Um estudo recente realizado pela Catho (empresa de tecnologia que funciona como um classificado online de currículos e vagas com diversas ferramentas e soluções de recrutamento) com mais de 7 mil participantes por todo o Brasil, afirma que 65% dos profissionais realocados para trabalhar em home office (teletrabalho), estão aproveitando o tempo de quarentena para realizar outras atividades remotas que agreguem em suas carreiras.
“Cada profissional, a sua maneira, está descobrindo formas de equilibrar o momento. Alinhado ao turbilhão de mudanças, muitos também têm procurado se qualificar profissionalmente, já vislumbrando um cenário pós-pandemia, onde os mais preparados sairão na frente”, diz Ricardo Morais, gerente sênior de marketing da Catho.
Segundo o levantamento, 54% fazem pequenos cursos on-line, 52% estão atualizando seu currículo e/ou portfólio, 45% têm buscado cursos de qualificação, 28% participam de palestras, webinars e/ou workshops e 27% estão aprendendo um novo idioma.
A partir dos dados expostos, uma pergunta nos surge: quais profissionais são esses que em meio a uma crise global e econômica conseguem ser tão produtivos? Todas as realidades permitem com que quem as vivem tenham esse mesmo desempenho? A saúde mental não é comprometida em detrimento a tanto desejo de produtividade?
Uma pesquisa do Ipea 2018 (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) aponta que o Brasil apresenta desigualdade total de renda de 51,5%, e em nosso país, mais de 27% da renda está nas mãos de apenas 1% da população. A extrema pobreza no Brasil, de acordo com o IBGE, já atinge 13,5 milhões de pessoas que sobrevivem com até 145 reais mensais. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Tecnologia da Informação e Comunicação (Pnad Contínua TIC) 2018, divulgada pela IBGE, revela que 1 em cada 4 brasileiros não possuem acesso à internet. Isso reflete cerca de 46 milhões de brasileiros que não acessam a rede e seus conteúdos.
Uma sondagem feita pela Vittude, plataforma on-line voltada para a saúde mental, aponta que 86% dos entrevistados sofrem com algum transtorno mental. 37% das pessoas estão com stress extremamente severo, enquanto 59% se encontram em estado extremamente severo de depressão. A ansiedade extremamente severa atinge níveis ainda mais altos: 63%. O levantamento considerou a resposta de 492.790 pessoas, entre 4 de outubro de 2016 e 23 de abril de 2019.
Desde 24 de março, quando teve início a quarentena por COVID-19, os registros de violência doméstico aumentaram em 30% na cidade de São Paulo, um dos epicentros da doença no país. “Os pedidos de ajuda aumentaram”, disse à AFP a diretora do Instituto Nacional das Mulheres do México (Inmujeres), Nadine Gasman. As denúncias também cresceram 60% na Rede Nacional de Refúgios e a acolhida de vítimas aumentou em 5%.
Todos os dados acima contrapõem a visão de valorização da produtividade na quarentena que os dados citados no início do texto trazem, e nos fazem abrir o olhar para as diversas realidades paralelas que coexistem no Brasil durante a pandemia. A vida de pessoas LGBTQI+ que convivem com as famílias homofóbicas, as mães que além de trabalhar home office tem a dupla jornada com os filhos e a casa, as pessoas com algum transtorno mental que estão tentando não se deixar abalar com a pressão psicológica causada pela quarentena, as pessoas que moram sozinhas e tem de lidar com a solidão, os entregadores e os motoristas que trabalham com aplicativo de corrida que não podem parar para manter a renda.
Pensando em todas essas diferentes realidades, o Comunica irá trazer uma série de entrevistas tentando ao máximo retratar como está sendo o período de quarentena para cada uma delas. A sequência de posts fará parte de uma produção especial chamada Covid19 e você poderá encontrá-los pela tag #covid19. Fiquem de olho para descobrir qual será nosso primeiro tema!