A Ayahuasca é um chá utilizado por indígenas da Amazônia para cura do corpo, mente e espírito. De acordo com o site Ayahuasca Portal, estudiosos dizem a bebida chegou aos indígenas através dos incas, que já a utilizavam há mais de 5 mil anos. Na linguagem Quíchua, aya significa espírito ou alma, e huasca significa chá ou vinho. No Brasil é mais conhecida como “chá do Santo Daime”, bebida sacramental deste movimento religioso que teve seu início no interior da Floresta Amazônica, nas primeiras décadas do século XX.

Essa bebida é produzida a partir de duas plantas nativas da floresta amazônica: o cipó mariri ou jagube (Banisteriopsis caapi) e folhas do arbusto chacrona ou rainha (Psychotria viridis), que causam efeitos psicoativos. Entre os nativos é usada para propósitos de cura, religião e para fornecer visões que são importantes no planejamento de caçadas, prevenção contra espíritos malévolos, bem como contra ataques de feras da floresta. Em rituais religiosos, uma preparação de corpo e mente é feita por meio do jejum antes da ingestão da Ayahuasca, elementos como o álcool, drogas, carnes, laticínios, cafeína e açúcar devem ser evitados, o período de duração e os elementos a serem evitados variam entre as práticas religiosas.

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Curandeiras da tribo Shapibo – Foto: Adrian Fisk

A Ayahuasca é uma bebida enteógena, ou seja, que promove uma espécie de “viagem” para dentro do ser em busca de centralidade e da manifestação interior do divino. Cerca de 20 a 40 minutos após sua ingestão, inicia-se um processo psico-fisiológico de mudança na percepção sensorial ocasionado pelo aumento de neurotransmissores. Pode ser explicada brevemente pela desconstrução do ego, que são os “eus” criados inconscientemente para lidar com situações presentes na sociedade, que possibilita o descobrimento do “eu real”. Relatos também constatam a eficácia da Ayahuasca no sentido de ressignificar o passado, ajudando no tratamento de eventos traumáticos, fobias e comportamentos compulsivos ou inadequados, entre outros benefícios.

Nos últimos tempos, houve um grande aumento no número de pessoas a terem acesso a Ayahuasca por meio da comercialização. Por um lado, existem muitas pessoas que se interessam pelo lado religioso e procuram lugares que utilizam essa substância de forma sagrada em seus rituais, como aldeias e centros de terapias. Por outro, existem pessoas vendendo a Ayahuasca como droga, e é dessa forma que maioria dos jovens a conhecem, ignorando todo o significado religioso que essa substância tem para algumas culturas.

O turismo da Ayahuasca na Amazônia também têm prejudicado os povos indígenas da região, como aponta a matéria da Vice us. Segundo a gerente de comunicação da Cultural Survival, ONG de Massachusetts que faz parceria com povos indígenas para proteger suas culturas, Agnes Portalewska, A ayahuasca é uma prática cultural e espiritual enraizada em culturas específicas, e que não deveria ser comercializada e explorada, mas protegida como uma prática sagrada particular dessas comunidades.

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Foto: Adrian Fisk

No Brasil, o Conselho Nacional Antidrogas (Conad) retirou a Ayahuasca da lista de drogas alucinógenas em 2004, regulamentando a permissão do uso nos rituais religiosos em 2010. Mesmo tendo liberado o uso do chá  para fins religiosos, o Conad considera que o consumo do alucinógeno é arriscado. Na mesma resolução, existem regras como a proibição de que pessoas com histórico de transtornos mentais ou sob efeito de bebidas alcoólicas ou outras substâncias psicoativas ingiram a droga. Além disso, é obrigatório que os grupos religiosos que usam a ayahuasca “exerçam rigoroso controle sobre o sistema de ingresso de novos adeptos”.

Ainda que a Ayahuasca tenha sido retirada da lista de drogas alucinógenas pelo Conad em 2010, a forma com que a mídia trata o assunto, ainda hoje, é pejorativa. O site da Veja, por exemplo, intitulou uma matéria da seguinte forma “Chá de ayahuasca pode, sim, causar psicose e até matar”. Muitas pessoas tem o hábito de ler apenas os títulos das matérias e não buscar saber o que elas realmente trazem, com um título tendencioso igual a esse, as chances de uma má interpretação do assunto são muito grandes.

Além de seu uso cultural e religioso, a Ayahuasca vem sendo amplamente estudada por pesquisadores da área científica, médica e psiquiátrica, como forma de cura para algumas doenças como depressão, distúrbios e dependências químicas. Um Professor da Unifesp realizou uma pesquisa sobre a utilização em combate à dependência do álcool, para saber mais acesse o site do G1. O farmacólogo Rafael Guimarães dos Santos, pesquisador do grupo do professor Hallak, deu uma entrevista na Rádio USP sobre um experimento do uso da ayahuasca no tratamento da depressão, ouça o áudio abaixo. Veja também a matéria que a revista Pesquisa Fapesp  publicou em  janeiro de 2019.