Cada tonalidade da minha voz, cada palavra da minha boca, era uma mentira, um jogo para encobrir o vazio e o tédio da existência. Para fugir ao desprezo e ao colapso, só havia uma solução: não dizer uma só palavra. — Ingmar Bergman.

Persona (Quando Duas Mulheres Pecam como foi intitulado no Brasil), dirigido por Ingmar Bergman em 1966, é considerado umas das maiores obras primas do cinema. O diretor sueco é conhecido por seus filmes marcados por uma profundidade psicológica como, por exemplo, Morangos Silvestres, O Sétimo Selo, Fanny e Alexander, Sonata de Outono e o clássico Persona . Para colaborar com a construção da narrativa, o diretor utilizou a fotografia como um recurso para representar as emoções e o estado mental de seus personagens. E, para isso, Bergman contou com o também sueco Sven Nykvist (diretor de fotografia e cineasta, considerado por muitos o melhor diretor de fotografia de todos os tempos) com quem teve uma bem-sucedida parceria por 30 anos e com quem construiu uma sólida filmografia.

Estrelado por Bibi Andersson (Alma) e Liv Ullman (Elizabet), os ângulos e enquadramentos valorizavam as expressões das atrizes ressaltando seu estado de espírito e, assim, trazendo intensidade à cena. Por exemplo, o enquadramento voltado as reações de Elizabet às palavras que Alma a dirigia, como se o que ela expunha tivesse importância e significado para as duas personagens, restando a dúvida: será que o que a voz de Alma diz são suas próprias palavras ou, na verdade, de Elizabet? Assim como em outra cena marcante em que ambas estão em frente a um espelho, paira-se o silêncio no ar e apenas suas expressões corporais, os seus toques, o ângulo e o enquadramento revelam a relação entre elas: as personagens se fundem tornando-se uma única pessoa.  Para Luiz Santiago, crítico de cinema, Nykvist:

Desde o início, o artista procurou marcar as personagens como pedaços de si mesmas, como se estivessem incompletas, algo visualmente indicado com uma parte do rosto das atrizes escurecida e outra com luz frontal. A princípio, isso é feito através do ambiente, no quarto de Elisabet, nos tirando da visão ampla do ambiente para focar em uma única coisa, um rosto. […] No Prólogo, classificado como um “poema em imagens” em que se unem sacrifício, libido, crucificação, horror e morte, as mãos começam a aparecer com os seus diversos simbolismos, dando ideia de atividade e poder sobre alguma coisa — exceto quando está caída, simbolizando a morte. Ao longo do filme, ações como estender, colocar ou tirar a mão, especialmente do rosto, será uma das formas de comunicação entre as protagonistas. – Luiz Santiago.

Então, as imagens a seguir, extraídas do filme e selecionadas pelo Comunica, possuem uma essência emotiva, texturas, ângulos, enquadramentos e iluminações que transmitem o onírico e as angústias das personagens. Dessa forma, observem as fotografias com atenção e apreciem sua sensibilidade!

 

Cenas do prólogo

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Cenas do filme

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Elizabet (paciente) e Alma (enfermeira) no hospital psiquiátrico.

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Elizabet.

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Elizabet ouvindo Alma.

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Elizabet atuando numa peça de teatro, interrompe suas falas recusando-se a falar a partir deste momento.

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Alma relatando sua história, pensamentos e sentimentos a Elizabet enquanto passaram um tempo isoladas numa casa de praia para a recuperação de Elizabet.

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Alma lendo um trecho de um livro à Elizabet.

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Alma e Elizabet em frente ao espelho (cena extremamente simbólica).

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Fusão dos rostos de Alma e Elizabet como se as duas se tornassem uma única pessoa: seria uma a persona (máscara) da outra?

 


Fontes:

Imagens: Ingmar Bergman

Plano Crítico