Pela primeira vez desde sua criação, em 1995, a Victoria’s Secret não contará com o seu famoso Fashion Show. Após muitas especulações, a marca de lingerie e outros produtos de beleza, confirmou que o desfile foi cancelado para o ano de 2019. No início do ano já havia sido anunciado que o desfile não passaria na televisão, por conta da queda de audiência dos últimos anos. Em 2010 10,4 milhões de telespectadores assistiram ao Show, já em 2018 esse número caiu para 3.3 milhões. Lembrando que ele é transmitido na TV desde 2001. Em novembro, o grupo L Brands, que comanda a grife, anunciou que o desfile realmente não iria acontecer neste ano, e que a equipe está “reavaliando as mensagens que quer passar como marca”. Confira abaixo um vídeo de um dos segmentos do desfile de 2018:
Não só o Fashion Show da Victoria’s Secret tem perdido sua audiência, como também as vendas da marca tem caído no mercado. O que também contribuiu para o cancelamento do show. Não é novidade para ninguém que a marca representa e reafirma estereótipos de padrões irreais de beleza, com seu casting de modelos que se nega a incluir diferentes corpos e estilos em suas fotos e passarela. No ano passado, o diretor de marketing da L Brands, Ed Razek, deu a seguinte declaração: “É como, por que seu programa não faz isso? Você não deveria ter transexuais no programa? Não, acho que não devemos. Bem, porque não? Porque o show é uma fantasia. ” Além da fala transfóbica do Diretor, ele utilizou do mesmo argumento para dizer que ninguém tinha interesse em modelos plus sizes no desfile. Com a repercussão negativa que a fala trouxe ao nome da marca, as redes sociais da grife postaram uma nota de desculpas assinada por Ed Razek.
Esse ano, com toda a imagem negativa que estava circulando a marca, após a fala polêmica do diretor e a queda nas vendas, a Victoria’s Secret pareceu ter dado um passo para aumentar a diversidade de seu cast, a label escalou a primeira modelo transexual para trabalhar na marca. A escolhida foi a brasileira Valentina Sampaio. E mais tarde nesse mesmo ano, para estrelar uma campanha em parceria com a marca britânica Bluebella, a modelo plus size Ali Tate-Cutler foi uma das escolhidas. Com as pequenas mudanças, Razek deixou o cargo, e decidiu se aposentar.
- Ali Tate-Cutler para campanha da marca Bluebella Foto: Instagram
- Valentina Sampaio para Victoria’s Secret Foto: Zoey Grossman
O retrato hipersexualizado das mulheres representadas pelo casting da marca parece não ter o mesmo apelo que tinha antigamente. Hoje, com toda a discussão sobre representatividade e diversidade, os compradores tendem a procurar por tamanhos, conforto e uma identidade de marca com base no empoderamento feminino. Parece que o público alvo da marca simplesmente não está mais interessado em manter os padrões estreitos de beleza aos quais a Victoria’s Secret está associada. Por isso marcas como a Savage X Fenty de Rihanna, tem ganhado ainda mais espaço no mercado, com um marketing certeiro e uma campanha esbanjando inclusão, além de, um desfile recheado de estrelas e muita representatividade nas passarelas, diferente do Fashion Show da Victoria’s Secret, que teve seu cancelamento, o desfile da Savage X Fenty foi um dos mais comentados e de maior sucesso desse ano.

A cantora Normani foi escolhida por Rihanna para ser a primeira embaixadora da linha de lingeries Savage X Fenty Foto: Singersroom
No final desta década nunca se discutiu tanto sobre diversidade, inclusão e representatividade, o que virou uma pedida constante do público. Isso passou a ser uma exigência das novas gerações. No entanto, a Victoria’s Secret parece ignorar que a sociedade passou por mudanças, e isso fez a marcar ficar para trás. As consequências da insistência em um casting pouco diverso chegaram, justamente em um momento de valorização da diversidade no mundo da moda, ao qual a marca não acatou. Para voltar a ser a vitrine do mundo das lingeries a marca precisará se reinventar e atender as demandas do público, ou será substituída pelas novas marcas.
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