No mês em que se comemora o dia do Jornalista, em um momento no qual a checagem dos fatos e o cuidado com notícias falsas nunca foi tão importante, cabe lembrarmos de um não tão novo tipo de jornalismo que representa um reforço às práticas mais saudáveis dessa profissão: o Jornalismo de Dados (JD).

O JD é uma modalidade de produção digital de notícias que utiliza grandes bases de dados para elaborar peças de conteúdo noticioso focadas em correlações informacionais. Além disso, utiliza recursos gráficos e interativos para tornar mais agradável a experiência de visualização do consumidor de notícias. Por outro lado, demandam uma combinação de habilidades das ciências da computação, design, estatística, ciências sociais e análise de dados.

Apesar dos primeiros exemplos sobre a técnica datarem do ano de 1858, ou seja, muito anterior à internet, foi com a informatização das redações, a www e as Leis de Acesso à Informação (LAIs) que suas potencialidades passaram a ser efetivamente exploradas.

Estamos falando de novos modelos de narrativas. No Brasil alguns exemplos vêm do Nexo Jornal, Agência Publica, Gênero e Número, Volt Data, Folha de SP e algumas iniciativas independentes, como é o caso da reportagem Presos provisórios, danos permanentes. Essa última faz um apanhado sobre o quanto custa e qual a situação de um preso provisório no estado do Rio de Janeiro, uma pareceria do Instituto Sou da Paz e do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), com execução apoiada pela Open Society Foundations.

O jornalismo de dados é aquele que tem a base de dados como entrevistado

Na prática o caminho com a busca pelas bases de dados. Mas onde estão esses dados? Estão no Portal Brasileiro de Dados Abertos, no Índice de Dados Abertos FGV, no Comitê Gestor da Internet no Brasil (CETIC.BR), nas Secretarias de Segurança Pública e resguardados pelas LAIs. Só para citar alguns exemplos.

O segundo passo é o da contextualização. É preciso interrogar os dados, entender com quais informações eles se relacionam e seguir para sua limpeza, tratamento e apresentação. Essa última etapa é que exige um pouco mais de expertise técnica, buscando as ferramentas mais adequadas para extração e tratamento de dados, sua visualização e apresentação.

De toda forma a habilidade mais essencial à essa empreitada é o jornalismo. Como já li por aí, “JD é 80% suor, 10% boas ideias e 10% resultados”. A maior tarefa é pensar nos dados como um jornalista, não como um analista. O que é interessante sobre esses números? O que é novidade? O que daria para descobrir se juntasse esses dados com outros? Responder essas perguntas é o mais importante.

Veja abaixo mais exemplos de JD.

– Partidos recorrem a candidatas “fantasmas” para preencher cota de 30% para mulheres

– GPS Ideológico: análise do debate político no Twitter

– Gastos dos deputados estaduais 2019-2022 – Paraná

– 200 países, 200 anos

Fontes

BARBOSA, Suzana. Sistematizando conceitos e características sobre o jornalismo digital em base de dados. In: ________. Jornalismo Digital de Terceira Geração. Covilhã: Labcom – Universidade da Beira Interior, 2007, p. 127-154.

LIMA, S. Jornalismo de Dados no Brasil: tendências e desafios. In: SILVA, Tarcízio; STABILE, Max (Orgs.). Monitoramento e pesquisa em mídias sociais: metodologias, aplicações e inovações. São Paulo: Uva Limão, 2016, p. 279-299.

DESCRIÇÃO DA IMAGEM DA CAPA #PARATODOSVEREM:

Foto de capa: uma linha em formato de colméia, em um fundo preto com alguns favos escrito a palavra “data” e uma mão branca apontando para um desses favos em que há a palavra escrita.