O início do último dia do Multicom ocorreu no NPD – Bloco 110, das 8:30 às 11:30, com a oficina de Facebook Ads, ministrada pela Mirian, da Nação Digital. Ela ensinou alguns termos complexos que são necessários saber para navegar no Facebook, e depois mostrou passo a passo como criar um anúncio, na página, da melhor forma. Antes de encerrar se abriu para responder às dúvidas dos participantes e passar algumas dicas.
- Oficina de Facebook Ads
- Fotos: Isabela Bezerra
Já no período da tarde, o Prof. Dr. Rozinaldo Miani, da Universidade Estadual de Londrina – UEL, abordou sobre o humor gráfico em sua palestra “O humor gráfico como estratégia comunicativa no contexto da imprensa alternativa”, no Auditório 29 Abril, do Bloco I12. O professor explanou sobre a importância da imprensa brasileira como uma das principais arenas da política e como o humor gráfico, especialmente as charges, complementam essa ideia. Além de como a comunicação é um elemento significativo nos processos de disputa de hegemonias, uma vez que diversos veículos de comunicação possuem uma visão ideológica determinada, influenciando diretamente no modo como a informação é passada para as pessoas. Miani explicou como o humor gráfico é uma ferramenta importantíssima nesse meio, já que carrega um aspecto contra-hegemônico. O Comunica conversou diretamente com o professor sobre seus entendimentos acerca destes aspectos:

Entrevista com o Prof. Dr. Rozinaldo Miani. Foto: Milena Ito e Karoline Yasmin.
COMUNICA – Professor, a atração exercida pelas imagens costuma ser maior do que aquela exercida pelos textos verbais dos jornais. No entanto, a leitura das imagens é mais subjetiva que a do texto verbal. A população brasileira costuma ter sérios problemas com interpretação de textos. Como o senhor percebe a leitura e reflexão que as pessoas fazem a partir dos temas abordados no humor gráfico?
PROF. DR. MIANI – O humor gráfico é uma alternativa importante e por isso eu entendo como uma estratégia comunicativa para potencializar o processo reflexivo. Os textos verbais exigem uma compreensão interpretativa que também é exigido para analisar as imagens, mas há uma tendência a achar que o texto verbal possui mais objetividade do que o texto visual. As palavras apontam para significações múltiplas e também exigem essa condução interpretativa para compreender. No caso das imagens, elas aparecem como sendo algo mais fácil de interpretação, mas não são, pois exigem que o sujeito identifique de maneira mais precisa os elementos da imagem e faça as associações, ou seja, exige-se uma formação para leitura da imagem. Acho que esse é o ponto que merece ser destacado, a necessidade de oferecer desde o processo de educação básica elementos que possibilitem que o sujeito compreenda a leitura das imagens.
COMUNICA – Muitas pessoas levam a charge apenas para o lado cômico mesmo e esquecem de fazer uma interpretação mais crítica, o que acaba gerando vários entendimentos distintos para uma mesma figura, certo?
PROF. DR. MIANI – O efeito de sentido, aquilo que a imagem pode disparar na compreensão do leitor, é múltiplo. Depende do que ele procura, de onde ele encontra a imagem, dos aspectos que ele busca naquilo que ele está vendo e claro, depende do contexto sociopolítico em que a charge está inserida. Qualquer que seja esse contato do leitor com a figura é preciso ter o mínimo de elementos para produzir uma análise crítica e isso demanda uma formação para o leitor.
COMUNICA – O senhor acha ruim as pessoas verem só a parte humorística e ignorarem a parte crítica?

Entrevista com o Prof. Dr. Rozinaldo Miani. Foto: Milena Ito e Karoline Yasmin.
PROF. DR. MIANI – Não é ruim, mas é uma possibilidade de quem encontra a imagem. A gente vê a imagem e reage a ela de modo espontâneo, pode ser um riso, uma indignação, mas essa espontaneidade é legítima e, em muitos casos, é o limite do contato que certa pessoa tem com aquela imagem. O que a gente deve estimular é que ela faça daquilo um disparador de reflexão, ou seja, fazer a charge funcionar com a potencialidade que ela tem, que é ser um elemento de análise e reflexão e um objeto comunicativo, sendo mais que um objeto de contemplação.
COMUNICA – E professor, além do humor gráfico, quais outros recursos utilizados pela mídia alternativa garantem uma democratização da comunicação?
PROF. DR. MIANI – A mídia alternativa é em si um exercício dessa disputa pela democratização, porque ela geralmente está situada no contexto de organizações sociais e políticas que não encontram ou buscam na grande imprensa um espaço para disseminar suas informações, logo a mídia alternativa é o resultado dessa busca pela democratização. O que temos que pensar em relação a essa mídia é como ela se forma esteticamente: ela reproduz o modelo da grande mídia para se produzir como mídia alternativa ou ela também busca outros recursos? Quando tratamos sobre a charge no contexto da mídia alternativa nós não deixamos de pensar que ela foi um elemento fundamental utilizado pela imprensa alternativa nas experiências do período da ditadura civil militar, onde se encontrou um local fértil para as charges. Elas não estão só na imprensa alternativa, mas esta encontrou na charge uma grande estratégia comunicativa. Na produção dessa mídia alternativa há um esforço de se pensar outras possibilidades estéticas, outros tipos de gêneros para produção, mas é válido destacar que não é o gênero que configura o que é alternativo, mas sim a abordagem política e o seu conteúdo e isto é o que permite que a mídia alternativa ainda possua muito espaço para experimentação e novidades.
Para a finalização do último dia do IX Multicom, o Caio Pierangeli, juntamente do Ricardo Farias nos pratos, performou o seu trabalho “Live Electronics para pratos e multimídia”. De acordo com o Caio: “Meu objeto de estudo é, resumindo, o comportamento humano. Por isso, a peça, em si, chama-se ‘Sincinesia’, que significa ‘movimento involuntário que ocorre num grupo de músculos por ocasião de um outro movimento voluntário’.” A utilização de pratos como instrumento musical na composição também tem um motivo específico, já que, segundo Pierangeli, diferente da grande parte dos instrumentos musicais, os pratos possuem na sua estrutura espectral harmônica um comportamento indefinido ou inesperado, ou seja, não é possível saber e prever o que vai soar mais ou soar menos, o que casa com a ideia de movimento involuntário.
O artista ainda comentou sobre o caminho da música com um viés mais tecnológico, quase puramente com recursos de computador e programas: “A mediação tecnológica da música, para mim, não é diferente de tantas outras coisas do nosso cotidiano que são mediadas pela tecnologia. Por exemplo, um artista gráfico hoje, raramente vai produzir seus objetos com o lápis e o papel. Por mais que a ideia possa surgir a partir de um sketch, como também é comum musicalmente, utiliza-se do computador e dessas ferramentas para finalizar e realizar o trabalho.”. Caio também acredita que, atualmente, tanto na música contemporânea quanto na música comercial e pop, a utilização de algoritmos para medir determinados comportamentos musicais já é algo basicamente superado, uma vez que não há produtores de música que deixam de usar esses artifícios. Para ele, a grande diferença é que, em trabalhos sem propósito comercial e mercadológico, o artista acaba tendo mais liberdade de explorar formas e experimentar diferentes meios.
Para o encerramento, o coordenador responsável pela organização do evento, o Professor Tiago Franklin Lucena, fez uma fala para agradecer e atar os acontecimentos do evento com o tema que foi referência para o evento. O organizador bateu um papo com o COMUNICA depois do encerramento, confira:
COMUNICA: Como foi organizar um evento desta dimensão durante o período de greve?
LUCENA: Primeiramente, o funcionamento da universidade não estava completo, além dos muitos alunos que estavam afastados da Universidade, o quadro de funcionários também não estava completo, então muitos não estavam trabalhando, o que acabou atrapalhando bastante, pela dificuldade de acesso aos blocos e auditórios onde íamos sediar o evento. Mas fomos buscando alternativas, tentando conversar de forma educada com o comando de greve e conseguir um meio termo, já que os eventos que já estavam previstos antes da greve não poderiam ser cancelados.
COMUNICA: Como você avalia que foi o resultado do evento?
LUCENA: Bom, por causa da greve e das dificuldades que tivemos por causa dela, tínhamos uma preocupação com a adesão dos alunos e principalmente da comunidade de fora, das outras universidades, mas justamente pela própria condição em que o evento foi organizado, avalio super positivamente o seu desfecho. Tivemos uma adesão bacana dos alunos e do ponto de vista temático, acredito que tenha sido muito interessante, as palestras e os eventos culturais foram incríveis, mas penso que o ponto alto tenha sido realmente a grande adesão que tivemos, tanto nos dias do evento quanto dos monitores e dos alunos que se inscreveram nos GTs apresentados no segundo dia. Mas de uma maneira geral acredito que foi um ótimo evento.

Prof. Dr. Tiago Franklin Lucena no encerramento do evento