Adoráveis Mulheres ou Mulherzinhas é um romance de Louisa May Alcott publicado em 1868. Inúmeras adaptações para o cinema foram feitas dessa obra no século passado e não seria diferente atualmente. A mais recente adaptação desse romance está com data de estreia marcada para dia 9 de janeiro de 2020 e conta com a participação de Emma Watson, Meryl Streep e Timotheé Chalamet, entre outros grandes nomes. Além disso, o filme é dirigido por Greta Gerwig, vencedora do Oscar com Lady Bird. Ela possui uma ligação forte com o movimento feminista e vem ganhando espaço na indústria cinematográfica explorando esses temas. Outras adaptações foram feitas em 1918, 1933, 1949 e a mais recente foi lançada em 1994 e contou com atuações de Christian Bale, Claire Danes e Winona Rider, a qual o papel de Jo March lhe rendeu uma indicação ao Oscar.

Emma Watson, Saoirse Ronan, Florence Pugh and Eliza Scanlen no filme de Greta Gerwig que estreiará no Brasil em 2020 (Fonte: Wilson Webb)
A história se passa durante o período da Guerra Civil Norte Americana e conta a história das quatro irmãs March. O romance explora a maneira como as irmãs lidam juntas com as desventuras da vida, de como se relacionam com as pessoas do seu convívio social e, claro, enfrentando as dificuldades da época. Além de nos apresentar as características únicas que cada uma delas possui. Após o pai ser enviado para a guerra, as quatro irmãs, com o apoio da mãe, se sustentavam emocionalmente uma na outra para enfrentar as preocupações por causa da guerra e as dificuldades financeiras. A narrativa também explora as aventuras e sonhos que as jovens construíram juntas. As encenações teatrais que faziam, além de ser um momento de união da meninas, era um momento de libertar a imaginação e a fazer voar para longe da realidade angustiante da falta do pai.

Capa do livro Mulherzinhas ou Adoráveis Mulheres de Louisa May Alcott (Fonte: Google Imagens)
Amy, Jo, Beth e Meg são irmãs inseparáveis e possuem características únicas. Beth é a mais tímida. Tem dificuldades para interagir com outras pessoas e passa a maior parte de seu tempo junto a seu piano, sua grande paixão. Meg é a mais velha e sensata. Ela busca no casamento uma solução para uma vida estável, assim sempre se empolga para os bailes esperando conhecer seu futuro esposo. Amy é a mais nova, é apresentada com uma menina mimada, arrogante e está em constante conflito com Jo. Amy sonha encontrar um príncipe encantado, deseja casar-se com um homem rico e ter muito dinheiro para gastar com roupas finas e exibir-se socialmente. A primeira vista, é a mais supérflua e insensata das irmãs, mas é uma personagem que terá um grande desenvolvimento com o passar da narrativa. Por fim, Jo é a irmã mais espirituosa e extrovertida. Não sonha com casamento, mas sim, ser escritora. Deseja publicar suas aventuras e seus escritos de suspense. Sua imaginação não tem limites. Mal espera o dia em que sua tia viajará para a Europa e a levará como acompanhante para poder conhecer o mundo e divulgar suas obras. Ela é brincalhona e a mais desleixada das irmãs, não se importa com bailes e com etiquetas sociais. É a irmã que com o desenvolvimento da história irá apresentar pensamentos a frente de seu tempo, muitos dos quais possivelmente entram em consonância com ideais feministas atuais.

Adaptação cinematográfica de Adoráveis Mulheres lançada do ano de 1994 (Fonte: Google Imagens)
O dia a dia das irmãs se transforma com a chegada de um novo vizinho chamado Laurie. Com ele, as meninas constroem uma grande amizade e o integram nas suas encenações teatrais improvisadas das peças escritas por Jo. Ela é a irmã que mais se aproxima do jovem rapaz, criando um forte laço de amizade por possuírem pensamentos similares a respeito da sociedade e de suas convenções, além de juntos se divertirem com suas brincadeiras juvenis. Quando Laurie deixa a cidade para ir para a faculdade Jo se entristece por ser mulher e não poder frequentar este lugar que tanto sonhou. O amigo lamenta por ela não poder estudar como ele e logo depois parte. Os seus caminhos se distanciam mais após Jo rejeitar o pedido de casamento do amigo. Um tempo depois Jo recebe a notícia que não irá acompanhar mais sua tia a Europa, pois sua irmã Amy irá em seu lugar. Frustrada por não poder fazer o que esperou pela vida toda, Jo parte para Nova York para a casa de uma parente e inicia sua aventura de tentar publicar seus romances. Suas obras foram rejeitadas inúmeras vezes com o argumento de serem muito femininas e, segundo os editores, consistiam numa leitura só para mulheres.

Adaptação cinematográfica de 1933 de Adoráveis Mulheres (Fonte: Google Imagens)
De início a obra de Alcott parece ser um romance de época inofensivo, mas, na verdade, para o período em que foi escrito ele trazia personagens que possuíam ideias a frente de seu tempo revelando resquícios de uma resistência ao patriarcado no século XIX. O livro traz questões importantes que mais a frente se integrarão ao movimento feminista. Jo é a personagem que tais características ficam mais evidentes. De início, sua negação constante em se embelezar para ocasiões sociais para conquistar um marido já evidencia sua recusa em tornar-se uma esposa e pertencer a um homem como era comum na época. E isso se confirma no momento em que não aceita se casar com Laurie. Nos surpreendemos com sua negação, pois nos é apresentado durante a história a relação forte entre os dois, a afinidade que possuem, além disso ele era abastado e poderia dar uma vida confortável a ela. Ou seja, a primeira vista, Laurie seria o príncipe encantado de Jo. Assim, a ideia de casal ideal feitos um para o outro surge. Mas nos esquecemos do fato de que Jo não quer se casar, ela tem outros planos para seu futuro que não incluem ser uma esposa. Estranhamos sua recusa, porque estamos acostumados com imagens e textos midiáticos reproduzindo romances digeríveis e utópicos. Sua negação ao pedido simboliza um ato de resistência não apenas a idealização amorosa, mas também as convenções sociais patriarcais.

Adaptação cinematográfica de 1918 de Adoráveis Mulheres (Fonte: Google Imagens)
Jo é curiosa, gosta de ler e de estudar. O fato dela não poder ir a faculdade assim como o amigo a deixa inconformada com sua realidade. Por que diabos seu direito de estudar é negado apenas pelo fato de não ter nascido do sexo masculino? Bem, isso não a impede de se adaptar a sua realidade e estudar com os meios que possuía a seu alcance. Ela investe seu tempo na criação de suas obras literárias. Mesmo a sua viagem para a Europa sendo desmarcada e sua única oportunidade de conhecer o lugar que tanto sonhava indo por água a baixo, a jovem agarra a primeira oportunidade de deixar a casa no interior onde morava para conhecer uma grande cidade. A rejeição que as obras de Jo tiveram pelos editores em Nova York, não coincidentemente todos homens, também evidencia elementos do patriarcado da época e que persistem quase dois séculos depois. Alguns dos editores nem consideravam que a obra poderia ter qualidade. Apenas o fato de ter sido escrito por uma mulher os condicionava olharem, logo de início, negativamente para a obra de Jo. Porém, mesmo com as rejeições e os desencorajamentos a jovem não desistiu de publicar suas obras.

Adaptação do ano de 1949 (Fonte: Google Imagens)
Além de Jo que desejava ser uma escritora renomada, as outras irmãs também possuíam grandes sonhos. Uma desejava ser uma atriz famosa, a outra ser uma grande pintora na Europa e a outra queria ser uma pianista respeitada. Isso mostra que mulheres, já naquela época, têm sonhos que não dizem respeito necessariamente ao casamento. Aliás muitas nem desejam isso, mas é imposto à elas. E entender as características e sonhos diz mais a respeito das personagens do que observar seus pares amorosos. As vezes deixamos de conhecer e entender toda uma história pensando com qual personagem a(o) protagonista irá terminar, porém talvez o desfecho amoroso não seja o mais importante. Talvez a restrição de tudo a relacionamentos e amores limite a nossa perspectiva da realidade. Estamos tão acostumados com narrativas que giram em torno de histórias de amor, as quais os finais felizes estão associados a casamentos e namoros, que estamos desacostumados a lidar com obras que fogem disso.

Laurie (Christian Bale) e Jo (Winona Rider) na adaptação de Adoráveis Mulheres de 1994 (Fonte: Pinterest)
Jo pensava a frente de seu tempo, pois percebia que não precisava de uma aliança no dedo para ser feliz. Ela tinha a sua arte que a permitia sonhar e isso era suficiente para ela. Assim, mesmo que isso fosse um passo pequeno de oposição a ideais machistas, pelo fato de ser um pensamento que não ia ao encontro com as ideologias da época, o pensamento contra-hegemônico de Jo trouxe uma nova perspectiva sobre a realidade feminina do século XIX. Desse modo, Adoráveis Mulheres vai muito além de uma história de romance de época, uma vez que traz personagens com pensamentos muito a frente de seu tempo e que acrescentam a uma mudança na maneira que as mulheres são vistas socialmente.
Ficou curiosa(o) para conhecer a história das quatro irmãs? Não deixe de ler a obra prima de Louisa May Alcott. Confira também as adaptações feitas para o cinema e nos conte qual a versão que mais gostou. Além disso, não perca a estreia da mais recente adaptação de Adoráveis Mulheres, a única dirigida por uma mulher. Confira o trailer a seguir: