Desde que o mundo é mundo, os animais estão muito presentes na vida do homem, seja na era das cavernas com as caças, como no Egito Antigo em que os deuses tinham representações animalescas, além do período medieval com o uso de animais para o labor e até hoje, em que eles estão cada vez mais próximos emocionalmente do homem, sendo domesticados e criando relações de carinho e amor. Não é raro conhecer pessoas que consideram os seus pets como parte da família e tem uma dedicação em tempo integral, em busca do bem-estar e conforto do seu bichinho. Para esses indivíduos, os animais fazem um bem enorme em suas vidas, uma vez que trazem alegria para o dia-a-dia e são companheiros fiéis, independente do humor e disposição do seu dono.
Estas características dos animais e o bem que eles geram para os seres humanos, impulsiona, cada vez mais, para que os pets sejam inseridos em outros campos da vida do homem. Já foi comprovado que os bichinhos colaboram diretamente na melhora do quadro de saúde, seja físico ou mental, de pacientes, além de serem o diferencial no tratamento de diagnósticos de doenças. O Comunica foi atrás desses animais do bem e encontrou projetos incríveis em Maringá, como o Amicão, um projeto piloto, e o Rédeas da Vida, desenvolvidos pela APMIF São Rafael.
- Projeto Rédeas da Vida. Foto: Maria Eduarda Oliveira e Mariana Manieri
- Projeto Amicão. Foto: Maria Eduarda Oliveira e Mariana Manieri
A Mila é uma golden retriever que, junto de sua filhote Bendita, fazem parte do projeto Amicão. Ambas participam, semanalmente, de sessões de terapia com crianças que possuem dificuldade de aprendizagem de escrita e leitura e o objetivo dessa integração é que os pequeninos possam ler para as cachorrinhas. Segundo a Andressa Lima, que é bióloga, educadora especial e uma das coordenadoras do projeto, a ideia veio quando ela teve contato com esse método em São Paulo e tomou conhecimento de que ele também já era aplicado em Santa Catarina, além de ser muito comum nos EUA, especialmente em escolas da Califórnia.
A bióloga fez um curso específico, para replicar essa metodologia na APMIF São Rafael, no INATAA – Instituto Nacional de Ações e Terapia Assistida por Animais, o qual é uma ONG que proporciona a idosos e crianças doentes a melhoria na saúde física, emocional e mental através dos benefícios terapêuticos da relação homem-animal. Eles possuem três tipos de interações assistidas por animais: a terapia assistida, a atividade assistida e a educação assistida, sendo esta a usada aqui em Maringá. Andressa também explica: “Os cães precisam passar por uma higienização antes de vir, então a higienização da boca e das patinhas da Mila, além de um acompanhamento regular com veterinário e adestramento. É fundamental que o animal seja dócil e obediente e que o médico veterinário possa dar o aval das questões de saúde do animal.”.
- Participantes do Projeto Amicão durante as sessões.
- Fotos: Maria Eduarda Oliveira e Mariana Manieri
A técnica usada no projeto Amicão é nada usual, mas possui uma explicação muito plausível: os animais não julgam. Muitas crianças possuem dificuldade de ler ou de escrever, pois se sentem intimidados com os colegas da mesma idade, pelo desenvolvimento destes, ou até mesmo por pessoas mais velhas, que cobram e pressionam o aprendizado. Com os animaizinhos e suas demonstrações de carinho, os participantes do projeto se sentem à vontade para realizarem uma leitura em voz alta e para explorarem os livros, sem medo de sofrerem repressões ou julgamentos.
Em nossa visita, acompanhamos as sessões de três crianças e, antes mesmo do início, os meninos já se encontravam super empolgados pela visita da Mila. Em cada uma das sessões foi perceptível como eles estavam mais desinibidos e mais motivados para terem um contato com a leitura e dividir esse momento com a golden. A psicóloga Denise, a psicopedagoga Simone e a fonoaudióloga Karen, as quais são também responsáveis pelo projeto, possuem a mesma opinião: a Mila e a Bendita agregam muito para o desenvolvimento e evolução dos pequenos. Confira um trecho do momento de leitura de um dos participantes:
O Rédeas da Vida é mais um dos diversos programas que a APMIF São Rafael proporciona à comunidade externa. Iniciou-se em fevereiro de 2018 e teve seu encerramento no final do mês de agosto de 2019, ocorrendo em uma área dentro do Parque Internacional de Exposições Francisco Feio Ribeiro, em Maringá. A ideia central do projeto é a equoterapia, ou seja, a terapia feita com cavalos e que tem como objetivos gerais: o desenvolvimento da assertividade, da empatia e de habilidades sociais, bem como o controle de impulsos e da consciência emocional e cognitiva, além do aprimoramento da mobilidade. A psicóloga do projeto, Melina Gasparoto, conta que todos que trabalham nele possuem uma formação de base com a especialização em equoterapia. Além dela, quem também está envolvido no projeto é a fisioterapeuta, Marisa Tupan, a fonoaudióloga, Ana Paula Labigalini, o médico veterinário, Otávio Marchese e a já mencionada Andressa Lima, que é psicomotricista.
- Um dos cavalos do Rédeas da Vida e o espaço utilizado.
- Fotos: Maria Eduarda Oliveira e Mariana Manieri
Gasparoto ainda ressalta que: “A equoterapia é indicada para muita gente, tem poucas contraindicações, sendo estas relativas ou absolutas. Para a pessoa começar o tratamento é necessário uma avaliação médica, por conta do movimento que o cavalo faz, ela precisa estar atenta a isso, logo pode ser perigoso para pessoas que são convulsivas ou para crianças com Síndrome de Down que ainda não formaram por completo uma vértebra do pescoço que auxilia na sustentação da cabeça. Porém, para a maior parte, a equoterapia é indicada. Eu como psicóloga atendo diversas crianças autistas, muitas com paralisia cerebral, com síndromes variadas ou que sofreram algum acidente, e também pacientes ligados às questões psicoterapêuticas.”. São utilizados cavalos terapeutas, os quais são trabalhados todos os dias da semana e pelo menos em um dos dias passam por um treinamento específico, são vacinados, com controle sanitário rígido.
- Dinâmicas entre os participantes do projeto.
- Fotos: Maria Eduarda Oliveira e Mariana Manieri
O Rédeas da Vida é direcionado para o progresso biopsicossocial dos integrantes, os quais são pré-adolescentes e adolescentes, que desenvolvem com o cavalo uma relação de afetividade, funcionando como agente reabilitador nos mais variados eixos da vida dessas pessoas, incluindo os fatores motivacionais, psicológicos, motores, sociais, além de propiciar o trabalho colaborativo em grupo, que visa à cooperação entre os participantes. A partir dessas dinâmicas, há a exercitação da memória, da organização, da concentração e dos aspectos da psicomotricidade fina, o que, por sua vez, contribui também para a vida escolar e aprendizado desses jovens. A equoterapia foi reconhecida como método terapêutico pelo Conselho Federal de Medicina em 1997. E mais de 20 anos depois, em maio de 2019, a sua regulamentação foi sancionada no Senado, proposta encabeçada pelo senador paranaense Flávio Arns.
Isso tudo mostra como os pets podem ser muito mais do que animais de estimação, mas também o diferencial na recuperação, desenvolvimento e bem-estar dos seres humanos. O vereador Flávio Mantovani trouxe mais um pouco dessa proposta para Maringá, por meio de seu Projeto de Lei n. 15.005/2019, o qual autoriza a entrada de animais domésticos em hospitais de Maringá, em visitas para pacientes internados. Esta metodologia já é aplicada em diversas cidades do Brasil e muito comum em São Paulo, colaborando diretamente na recuperação dos pacientes, uma vez que é um alívio no ambiente hospitalar. É importante destacar que o projeto de Mantovani estipula diversas exigências para o ingresso do pet no hospital, para evitar qualquer risco de contaminação nos pacientes ou desconforto de outras pessoas presentes no local. A Câmara de Maringá aprovou o projeto de lei, em segunda discussão, no dia 6 de Agosto, por nove votos favoráveis a três contrários, sendo um avanço para a cidade.