Vinheta: Som (barulho de três batidas no microfone), testando,  (barulho de três batidas no microfone) está no ar mais um Comunicast

*música de abertura animada*

*transição para música de introdução mais moderna*

*Início da fala da locutora*

 

Cabeça: Fala galera, tudo bem? Estamos começando mais um Comunicast, podcast produzido pelo ComunicaUEM, um projeto de extensão do curso de Comunicação e Multimeios da Universidade Estadual de Maringá.

O ComunicaUEM é um projeto experimental que procura produzir materiais multimidiáticos sobre várias temáticas diferentes.

 

Introdução: No episódio de hoje vamos conversar um pouco sobre a inclusão de pessoas com deficiência no mundo da moda. Para isso trouxemos duas convidadas mais que especiais: a modelo e estudante Zannandra Fernandez, e a comunicóloga Renata Alexandrino.

Vamos começar nosso bate papo com a Zannandra.

 

B: Zannandra, nós do Comunica te conhecemos pelo Twitter devido seu trabalho como ativista PCD. Ao te acompanhar, descobrimos que você também é modelo e ainda é estudante! Você pode nos contar um pouco mais sua história? Quantos anos você tem, o que você pretende estudar, como sua carreira de modelo começou…

 

Z: Oi, tudo bem? Primeiramente eu queria agradecer o convite, uma honra para mim estar aqui. 

Eu sou de Cuiaba – Mato Grosso, tenho 18 anos, e esse ano de 2020 é meu primeiro ano como vestibulanda. Eu pretendo seguir carreira na área de humanas, eu me interesso muito pelo curso de Relações Internacionais e cada vez eu vejo a necessidade de ter mais profissionais com deficiência nessa área.

Então, a minha carreira como modelo nunca foi linear, desde muito nova eu sempre tive contato com esse mercado e cenário da moda e modelagem, mas por conta da minha localidade, de eu morar no centro-oeste, e também por conta da minha deficiência, eu nunca tive uma carreira estável. 

Sempre foi de altos e baixos, tinha época que eu tinha trabalho, que surgiam várias oportunidades, mas isso durava pouco. E a gente pode acarretar isso a diversos motivos como vocês podem imaginar.

E eu lembro que, quando eu era criança, diversas pessoas ligadas a moda chegavam nos meus pais, falando que eles deviam investir na minha carreira, porque eu era bonita e tinha perfil de modelo, só que quando eles viam que eu tinha uma deficiência e que eu não conseguiria desfilar de uma maneira que é esperado para uma modelo de passarela, essa opinião deles acabava mudando.

Em 2018 eu recebi o convite de uma maquiadora para modelar para ela. Bom, ela me conheceu através do Instagram e na época eu não tinha muitas fotos mostrando meu corpo e minha deficiência, então quando ela me convidou ela não sabia que eu era uma pessoa com deficiência.

Quando a gente se encontrou, quando chegou o dia, foi até engraçado a situação, porque era um local que não tinha acessibilidade nenhuma, um monte de escada, e ela ficou até bem apreensiva. Mas, foi na área da maquiagem que eu tive mais estabilidade, e hoje eu acredito que essa estabilidade neste cenário seja porque, a área da modelagem para maquiagem é uma área que minha deficiência não seja perceptível.

Tanto que eu já ouvi isso de outras meninas com deficiência e que também tiveram maior estabilidade no mercado da maquiagem.

 

B: Agora falando um pouquinho mais sobre moda. Sabemos que este mundo costumava ser um espaço com padrões estéticos bem rígidos e quase inatingíveis a serem seguidos. Porém, vemos uma mudança gradativa de inclusão de todos os corpos, como por exemplo nos desfiles da Rihanna e também com a implementação de cotas no São Paulo Fashion Week de 2020.

Você acredita que essa inclusão está sendo efetiva? Como você enxerga os corpos com deficiência dentro desse movimento?

 

Z: Bom, quando o assunto é mesmo esse cenário da moda, de desfiles, eu tenho um ponto de vista um pouco diferente do que a gente tá acostumado, que é um fato, de que realmente o mundo dos desfiles foi criado e ainda faz questão de manter, essa ideia de que é um padrão inatingível. Ele realmente está aí com a ideia de ser excludente.

Porém, quando se trata da moda inclusiva, eu consigo ver um cenário, um resultado muito mais interessante para nós (PDCs) quando se trata desses desfiles. Por que disso? Esses desfiles de moda são pensados com conceito, para quebrar a expectativa, independente de qual seja, então, quando nossos corpos são representados em desfiles de moda, eles são criados a partir da perspectiva dos nossos corpos, e é uma coisa que a gente não via com muita frequência.

Ainda não vê muito, principalmente quando se trata de desfiles mais comerciais, da moda voltada para o social.

Sobre o desfile da Rihanna, eu achei fantástico porque ela não só colocou corpos com deficiência como também diferentes deficiências, e não só corpos brancos, que é uma coisa que a gente tá muito acostumada a ver. 

Quando vemos campanhas publicitárias ou até desfiles, principalmente aqui no Brasil, são pessoas brancas e que se aproximam ao máximo de corpos padrões. E principalmente, nesse tipo de campanha a gente vê um tipo de deficiência apenas sendo representado, como se um único tipo representasse toda comunidade PCD, e não é assim, dentro das deficiências físicas há uma pluralidade muito grande, e nós conseguimos ver isso no desfile da Rihanna.

E sobre as cotas em desfiles como da São Paulo Fashion Week, eu acho muito interessante e necessário, principalmente vendo os resultados, porque a SPFW é um evento de grande peso e grande influência. Ver nossos corpos sendo representados nesse tipo de evento é muito importante e isso tem um impacto.

Eu sou muito a favor e acho muito bacana, principalmente quando vi os resultados e a figura da pessoa com deficiência foi colocada de uma maneira muito bacana, nossos corpos foram respeitados o tempo todo. Isso é algo muito importante de se ver em eventos que tem essa influência.

E como eu disse, eu consigo ver um resultado muito mais bacana da nossa inclusão nesse lado dos desfiles, do que na moda voltada para o social, que são roupas para eventos, por exemplo.

Eu trabalhei durante muito tempo nessa parte de eventos, como modelo comercial, já fiz eventos de noiva, lançamentos, e foram os cenários que eu encontrei maiores dificuldades. Não só em questão de estrutura mesmo, porque essas roupas não são pensadas para corpos como o meu.

Um evento em especial que me marcou bastante foi quando eu modelei de noiva, e eu acho que foi a roupa mais desconfortável que eu já usei em toda minha vida, e foi um ambiente que eu me senti mais desconfortável, porque eu não tava ali sendo vista apenas como uma modelo como as outras. Eu estava ali realmente como se meu corpo fosse público. É uma sensação muito ruim!

Tanto que depois vendo as matérias, eu fui o destaque do desfile, porque aqui na minha cidade corpos como o meu sendo visto nesse cenário não acontecem com frequência. E eu lembro que lendo as matérias a respeito do evento, fui colocada de uma maneira que eu considero bem desrespeitosa.

Dentro daquela narrativa, como se o evento tivesse feito uma caridade para mim, aquela velha narrativa de exemplo de superação, que sabemos que já está ultrapassada. Isso é uma coisa que eu vejo um avanço bem mais lentamente nessa perspectiva da moda, e isso é bem problemático porque, se corpos como o meu, continuarem não sendo vistos e pensados para eventos sociais, eu vou continuar sendo excluída.

Não ter roupas adequadas para mim, e ter essa narrativa nesses eventos, é justamente pelo fato de que o meu corpo não é esperado nesse tipo de situação. Não sou pensada como uma pessoa que vai se casar um dia, que vai ter uma formatura, e isso é muito problemático quando pensamos na raiz do problema, do porquê desse resultado.

 

B: Sei que você já citou alguns exemplos de acontecimentos que você vivenciou, mas agora o Comunica quer saber, como é a sua experiência como cadeirante no mundo da moda?

 

Z: Bom, como eu já disse antes, minha experiência no mundo da moda foi bem conturbada, cheio de altos e baixos, porém, atualmente eu to vendo que estou tendo experiências melhores. Mas, eu acarreto isso também ao fato dos meus posicionamentos.

Hoje como estou mais madura, tenho mais consciência do que eu posso aceitar e sei meus limites, sei que eu não tenho mais que ficar em situações desconfortáveis.

É claro que eu continuo dialogando, quando eu tenho a oportunidade de conversar com as marcas e eventos, para tentar mudar a narrativa. E eu faço isso. Porém, quando isso não acontece, eu não faço mesmo, hoje em dia eu me respeito muito mais, respeito os meus limites, e tenho que manter minha coerência.

 

 B: E agora que você consegue perceber um grande alcance de seus posts, tanto no Twitter como no Instagram, você começa a se entender como criadora de conteúdo para a Internet? Você sente uma responsabilidade maior pelo que produz nas redes agora do que antes?

 

Z: Olha, eu vou te confessar que eu ainda tenho muita dificuldade de me entender como “Influencer” e criadora de conteúdo. Porém, quando eu vejo o alcance que eu tenho, que tá crescendo cada vez mais. O impacto que eu tenho na vida das pessoas, principalmente as pessoas com deficiência, isso me deixa feliz, mas me deixa também muito nervosa por conta da responsabilidade muito grande.

Por conta do movimento PCD ainda ter pouca visibilidade, apesar de estar crescendo, quando alguém do movimento ganha um destaque maior, ele acaba sendo visto como um porta voz. Nossas falas, nossos posicionamentos acabam sendo vistos, principalmente por pessoas de fora do movimento, como se fosse do movimento.

O movimento ainda não é visto como uma pluralidade. A responsabilidade do que a gente fala e faz é muito grande, porque querendo ou não, se nós fizermos alguma coisa de errado não será só a gente que vai arcar com as consequências, e sim todo movimento.

É uma responsabilidade muito grande e que temos que tomar muito cuidado.

Eu ainda não tenho um alcance assim, “uau” muito grande, eu ainda tenho muito que crescer e amadurecer na vida, porém eu tenho consciência de que o alcance e visibilidade que tenho hoje, já impacta muito.

Diariamente eu recebo mensagens de pessoas com deficiência falando o quando eu ajudei elas, mas eu também recebo de pessoas que não tem deficiência e nem tem contatos com PCDs, mas que minhas falas e me acompanhar, ajudou elas a evoluir e a entender mais sobre a nossa causa, que as ajudou a entender mais sobre o nosso mundo. 

Então eu penso que um dia essa pessoa vai ter contato com um PCD e eu posso ter evitado uma situação desagradável para pessoa com deficiência, ou até ajudado a criar uma futura relação entre elas. Isso para mim é algo muito gratificante, mas também uma grande responsabilidade.

 

B:  E agora, para gente finalizar nosso papo com a Zannandra, queríamos saber de você. Quando falamos sobre criação de conteúdo, é imprescindível a discussão de transformar esse conteúdo em algo acessível a todos. 

Quais são ações efetivas que os meios de comunicação e os produtores de conteúdo podem adotar para transformar a comunicação e deixá-la mais inclusiva?

 

Z: Olha, esse é um assunto que, ao mesmo tempo eu vejo que muita gente tem o interesse e está cada vez mais buscando maneira de ter um conteúdo acessível, muita gente continua tratando a acessibilidade como algo opcional e um luxo da pessoa com deficiência, e não é assim!

Diariamente eu vejo influenciadores argumentando e continuando com esse pensamento de que não tem como, que a acessibilidade é algo muito difícil que só atrasa. E eu também vejo muitos influenciadores que se recusam, sabe? A acessibilizar e ignoram os pedidos.

Vemos diariamente influenciadores que têm todos os recursos possíveis, financeiros e de equipe, e que se recusam a legendar um vídeo, sabe? E o mais preocupante é que são pessoas extremamente influentes, com alcance muito grande.

Quando eles se recusam e continuam com essa negligência, eles estão influenciando pessoas que poderiam se conscientizar e começar a se importar com acessibilidade, e que vão continuar com descaso e achando que o PCD que se vire, porque “eu não tenho que acessibilizar nada. Meu conteúdo tá aí, eu vou fazer isso e você que se vire.”

É bem problemático, porque enquanto a gente podia estar discutindo maneiras mais eficientes ainda, cobrando marcas importantes e serviços de streaming, não. Nós temos que ainda ficar batendo na tecla da acessibilidade básica.

Mas, como eu disse, nós vemos muito criadores de conteúdo que estão começando agora que tem essa preocupação em ter um conteúdo acessível, e isso é muito bacana!

Quando falamos sobre maneiras de acessibilizar o conteúdo, independente do conteúdo que for, é muito importante mantermos o diálogo com as pessoas que vão usar aquele recurso. Não adianta nada eu vir aqui e falar milhares de maneiras de acessibilizar o conteúdo, se eu não tivesse o cuidado de falar com pessoas que vão usar o recurso.

O universo PCD é muito plural, então tem que ser entendido a necessidade de cada deficiência. E isso é algo que eu to vendo cada vez mais. Influenciadores que estão começando agora, e que tem cuidado de chegar em autistas e perguntar, onde eles encontram maior dificuldade em consumir o conteúdo. Chegar em pessoas surdas e perguntar qual a melhor fonte para legendar um vídeo.

Principalmente, estamos vendo cada vez mais programas e aplicativos que democratizam a acessibilidade, então, argumentos de pessoas desinteressadas, de que acessibilidade é algo caro e inacessível, não condiz mais com a realidade. As ferramentas de acessibilidade estão muito avançadas. Eu mesma legendo meus vídeos com aplicativos gratuitos.

É algo que estamos achando cada vez mais maneiras de tornar um conteúdo acessível. Mas, nem sempre a acessibilidade está ligada a ferramentas, por exemplo:

Tenho amigos autistas que reclamam que, a maior inacessibilidade que eles encontram em consumir um conteúdo, principalmente no twitter, é o uso de sarcasmo, ironia, asterístico que é uma moda lá. E que não são sinalizados.

É algo que vejo muitos reclamando e com razão, e não é uma questão financeira, não é uma questão de que necessita de ter ferramentas, não! É do diálogo, de você parar para conversar com pessoas neuro divergentes.Eu mesmo, hoje em dia, continuo usando da ironia, do sarcasmo, porém eu sinalizo. 

Nós encontramos diversos posts lá, que mostram como sinalizar, como tornar um conteúdo mais claro para pessoas neuro divergentes. É você entender a acessibilidade dentro de cada realidade, porque é como eu já disse aqui algumas vezes: o movimento PCD é extremamente plural, é muito diverso. 

O primeiro passo para ter um conteúdo acessível é entender essas realidades, e você só vai entender isso conversando com as pessoas dessas realidades.

 

B: Zannandra, eu gostaria de agradecer imensamente a sua presença e a disposição de estar participando do podcast conosco, sobre esse assunto tão essencial nos dias de hoje. Na verdade sempre foi né, mas agora está ganhando força e nós precisamos estimular e fazer chegar em todo mundo possível.

Agora, como nossa segunda convidada, temos a Renata Alexandrino, ela se formou no ano passado em Comunicação e Multimeios na Universidade Estadual de Maringá. E, seu tcc foi exatamente sobre moda acessível, sobre como trazer o mundo da moda para todos os corpos.

Re, você pode explicar para nós o que foi seu tcc, da onde surgiu a ideia e qual foi a sua motivação para trabalhar com uma moda mais inclusiva?

 

R: Meu trabalho foi um projeto multimeios sobre moda inclusiva, e a forma que eu escolhi falar sobre isso foi criando uma marca de roupas.

Ele aborda, além da moda inclusiva em si, estudos sobre comunicação e acessibilidade dentro do vestuário. Isso para eu entender e analisar como é feita, e se é feita, a inclusão dessa parcela da população no mercado da moda.

Foi a partir desses estudos que meu trabalho se desdobrou na criação de uma marca, que eu denominei de Rompa, que seria uma variação do verbo romper. Pensando também em uma abrangência maior de público, eu optei por fazer um e-commerce dessa marca.

Só explicando rapidinho sobre o projeto, a marca possui peças gerais, apresentadas através de uma coleção cápsula, nos tamanhos P, M e G. Mas, pensando na acessibilidade que eu queria trazer para marca, o e-commerce apresentava um campo para descrição da deficiência do cliente.

Essa descrição precisava ser feita de forma detalhada para que a roupa fosse adaptada para pessoa, visando o conforto e a acessibilidade. Dependendo da deficiência, a peça poderia apresentar diferentes modos de ser vestida e um caimento diferente.

Um exemplo é adicionar um zíper a mais na peça, um fechamento em velcro, ou algum revestimento a mais para quem usa prótese. Tudo isso considerando as questões estéticas, que não podemos deixar de lado quando falamos de moda inclusiva.

Essa ferramenta de descrição da deficiência foi a parte mais importante do projeto. Isso, porque cada deficiência é muito singular e específica de cada pessoa, e é impossível fazer uma modelagem que se ajuste em todos os corpos, e os deixassem confortáveis da mesma maneira.

De forma geral, cada peça do projeto era adaptada para cada corpo. Também era possível comprar as peças sem nenhuma customização, então todo mundo que quisesse comprar alguma roupa, poderia.

Só dando um exemplo, para ficar mais visual, uma das customizações que rolou no projeto foi a adição de um zíper a mais em uma calça. Isso seria algo que facilitaria muito, de acordo com minha pesquisa, a vestimenta da calça por uma pessoa que utiliza a cadeira de rodas, pois a abertura da calça ficaria bem mais ampla com um zíper de cada lado.

Então o projeto foi pensado nessas pequenas adaptações em roupas, que facilitariam o dia a dia de uma pessoa com deficiência.

A ideia surgiu de algumas pesquisas, eu estava querendo fazer alguma coisa para o projeto que envolvesse moda, então eu comecei a pesquisar alguns projetos que falavam sobre um desdobramento mais específico da moda. 

Nisso, eu encontrei alguns que visavam a produção de roupas para pessoas cega, e eu achei muito incrível esse tema e comecei a pesquisar mais assuntos relacionados. A partir disso, pensei em como ajudar outras pessoas que possuem alguma limitação na hora de se vestir.

A minha motivação vem do meu pai, ele é deficiênte físico, e além da questão específica do vestuário, por causa dele eu vejo diversas dificuldades que as pessoas com alguma deficiência física enfrentam no seu dia a dia.

Eu quis pensar em um projeto reduzisse, mesmo que de forma mínima, algumas dessas dificuldades que eles enfrentam. Eu encontrei essa forma de ajudar dentro da moda inclusiva e na adaptação das roupas que eu consegui trazer para o projeto e para marca.

 

B: Como Zannandra terminou de falar, o melhor jeito de entender qual é a necessidade para ser suprida, é conversando com as pessoas que queremos atingir. 

Re, você pode contar para nós como foi o processo da sua pesquisa para entender qual era a demanda que faltava? Como você entendeu as necessidades? Houve bastante troca com pessoas com deficiência?

 

R: Primeiro eu pesquisei sobre projetos já existentes que falavam sobre moda inclusiva, para eu começar a pensar em como se daria o meu projeto e como eu pensaria nesse assunto, que é complexo. Isso, junto com a minha orientadora que me ajudou bastante também a definir como se daria o corpo do projeto.

Depois desse primeiro contato com o assunto, eu selecionei algumas pessoas para fazer uma entrevista aberta, como um bate-papo mesmo, com algumas perguntas guias para conseguir as informações mais importantes para produção da marca.

Eu entrevistei algumas pessoas com diferentes deficiências físicas para entender como era a relação delas com a moda. Como elas consumiam, se elas iam até as lojas ou se preferiam comprar on-line, quais peças mais gostavam, quais era mais confortáveis e desconfortáveis, o que elas buscam em uma marca.

Todas essas informações eu precisei coletar, então essa parte de troca foi extremamente importante para o meu projeto, porque como eu não sou uma pessoa com deficiência, esse não é meu lugar de fala, eu precisei tomar muito cuidado com meu posicionamento. 

Tudo que eu fiz, desde as peças base até as adaptações e customizações, foram baseadas nas respostas e pesquisas que eu obtive nessa etapa. Foi dessa forma que eu entende as necessidades, e os entrevistados me relataram várias dificuldades diárias, na hora de se vestir.

Outra questão que eu me lembro muito, que foi uma resposta recorrente, foi a falta de acessibilidade nas lojas físicas e nos provadores. Foi um fator que me fez ir para o e-commerce também.

Mais uma questão bastante relatada e que me ajudou muito no trabalho, foram quais adaptações simples poderiam ser feitas para facilitar a vestimenta de uma peça. Eles trouxeram para mim e me falaram que eles comprava as roupas em loja, mas depois mandavam ajustar e adaptar em uma costureira.

Foi aí que eu tive o insight do trabalho, e pensei porque não oferecer essas customizações já na hora da compra, considerando que todos temos o direito de consumir moda, e de comprar uma roupa que me sirva bem, de forma confortável e bonita.

B: Enquanto você fazia suas pesquisas, você encontrou alguma outra marca de roupa que se preocupava com a acessibilidade também?

 

R: Durante a pesquisa eu encontrei algumas marcas sim, mas o que eu mais vi foram projetos de outros estudantes de moda que também visavam essa inclusão e adaptação.

Falando de marca mesmo, eu posso citar a Tommy, que possui várias coleções inclusivas, o que é incrível. Existe também uma marca chamada Aria Moda Inclusiva, que é totalmente voltada para esse público. E se eu não me engano, ano passado, em 2019, a Riachuelo fez uma coleção pensando em pessoas com deficiência física.

Mesmo sendo uma ação muito legal e importante, eu acho preocupante que grandes marcas levantem essa bandeira apenas uma vez, fazendo uma coleção, e depois não voltem a falar sobre isso e a fazer mais peças voltadas para esse público. Seria interessante e importante que essas coleções se mantivessem constantemente, e não um caso isolado.

Mas de forma geral, sim, há vários projetos incríveis sobre acessibilidade e moda, que valem a pena pesquisar, para pensar mais sobre esse assunto que afeta tantas pessoas..

 

B: E, como comentado com a Zannandra, conseguimos ver um movimento diferente acontecendo e ganhando força nos últimos anos no mundo da moda, que é um movimento mais inclusiva, com mais diversidade de corpos e pessoas. 

Você como amante de moda, como percebe essa mudança? Acredita que essa inclusão está sendo efetiva?

 

R: Sim, eu acredito que a inclusão está sendo efetiva. Essas mudanças que estão surgindo no mundo da moda, são extremamente relevantes, mesmo que seja uma mudança gradual e de certa forma lenta, é importante reconhecer a relevância dessas ações, tendo em vista que a pouquíssimo tempo atrás, a moda era uma área extremamente fechada e cheia de padrões.

É lógico que esses padrões ainda existem, e muito, mas aos poucos nós vemos essa mudança positiva acontecendo. Acho que as grandes marcas já perceberam que precisam acompanhar as mudanças do público, dos clientes e da sociedade em geral, e que não é mais possível manter aquele padrão de beleza inatingível que antes tínhamos.

Outro exemplo legal de lembrar, é o cancelamento do desfile da Victoria Secrets, que era um desfile extremamente icônico na indústria da moda, e que deixou de ter relevância justamente por pregar esse ideal de beleza estética que não condiz nenhum pouco com a realidade.

Eu acho que cada uma dessas ações são sim vitórias e importante, mas vale a pena falar que muitas marcas ainda precisam se adequar e pensar no consumidor e na pluralidade de corpos que existem. Isso vai desde oferecer tamanhos maiores de roupas, tecidos mais confortáveis, ou apresentar modelos reais em sua comunicação. 

As ações são inúmeras, e o público deve e já está cobrando isso da indústria.

 

B: Meninas, eu queria agradecer muito a vocês, pela participação das duas, pelo debate que tivemos. Esse assunto é mais que imprescindível e precisa ser abordado sempre que puder. 

Esse foi um Comunicast produzido por mim, Beatriz, para o comunicauem.
Você pode conferir mais peças sobre comunicação e acessibilidade e diversos conteúdos no site www.dfe.uem.br/comunicauem. Até a próxima

*música de finalização*