(CONTÉM SPOILERS)

A série estadunidense Brooklyn Nine-Nine, criada em 2013 por Dan Goor e Michael Schur (também criador de The Good Place), é uma das comédias mais conhecidas atualmente. A história gira em torno do cotidiano do sarcástico detetive Jake Peralta (Andy Samberg) e de seus colegas de trabalho, a competitiva Amy Santiago (Melissa Fumero), a ”durona” Rosa Diaz (Stephanie Beatriz), o amante de culinária Charles Boyle (Joe Lo Truglio), o tenente Terry Jeffords (Terry Crews), a divertida Gina Linetti (Chelsea Peretti) e os inseparáveis Hitchcock e Scully (Dirk Blocker e Joel McKinnon Miller), no 99° distrito do Brooklyn, a partir da entrada de seu novo capitão, Raymond Holt (Andre Braugher).

Nessa produção, o que nos prende além da comédia, é como a representatividade é exibida em relação aos atores e ao papel que desempenham nela, seja ela ligada à questões raciais e étnicas, à sexualidade ou à força que as mulheres possuem.

QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS

O assunto é colocado em evidência na série pelo próprio elenco e pela contextualização dos personagens. Aqueles que estão vinculados aos cargos mais altos dentro da delegacia são negros, como é o caso do capitão Raymond Holt e do agora tenente, Terry Jeffords. E duas das três protagonistas possuem descendência latina, a detetive Rosa Diaz e a agora sargento, Amy Santiago.

Holt e Terry | Amy e Rosa

Holt e Terry | Amy e Rosa

Além disso, outra abordagem que é tratada nas cenas é o racismo e como sua prática está enraizada na sociedade, independendo da posição social que ambos ocupam, ou seja, o praticante e a vítima. Fato evidenciado no episódio ”Moo Moo” (4ª temporada), em que Terry é enquadrado de maneira arbitrária por um policial branco, unicamente por ser negro, enquanto procurava o brinquedo de sua filha pela vizinhança. Ainda no contexto do episódio é explicitado o privilégio branco, quando Jake relembra a vez em que foi pregar uma peça em um amigo, precisando invadir o apartamento deste pela janela, e ao ser questionado por um policial pelo seu ato conseguiu se safar facilmente. Segue abaixo o vídeo da cena:

SEXUALIDADE DIVERSA

O tema é mostrado na série de modo leve, em geral, e é representado por meio dos personagens do capitão Raymond Holt e da detetive Rosa Diaz. Holt vive um relacionamento homoafetivo e inter-racial com Kevin Cozner (Marc Evan Jackson), um professor universitário, sendo de conhecimento de todos desde o primeiro episódio. O fato do personagem ser gay não atribui a ele nenhuma estereotipagem, também não modifica a relação que ele tem com os policiais, o respeito é mantido, o que às vezes surpreende, pois o ambiente policial pode ser encarado como um lugar de reafirmação da masculinidade ou machista (os protagonistas homens da série quebram o conceito de masculinidade tóxica). Já Rosa se declara bissexual na 5ª temporada, tendo sua revelação aceita por seus colegas de trabalho naturalmente. No entanto, quando foi a vez de contar para seus pais, Rosa se viu em meio a um embate, pois temia que a aceitação não iria vir de primeira.

Capitão Holt e o marido Kevin. (fonte:NBC)

Kevin e capitão Holt. (fonte:NBC)

FORÇA FEMININA

As personagens femininas de Brooklyn Nine-Nine são muito bem construídas, todas possuem personalidades fortes e complexas que as tornam singulares. Amy é uma grande policial, super competente, organizada, mostra-se sempre à disposição e é também competitiva por estar a todo momento a procura de dar o seu melhor. O esforço profissional da personagem resulta na sua passagem de detetive para sargento na 6ª temporada.

Rosa é conhecida por ser a detetive durona, que está constantemente com a cara séria, mas que no fundo possui sentimentos. É uma das melhores investigadoras da delegacia, possuindo muita admiração e respeito de seus colegas de trabalho por ser audaciosa na realização dos casos.

E Gina é a única protagonista civil da série, é segura de si mesma, bastante talentosa, esperta e solidária quando preciso. Seu trabalho se dividia entre ser secretária do capitão Holt e lidar com as redes sociais por meio do celular, porém isso muda quando sai da 99º pra fazer sucesso mundo afora.

Abraço entre Gina, Rosa e Amy. (fonte: NBC)

Abraço entre Gina, Rosa e Amy. (fonte: NBC)

Sendo assim, é interessante destacar que é possível tratar sobre essas ideias de uma maneira mais leve, sem deixá-las muito forçadas. As séries de comédia (não só elas) estão se readaptando, ou seja, estão deixando de exibir conteúdos que visem somente ao entretenimento para também incluir temáticas que merecem visibilidade e que se voltem para a conscientização e reflexão do público sobre elas.

A série já conta com seis temporadas, sendo renovada para uma sétima. Ela pode ser assistida no Brasil através do streaming Netflix ou do canal a cabo TNT Séries.


FONTES: