 com Françoise d’Eaubonne lutando pelo controle de natalidade. Em um contexto no qual a superpopulação era discutida socialmente e mulheres não tinham o direito de negar a seus maridos a escolha de terem filhos, apresenta-se o momento ideal para o nascimento desta teoria.
No entanto, o ecofeminismo não visa apenas aproximar a luta contra o patriarcado e a destruição do meio ambiente — se observarmos bem, veremos que a luta anticapitalista também pode ser sugerida neste contexto — mas que as teóricas ecofeministas consideram uma raiz comum entre esses dois tipos de opressão. Da mesma forma em que se ocorre uma diferença de hierarquia entre o gênero masculino e feminino, com as mulheres ocupando um espaço de submissas, a natureza também estaria dominada pela cultura (muitas vezes a ocidental). Ou seja, mulheres e natureza estariam no mesmo lado da moeda, enquanto homens e cultura no outro.
Diferentes autoras também sugerem que há uma conexão mulher-natureza e que esta emergiu de formas divergentes, podendo ter sido construída socialmente ou que até mesmo existe uma relação espiritual entre ambas as partes, unificando a mulher-mãe com a mãe-natureza. Apesar de pontos de discordância, as ecofeministas trazem luz a pontos não antes tão relevantes, como a vida e trabalho de mulheres camponesas e pobres. Outros pontos que podem ser analisados e amparados pelo viés ecofeminista são as movimentações dessas mulheres que enfrentam em conjunto — e é impressionante a quantidade destas agitações, especialmente na América Latina — situações como mineração em suas terras, mas também inúmeros casos do protagonismo feminino rural vivido por essas mulheres em diferentes áreas do mundo.
Para saber mais leia:
- What is ecofeminism? por Alicia Puleo;
- Ecofeminismo de Vandana Shiva e Maria Mies;
- Ecofeminismos: fundamentos teóricos e práxis interseccionais, organizado por Daniela Rosendo, Fabio A. G. Oliveira, Príscila Carvalho e Tânia Kuhnen; e
- Ecofeminismo e comunidade sustentável de Bárbara Nascimento Flores e Salvador Dal Pozzo Trevizan.
#ParaTodosVerem – a imagem de capa é uma montagem em que se lê o título da coluna “Meio ambiente, Política e outras drogas”, nas cores marron, preta e branca. O título é cercado por retângulos vazados em tons de marron. A imagem ao fundo é um rio com uma mata. Sobreposto pode-se ver a ponta de um lápis, como se desenhasse o leito do rio.