“O homem: provavelmente a espécie mais misteriosa do nosso planeta. Um mistério de perguntas sem respostas. Onde estamos? De onde viemos? Para onde vamos? De onde sabemos… o que achamos que sabemos? Como acreditamos nas coisas? Inúmeras perguntas em busca de uma resposta. Uma resposta que levará a outra pergunta, cuja resposta levará a outra pergunta, e assim por diante. Mas, no final, não é sempre a mesma pergunta? E sempre a mesma resposta?”.
Com essas palavras o filme se inicia. Tic-Tac. Nos primeiros momentos de Corra, Lola, Corra, um pêndulo de um relógio balança revelando a ideia central do filme: o tempo. Em apenas 01:20h de trama, tempo menor que a maioria dos filmes do circuito comercial, o telespectador é apresentado a história de Lola, namorada de um coletor de dinheiro de traficantes, Manni. Logo no início, Lola recebe uma ligação de Manni dizendo que havia esquecido a bolsa de dinheiro dentro do metrô e que tinha apenas 20 minutos para conseguir 100 mil marcos (moeda alemã). Se não conseguisse o dinheiro até 12:00h, seria morto pelo chefe mafioso. Assim, começa a corrida de Lola, literalmente, para salvar seu namorado.

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Na trama, vemos três finais possíveis a história. Na conclusão de cada corrida, as quais possuem 20 minutos, Lola encontra Manni, observamos seu desfecho e Lola reinicia a corrida, tendo uma nova chance para salvar seu namorado. O “resetar” da história é uma influência dos videogames que estavam em alta na década de 1990, época cujo filme foi gravado. Além disso, em vários momentos vemos a história como uma animação. Outro recurso narrativo que influenciou o diretor, também popular na época, foi a estética dos videoclipes.

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Enquanto Lola corre, uma música eletrônica embala os ouvidos de quem assiste. Um som frenético importantíssimo para a narrativa, pois transmite as sensações sonoras necessárias para que o coração se acelere, assim como o de Lola devia estar. É como se o telespectador conseguisse penetrar na tela e sentir a tensão da personagem.
Em várias cenas, durante a sua corrida, quando Lola esbarra em alguém, uma sequência de fotos aparece na tela mostrando o futuro do personagem. Um recurso original utilizado pelo diretor Tom Tykwer. A cada corrida Lola muda alguma ação. É como se após cada fim o filme “resetasse” e Lola possuísse uma segunda chance para reiniciar sua corrida mudando algum comportamento que não fosse resultar na morte de alguém, ou melhor, em “fim de jogo”. Paralelamente ao de Lola, o destino dos personagens muda cada vez que a corrida se reinicia. Como se a vida de todos também reiniciasse e ninguém tomasse a mesma ação novamente, influenciando nos seus futuros. Uma referência a teoria do caos.

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Os enquadramentos e os ângulos utilizados contribuem para que o filme fique ainda mais interessante e estão entre os pontos fortes da narrativa. Apesar de não serem recursos totalmente originais, foram muito bem utilizados pelo diretor e permitiram que quem assistisse ficasse tão ansioso quanto Lola para conseguir salvar Manni. Também contribuíram com o aspecto alternativo do filme que possui um roteiro não muito convencional. Ainda, a sequência das corridas de Lola é tão envolvente que, mesmo se repetindo três vezes, não ficamos entediados.
O filme, o qual completou duas décadas no ano passado, possui referências ao tempo desde em sua narrativa até em sua estética. Além do modo como o diretor compôs as cenas para que a obra girasse em torno da temporalidade dos personagens e de suas ações, o roteiro também foi elaborado de forma que o tempo fosse o ponto chave da história. Afinal, Lola tem 20 minutos para encontrar Manni e esse é o mesmo tempo do desenvolvimento de sua corrida.
Assim, além da qualidade das características estéticas, o filme alemão, durante seu desenvolvimento, nos leva a refletir sobre nossa temporalidade. Não podemos reiniciar nossas vidas depois de um erro terrível assim como faz Lola. A realidade não é como um jogo: não existe um botão de “restart” para a morte. A finitude é nossa realidade e o que podemos fazer é aprender a lidar com ela da melhor forma possível.

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Lola, a cada vida, possui um repertório da vida anterior que permite que ela lide de formas diferentes com as mesmas ações. É claro, não temos uma segunda chance como ela teve para consertar as atitudes inócuas, porém o filme nos leva a questionar a forma como lidamos com os nossos erros no presente. É importante que entendamos que nossos erros fazem parte de nós tanto quanto nossos acertos. Afinal, não existiria Corra, Lola, Corra, se em sua primeira corrida Lola conseguisse salvar Manni sem nada ocorrer errado. Tanto quanto para a protagonista do filme, nossos erros contribuíram para a constituição da nossa história. Precisamos entendê-los e aceitá-los, e, assim, podemos nos permitir errar outra vez. Não necessariamente repetir os erros anteriores, mas também cometer novos. Pois eles auxiliam no nosso crescimento, no entendimento da nossa realidade e do que somos hoje. Ademais, como julgar algo como errado se muitas vezes não sabemos o que é o certo?
A vida é finita e única até onde sabemos e os limites científicos não nos permitem chegar a uma outra conclusão. Então, enquanto isso persiste, nos resta enfrentar a efemeridade de cada momento vivido. Não sabemos para o que serve o ser humano, mas precisamos de uma resposta?
Fontes: