Jean-Michel Basquiat (1960-1988) foi um artista neo-expressionista e grafiteiro estadunidense que se tornou o primeiro artista de origem afro-americana a fazer sucesso nas artes plásticas em Nova York. Seu pai era haitiano e sua mãe porto-riquenha, ambos migrantes nos Estados Unidos. Construíram suas vidas no Brooklin, NY, onde o jovem Basquiat cresceu. Desde os 3 anos possuía aptidão para as artes desenhando caricaturas e personagens de desenhos animados. Ainda quando criança, sua mãe costumava o levar para visitar os museus, introduzindo-o ao universo artístico. Aos 8 anos, Basquiat foi atropelado por um carro e obteve várias lesões, enquanto se recuperava sua mãe lhe deu o livro Gray’s Anatomy, cuja leitura influenciará suas obras tempos depois. Iniciou o ensino médio, mas não chegou a concluí-lo. Aos 18 anos, saiu de casa para morar com amigos e acabou por vender pinturas em camisetas nas ruas de Nova York.

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Basquiat numa de suas exposições/Google Imagens.

Conheceu o grafiteiro Al Dias na escola, com quem se tornou amigo e passou a grafitar nas ruas assinando suas obras como “SAMO” (Same Old Shit). Juntos grafitavam aforismos e poemas filosóficos, atacando o sistema de valores da sociedade materialista. Seus grafites estavam presentes em diversas ruas da grande cidade e acabaram se tornando conhecidos. A época em que grafitavam surgia o Hip Hop, Rap Music e o Break Dance que estavam intimamente ligados ao grafite. Nos anos 1980, Nova York era muito diferente do que é hoje. Nesse tempo, havia acabado de passar por uma crise, dessa forma era marginalizada e perigosa. Não era gentrificada como agora e possuía um cenário artístico e cultural inovador e cheio de personalidade. Então, este ambiente foi propício para o surgimento de artistas com estilo urbano, como Basquiat. As paredes do metrô, dos grandes edifícios de Nova York e os muros se tornaram sua principal tela. Nelas, por meio do SAMO, o artista poderia expressar seu pensamento a respeito da sociedade e tecer uma crítica a respeito da religião, hipocrisia e discriminação.

“Bonito Oliva diz que: “O ‘grafitismo’ é um fenômeno típico das grandes cidades americanas, habitadas por minorias de cor, que se exprimem por meio de um código extremamente sintético, que, paradoxalmente, deriva das vanguardas históricas: futurismo, dadaísmo e surrealismo.” (1998, p. 60). É por meio dessa linguagem que se concretizam em seus trabalhos muitas referências da rua: a presença de carros, prédios, aviões, vassoura, caixas, armas — uma herança de sua vivência diária nas ruas.

O fato de estar na rua ofereceu-lhe uma forma muito diferente de “fazer arte”: ao mesmo tempo em que conhecia a dita “arte erudita”, estava também em contato com a “arte urbana”, e o graffiti parece reunir essas esferas.” (Daniele Lima, Indócil e Indizível)

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Um grafite assinado por SAMO/Google Imagens.

Artista caótico como ficou conhecido, Jean-Michel Basquiat dormia nas ruas e abusava das drogas. Mesmo após o fim de SAMO, em que surgiram nas paredes de Nova York grafites como “SAMO is dead”, a sua arte não se dissociava das ruas. Temas associados a sua inquietação com a vida urbana permaneceram nas suas telas após ter conhecido Andy Warhol que o introduziu ao mundo das grandes galerias e exposições de arte. Suas pinceladas frenéticas e os temas carregados de expressões angustiadas e assustadas refletiam o seu  estado psicológico. Além disso, utilizava suas obras para expressar seu descontentamento de uma vida cercada por discriminação. Desde jovem passou por episódios de preconceito e, mesmo depois de conquistar reconhecimento e fama, continuou se deparando com racismo. O cenário da arte era predominantemente branco, desse modo Basquiat era um dos poucos artistas negros a conquistar espaço nesta área, sendo citado e lembrado frequentemente por esse fato. Como diz em um de seus obituários, “Basquiat seria o único artista negro a sobreviver ao rótulo de grafiteiro e a encontrar um lugar permanente como pintor negro no mundo artístico branco”.

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Pássaro no Dinheiro (1981)/Google Imagens.

”A coroa, motivo artístico de assinatura de Basquiat, reconhecia e desafiava a história da arte ocidental. Ao adornar figuras negras do sexo masculino, incluindo atletas, músicos e escritores, com a coroa, Basquiat elevou esses artistas historicamente desprivilegiados à estatura real e santa. “A coroa de Jean-Michel tem três picos, para suas três linhagens reais: o poeta, o músico, o grande campeão de boxe”, disse seu amigo artista Francesco Clemente.” (Equipe Editorial, Arte Ref)

Cavalgando Com a Morte (1988)/Google Imagens.

Cavalgando Com a Morte (1988)/Google Imagens.

Após conhecer Andy Warhol num restaurante, começou a pintar telas que seriam comercializadas nas grandes cidades do mundo, como Tóquio, Zurique, Los Angeles, entre outras. E assim o jovem artista se tornou conhecido pelo mundo. A arte de Jean-Michel Basquiat possuía um caráter único, com desenhos anatômicos de caveiras, rostos apavorados e máscaras aliados a um caráter infantil. Ficou rapidamente conhecido no mundo da arte por sua proposta inovadora que lhe concedeu status de gênio. Além de o artista fazer críticas fortes ao poder, colonialismo e conflito de classes, também criticava o passado racista dos Estados Unidos, incluindo a violência exercida pelos policiais. Em sua obra Ironia do Policial Negro (1981), Jean-Michel Basquiat satirizou o fato de um homem negro juntar-se a uma instituição que exerce uma brutalidade sobretudo aos cidadãos negros.

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Ironia do Policial Negro (1982)/Google Imagens.

“Ele já levara seus trabalhos explosivos a galerias em mostras solo aclamadas pela crítica – uma fusão punk de neo-expressionismo e primitivismo, com cores fortes, pinceladas maníacas e rostos e corpos esqueletais. Sua arte (milhares de pinturas e desenhos), suas palavras, seu corpo, até mesmo seu cabelo, em pouco tempo passaram a integrar os próprios alicerces da cultura pop da época.” (Katherine Brooks, HuffPost US)

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Andy Warhol e Basquiat pelas lentes de Lizzie Himmel.

Após a morte de Andy Warhol em 1987, Basquiat começou a exagerar no consumo de drogas e morreu de overdose aos 27 anos em 1988. Em 1994, o filme Basquiat: Traços de Uma Vida estreou nos cinemas contando a trajetória do grande artista. Nele foram retratadas a sua relação com as drogas, os momentos que saía de casa para viver nas ruas e sua relação com pessoas essenciais na sua vida, como Andy Warhol e Al Dias, além de retratar a importância da arte na vida de Basquiat, como ela era a exposição de seus sentimentos mais íntimos. Em vários momentos do filme, é representada a dependência que o artista possuía pelos entorpecentes para conseguir expressar-se. Quando em abstinência, o artista não conseguia produzir suas obras com a mesma intensidade e emoção. Enfim, a vida de Jean-Michel Basquiat, embora curta, foi intensa e repleta de eventos marcantes. Assim, se você se interessou pelo artista não deixe de conhecer melhor as suas obras ou ver o filme sobre sua vida, estrelado por Jeffrey Wright, Benicio del Toro, David Bowie, Gary Oldman e outros grandes artistas.

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Google Imagens.


Fontes:

HUFFPOST

CULTURA GENIAL

ARTE REF

INDÓCIL E INDIZÍVEL