“A Voz Suprema do Blues” levou duas estatuetas do Oscar, por melhor figurino e melhor maquiagem. E de fato foi um trabalho excelente. No longa temos o ator falecido Chadwick Boseman, nosso eterno Pantera Negra e Viola Davis, uma grande atriz.

O filme é uma adaptação de uma peça do dramaturgo August Wilson. Contudo, Ma Rainey’s realmente existiu e foi uma grande cantora de blues nos EUA na década de 20. Assumidamente lésbica, ela impunha-se em uma sociedade machista e racista. Uma mulher de presença forte.

Além dos figurinos e maquiagem, atores excelentes e da história da personagem principal, esse filme mostra de uma forma muito perspicaz como o racismo exauri e adoece pessoas negras. Um dos personagens conta trechos de sua vida e nota-se como aquelas experiências afetam na sua vida adulta.

No decorrer da trama, a falta da valorização e talento dos artistas é notável, pelas falas, gestos e a própria percepção dos personagens negros. É válido ressaltar uma cena em que a Ma, personagem da Viola Davis, explica porque ela é tão exigente e soberba com seu empresário durante a gravação do disco. Ela sabe que só tem valor pra ele enquanto ele depende dela pra lucrar, depois da gravação do disco ele vai descartá-la. E ela entende que essa situação de uso ocorre em toda a sua trajetória de vida e carreira.

Foto: Divulgação/Netflix

Foto: Divulgação/Netflix

Entre os artistas temos o personagem do Chadwick, Levee, que durante o filme quer ter sua própria banda, mas é enganado ao ter suas músicas roubadas. Percebe-se que Levee tem um temperamento instável e que isso afeta sua vida pessoal e profissional. Essa instabilidade é decorrente de uma infância e uma vida adulta permeada por violência e injustiças.

Muitas pessoas que vivem em situação de violência constante ficam mais pré-dispostas a desenvolverem transtornos psiquiátricos, como síndrome do pânico, depressão, transtorno bipolar, transtorno de ansiedade, entre outros. Infelizmente, a população negra fica mais vulnerável. É maioria nas favelas, presídios, em situações de miséria e a que mais sofre violência.

Não é de se esperar que toda essa crueldade deixe transtornos psiquiátricos na população negra. O filme não trata de transtornos psiquiátricos, mas mostra como a violência adoece as pessoas e as tiram da realidade por alguns instantes. E como é cruel.

FrenteVale a pena ver o filme, dá para fazer várias reflexões, mas essa foi a que mais chamou a minha atenção enquanto assistia. Bom filme pra vocês.”

Fonte: Hospital Santa Mônica

Saúde Mental e Racismo Contra Negros: Produção Bibliográfica Brasileira dos Últimos Quinze Anos

Descrição das imagens #PARATODOSVEREM

Foto de capa: Uma mulher negra, de vestido azul escuro, com os braços levantados, como se estivesse dançando, na mão esquerda um leque azul, cabelo curto com uma faixa. Ao seu redor bailarinas dançando.

Foto do texto: Close de homem negro de bigode, olhando de lado, com a mão na gravata e usando um chapéu.