Você sabia que em 26 de setembro é o Dia Nacional do Surdo e em 30 de setembro se comemora o Dia do Tradutor/Intérprete de LIBRAS? Isso se torna uma pauta importante pois, segundo o último censo do IBGE, cerca de 9,7 milhões de brasileiros possuem deficiência auditiva. Isso representa aproximadamente 5,1% da população do país. O número de crianças e jovens de até 19 anos, com algum grau de tal deficiência, não é otimista: eles somam quase 1 milhão. É clara a necessidade e a importância da comunicação por meio de sons para o nosso desenvolvimento. Aprendemos a falar ouvindo a repetição de certas palavras por nossos pais; a ler, a partir da fonética das letras e das sílabas. A comunicação oral está em todo lugar e não conseguimos nos imaginar sem ela. Mas e quanto às crianças que nascem ou desenvolvem surdez parcial ou total na primeira infância? Elas não podem ter acesso aos mesmos conteúdos de uma criança ouvinte?

Primeiramente, é importante ressaltar que o reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), como segundo idioma oficial do país, está completando 16 anos. Isso significa que desde o início do processo de alfabetização, deveríamos aprender LIBRAS, uma língua natural, assim como o português, com suas próprias estruturas sintáticas, semânticas e morfológicas, porém, o que mais as diferem, é que a LIBRAS, utiliza-se de imagens para se expressar.

Desde o ano 2000 são lançadas leis de acessibilidade, tanto com relação ao quesito espacial, como adaptações de instalações e do transporte, quanto intelectual, como o acesso à comunicação e informação. O último, talvez, venha a ser o mais subestimado. Um decreto de 2004 determina o uso de recursos visuais e legendas nas propagandas oficiais do governo e traz normas técnicas como parâmetros de acessibilidade a serem seguidos por todos. Mas no cotidiano, sabemos que não é bem assim, principalmente quando o assunto é conteúdo audiovisual. Nem todos os surdos são bilíngues, ou seja, nem todos foram alfabetizados em português, pois o aprendizado de um idioma depende muito da fonética, portanto, a utilização de legendas a fim de obter um maior entendimento de uma pessoa que não ouve, não é suficiente.

Dessa maneira, algumas produções procuram formas de serem acessíveis e mais inclusivos, como o caso do filme “Teu mundo não cabe nos meus olhos”, estrelado por Edson Celulari e exibido com legendas, tradução em LIBRAS e com audiodescrição.

O canal da Turma da Mônica no YouTube criou uma playlist com episódios do desenho animado destinado a crianças com deficiências auditiva e visual, com tradução em LIBRAS e audiodescrição.

Na última quarta-feira (26), como mencionado no início do texto, foi o Dia Nacional do Surdo e também o lançamento da animação brasileira “Min e as Mãozinhas” no YouTube. A produção de Paulo Henrique Rodrigues, é a primeira totalmente em LIBRAS e é voltada ao público infantil de 3 a 5 anos. A proposta do projeto é ensinar cinco sinais diferentes a cada episódio.

 Em entrevista ao GloboNews, o design, que já trabalhou com a animação do Sítio do Picapau Amarelodiz que a ideia para “Min e as Mãozinhas” surgiu numa situação do cotidiano, em que ele precisou pedir para uma deficiente auditiva lhe passar o sal, por meio de sua tradutora. Rodrigues conta com a ajuda de professoras, pedagogas e surdos para produzir um conteúdo didático e acessível, tanto para deficientes auditivos quanto para ouvintes.

“Eu fiquei pensando que eu precisei de uma intérprete para fazer algo tão simples. Então me veio à cabeça que eu trabalho com desenho animado e eu posso introduzir esse tema para as crianças, porque é a melhor idade pra aprender sobre uma realidade nova”

A utilização de vídeos é a forma mais eficiente na hora de se comunicar com surdos, do que textos, como muitos podem pensar. A Agência Nacional de Cinema (ANCINE), “publicou duas instruções normativas exigindo que as produções audiovisuais realizadas com recursos públicos geridos pela ANCINE tenham recursos de acessibilidade e que, até setembro de 2019, 100% das salas comerciais de cinema no país forneçam esses recursos também.” (HandTalk)

Há diversas formas de você tornar seu conteúdo audiovisual mais inclusivo, podendo até ter acesso a um “Guia completo de acessibilidade em produções audiovisuais”, realizado por Soraya Ferreira, da Universidade Federal do Ceará (UFC). Além disso, existe a possibilidade de colaboração com o TV INES, a TV online do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), uma plataforma recheada de conteúdos diversos totalmente bilíngue (LIBRAS e português).

Ufa!

Para finalizar, aos que ficaram interessados no assunto, a Universidade de São Paulo (USP) disponibiliza aulas online sobre a Língua Brasileira de Sinais, no portal e-Aulas. É gratuito e tem só a acrescentar nas suas relações com o próximo.


REFERÊNCIAS: