Akira é um filme de animação de 1988, inspirado no mangá de mesmo nome do autor Katsuhiro Otomo. A história de ficção científica se passa no futuro distópico de 2019, na cidade de Neo-Tokyo, uma versão pós-guerra da capital japonesa, e conta a história de Shotaro Kaneda e seu amigo de infância Tetsuo Shima, que durante uma corrida de moto com seus amigos, sofre um acidente que o confere poderes telecinéticos. O filme trata de temas como terrorismo, corrupção e violência de Estado, mostrando as histórias do grupo de resistência contra o governo de Neo-Tokyo e das gangues de motociclistas do submundo da metrópole.

O filme ficou famoso após inúmeras cópias ilegais do VHS serem produzidas nos Estados Unidos e deu início a grande paixão do público americano por filmes de animação japoneses (anime). Akira foi e ainda é influência para quem faz animação e para filmes futurísticos ou cyberpunk, subgênero de ficção científica que mostra uma subcultura anárquica em uma sociedade ditatorial dominada por computadores. Filmes como Matrix, Star Wars e a série da Netflix, Stranger Things usaram Akira como referência na sua produção. Da mesma forma, músicos como Michael Jackson e Kanye West se basearam no filme para produzir seus clipes. Mas afinal, o que tem de revolucionário na animação e na história de Akira que influenciou toda uma geração?

Em relação a seu tema, Akira apresenta uma temática muito sensível aos japoneses, tendo sido vítimas de duas bombas atômicas e convivendo até hoje com as consequências disso, é familiar e recorrente em suas obras a temática de um país que necessita se reconstruir no pós-guerra. Quanto a animação, Akira foi animado inteiramente em “Cel Animation”, o que quer que dizer são usadas folhas transparentes para desenhar e se sobrepõe as folhas para criar os quadros, tudo feito à mão. Depois de sobrepostas, as folhas são fotografadas e a animação é feita digitalmente. A animação de Akira é feita em 24fps e no total foram produzidas mais de 170.000 células para a animação.

Duas células originais sobrepostas.

Duas células originais sobrepostas.

O uso da luz e do espaço negativo em Akira é igualmente brilhante. Sendo muitas vezes comparado ao uso da luz do clássico film noir, em que o uso da luz se transforma numa própria personagem do filme. A presença, por exemplo, das luzes neon que poluem a cidade de Neo Tokyo em todos os momentos, mostrando a dominância das marcas e do capital nas fachadas da cidade, mas também na trama e história das personagens. O desfecho do filme, em que Kaneda usa seu poder para “purificar” a cidade com luz, é um exemplo perfeito do papel discursivo que a luz tem no filme.

Akira revolucionou o modo de se fazer animação e deu aula de como transformar a luz e o espaço negativo em uma personagem que conta a história junto com o roteiro. Mas também deixou uma mensagem incrível ao mostrar a rebeldia e anarquia de uma população marginalizada e negligenciada pelo Estado, que é apresentado pelo autor como um organismo falido, sem poder diante do capitalismo ofuscante, que domina a fachada da cidade e as vidas dos indivíduos. Esse é o paralelo entre a vida que Katsuhiro Otomo vivia quando escreveu a crítica e imaginou que continuaria vivendo em 2019.

As células do visual de Neo-Tokyo.

As células do visual de Neo-Tokyo.