Domingo, 16 de agosto.
Hoje é domingo, acredito que seja por isso que a vontade de escrever um diário começou em mim. A gente sabe, né? Domingo, Fantástico passando na TV, aquele sentimento de profundo descontentamento dentro do peito sem nem saber explicar o porquê, pensando que minhas aulas voltam amanhã de forma remota… Tudo culminando para uma belíssima e teatral crise existencial.
Não sei se é necessário explicar, até porque não escrevo isto para alguém ler, mas vai que Eu de daqui alguns anos esqueça do que estamos passando. Hoje me encontro cursando o último ano da faculdade, no meio de uma pandemia global (acho que é redundância essa combinação de palavras) e quarentenada há mais de 5 meses, longe da presença de pessoas que não sejam minha família (outro ponto bem complicado diga-se de passagem).
2020 era para ser meu ano, eu tinha certeza que ia ser meu ano, pulei as sete ondinhas, fiz pela primeira fez as famosas promessas de fim de ano e até mesmo fiz uma listinha com coisas cabíveis e realizáveis que queria atingir. Minha organização e força de vontade para sair de um 2019 nada fácil e mudar minha vida em 2020 era capaz de mover montanhas. O problema é que 2020 foi é ano de ninguém, não sei se infelizmente ou felizmente (porque aí me serve de consolação) eu não estou nesse barco sozinha.
E como eu disse que minha vontade de fazer algo com 2020 era capaz de mover montanhas, aqui estou eu tentando criar qualquer coisa que queira sair de mim, despertar minha forma artista que nunca ficou muito acordada, e abrir esse espaço para despejar todos os sentimentos que possam vir a me acometer, principalmente agora que minhas aulas na universidade vão voltar. Não somente vão voltar, mas vão voltar de forma remota (não que tenha outra possibilidade, de novo, meio de uma pandemia e tal).
Queria que elas voltassem assim? Não. Acredito que vá ser uma boa experiência? Não. Mas vai ser alguma experiência, então sei lá, talvez registrá-la possa ser interessante.
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Terça-feira, 18 de agosto.
Pois bem, já comecei esse troço pulando o primeiro dia de aula, até pensei em escrever alguma coisinha fingindo que foi ontem, mas qual o ponto? Mentir para mim mesma para tentar encobrir a falta de comprometimento que eu já sei que existe em mim há muito tempo, parece piada.
Vamos lá: eu esqueci totalmente, depois de todo esse tempo só estagiando, como organizar minha rotina com o estágio e logo em seguida com a aula é algo que demanda um certo esforço. Nada impossível ou muito penoso, mas esforço esse que eu simplesmente não estava afim de fazer. Tudo bem, sem muitos problemas reais de início, primeiras duas aulas concluídas com sucesso e com o clichê de sempre “qual seu nome e qual área você quer seguir na comunicação? Vamos, todo mundo tem que se apresentar”.
Pode parecer que eu falo com um certo desdém, mas eu até que gosto bastante dessa parte, sempre descubro interesses de pessoas da minha sala que nem imaginava, e sinto um certo prazer também de ter um espaço para falar sobre mim e minhas possíveis aspirações (aqui caberia uma justificação por meio do meu signo, mas eu não sei absolutamente nada sobre isso).
O resumo desses dois dias não é aquelas coisas não. Foi estranho encontrar o pessoal por telas. Foi complicado manter minha conexão porque todo mundo aqui em casa está de teletrabalho, na batalha incansável de quem consegue puxar mais internet para si, e foi uma sensação esquisita de deslocamento, desconexão, no sentindo de não me sentir pertencente àquela aula. Algo realmente virtual e não real. Espero que isso passe.
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Segunda-feira, 24 de agosto.
Aparentemente aquela força de vontade que moveria montanhas não está conseguindo mover nem sequer um pequeno morrinho. Como falhei de novo em escrever aqui, combinei comigo mesma que não iria me botar mais essa pressão, se escrever uma vez na semana já tá bom, se escrever mais é lucro.
A primeira semana de ensino remoto se passou e eu não poderia estar mais grata com meu curso por ter a maravilhosa ideia de separar as matérias por módulos. Apenas três matérias concomitantes já me esgotam assim, fico imaginando os cursos que apenas replicaram o horário das aulas presenciais para dentro de uma tela e sinceramente não acredito que aguentaria.
Esse negócio de dar a liberdade para o aluno de poder trancar a matéria que quiser, ou até mesmo trancar o curso “sem perder o ano” é balela. Isso aqui tá longe de ser uma escolha, não conheço um que “escolheu” trancar alguma coisa, mas conheço vários que foram obrigados pelas circunstâncias a fazer isso.
Se fosse somente por mim, eu nunca que me submeteria a fazer meu trabalho final do curso (que não é TCC!!!) em condições como essa. Mas como é que eu faço com meu estágio, tendo que prolongar mais um ano inteiro “por escolha”? Como que eu lido com a pressão psicológica de estar “jogando um ano fora”? Como é que eles me colocam todos os alunos nessa posição de sujeito ativo quando na verdade eles não têm é força nenhuma para escolher alguma coisa?
Sei lá, hoje acordei muito brava porque é dia da matéria de TCC que não é TCC e eu tive que jogar toda a ideia que eu tinha fora para adequar o projeto ao nosso novo meio. Não quero adequar nada, queria esperar. Que saco.
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Sexta-feira, 28 de agosto.
Segunda vez na semana que escrevo aqui, podemos considerar então lucro! Na verdade, percebi que o que me motiva a vir aqui escrever é o grau de raiva que eu passo durante esse ensino remoto. Pois bem, hoje passei muita raiva. “As provas serão mais fáceis pelo ensino remoto” eles disseram, mas eu como uma boa aluna que prometi ser lá naquela listinha do Ano Novo, estudei muito mesmo ouvindo que “as provas são bem mais de boas no ensino remoto”. Estudei, estudei e tirei quanto? 5. Por que eu tirei essa nota? Porque estava “razoável e fraco”. Por que estava razoável e fraco? Pois eu também não sei, não tinha mais explicações.
Mesmo prestando atenção em todos os seminários dados pelos alunos (já odiava quando isso acontecia presencialmente, agora ter que ver aluno passando conteúdo que era para o professor passar por uma tela, dependendo da sorte da internet boa, para mim era o cúmulo), mesmo lendo todos os textos, eu fui razoável na prova. Tudo bem. Não acredito que essa seja uma raiva exclusiva do ensino remoto, mas tá aqui meu desabafo de hoje.
Frustrada, só consigo me sentir assim.
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Quinta-feira, 3 de setembro.
Essa semana foi difícil acompanhar as aulas, esse negócio de estágio em teletrabalho me deixou confortável de muitas formas. A principal claramente é poder manter o isolamento (mesmo achando que só eu ainda estou ligando para isso), mas esse negócio de ter seu trabalho em casa também te faz perder a noção de tempo e do espaço de lazer/estudo/trabalho.
Por ter as ferramentas do meu estágio integradas no meu computador, essa semana acabei fazendo mais que meu horário praticamente todos os dias, resolvendo muitos problemas que surgiam e eu simplesmente não conseguia fingir que não vi.
Presença eu não perdi nenhuma, mas se eu estava presente nas aulas de forma verdadeira? Infelizmente não. Perdi boa parte do conteúdo das minhas aulas por isso, e de novo, estou me sentindo frustrada.
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Segunda-feira, 7 de setembro.
Amanhã eu entrego o pré-projeto do meu não TCC, eu tô tão insegura, eu gostei do que escrevi, acho que gostei do resultado final, mas não tive uma orientação individual, e se tudo que eu fiz estiver simplesmente horrível? Irrealizável? Fraco? E se toda minha ideia for só meia boca e o professor perceber o quanto eu sou uma pessoa mediana? Conversei com a minha psicóloga sobre a minha necessidade de aprovação dos outros, beleza agora sei que tenho esse problema, mas e aí? Como que eu resolvo? Enquanto eu não descubro, todas essas perguntas anteriores ficam me comendo viva.
Eu só queria uma palavrinha de afirmação, só uma orientação para eu não entregar esse projeto às cegas, confiando apenas no meu potencial (que potencial?????).
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Terça-feira, 8 de setembro.
Postei meu pré-projeto no Classroom e seja o que Deus quiser.
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Quinta-feira, 10 de setembro.
Não sei se comentei aqui, mas tenho uma péssima habilidade em me concentrar assistindo lives, ouvindo podcasts, palestras online e, por consequência, as próprias aulas também. Não sei por que, mas a tela não me permite focar. Pois agora o problema foi (parcialmente) resolvido! Descobri que consigo focar muito mais no conteúdo que estou ouvindo se estou fazendo outra coisa com meu corpo, por exemplo: limpando a casa.
Agora, quando dá a hora da aula, eu ligo o notebook na caixinha de som e começo a fazer minha faxina com a voz da professora de fundo, e… Nossa! Como eu estou absorvendo as coisas! Dou uma paradinha na arrumação para fazer um comentário vez ou outra, e como por um milagre estou conseguindo ler os textos antes da aula, a questão de anotar o que se é dito não está me fazendo muita falta.
Fiz esse novo método já em duas aulas e aproveitei bem mais. Estou animada agora, mas já sinto que isso não vai durar muito e, com certeza, esse meu método tem data de validade. Eu odeio meu cérebro. Por que ele me faz pensar que algo que acabou de dar certo já não vai dar mais?? Não me dá uma folga. Se eu pudesse eu fugiria de mim algumas vezes.
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Domingo, 20 de setembro.
Meu cérebro me venceu. Minha dispersão não está mais sendo resolvida por absolutamente NADA. Eu tô cansada, é domingo e nem um filminho eu consigo aproveitar, porque eu só não queria estar frustrada. Frustrada com esse ensino remoto, frustrada ao ver todo mundo saindo como se não houvesse mais quarentena (será que houve algum dia mesmo?), frustrada porque esse era para ser meu ano, frustrada porque meu cérebro é maluco e gosta de me sabotar em tudo. Frustrada.
Eu odeio muito domingo e não me importo o quão clichê isso pareça ser.
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Quarta-feira, 23 de setembro.
Não comentei aqui, mas fui bem no meu pré-projeto! Talvez eu devesse começar a confiar um pouco mais na minha capacidade, vai que eu sou razoavelmente boa, ao invés de só razoável como me definiram naquela prova…
O sossego não veio com a nota, porque em duas semanas já tenho que entregar o projeto completo. O ensino remoto comeu meu tempo e agora eu não posso mais procrastinar, eu odeio demais ele por isso.
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Sábado, 03 de outubro.
Esqueci que isso aqui existia, confesso. Acho que minha vida entrou em uma rotina meio chata demais para ficar documentando tudo também, porque fui reler os outros dias e é sempre eu vindo aqui reclamar das mil coisas que estão de errado no mundo e não sei o quão relevante isso esta se tornando, nem para mim do futuro, nem para registro desse tempo, até porque sei que estaria reclamando igual mesmo sem a pandemia. Acho que é meu hobby reclamar das coisas, sou uma pessoa reclamona.
Vou tirar o dia hoje para ler meus textos atrasados e tentar dar um jeito nas minhas coisas da faculdade, vai que o problema na verdade sou eu e não o ensino remoto?
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Domingo, 04 de outubro.
IMPOSSÍVEL não ser uma pessoa reclamona com esse governo no poder. Cansada para falar mais que isso, mas agora me eximo da culpa de reclamar muito e coloco ela inteiramente nas nossas instâncias governamentais.
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Quinta-feira, 15 de outubro.
Tive essa semana de “férias” da faculdade e queria MUITO ter descansado, ao invés disso, me atolei de coisas extras para fazer no estágio. Estagiário de comunicação é explorado demais. Na verdade, qualquer estagiário em qualquer área acredito que seja, né? Para falar bem a verdade, na verdade, todo trabalhador é.
Queria derrubar o capitalismo.
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Segunda-feira, 19 de outubro.
E vamos de segundo módulo (será que consigo colar aqui a figurinha que eu quero?)
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