As amadas histórias em quadrinhos ou gibis são, provavelmente, o primeiro contato com a leitura da maioria dos brasileiros. Personagens como Tio Patinhas, Zé Carioca, Mickey e Turma da Mônica fazem parte do imaginário infantil, apresentando-nos esse mundo fantásticos das letras e da fantasia.

Quando surgiram no Brasil, os gibis eram destinados exclusivamente para crianças, inclusive pelo seu preço, algo em torno de R$0,10, que oferecia à maioria das crianças a possibilidade de comprar as revistinhas com a sua própria mesada. Hoje em dia, muitos adultos também se encantam com os tradicionais gibis, muito provavelmente pela nostalgia da infância que essas historinhas proporcionam.

Há também aqueles HQ’s clássicos que encantam novas e velhas gerações. Alguns inclusive, colecionam números raros de quadrinhos dos super-heróis mais famosos do mundo, como Batman e Superman. Estima-se que já foram vendidos mais de 360 milhões de exemplares apenas dos gibis do Homem Aranha, em publicação desde 1963. 

Em ordem: Primeira revista do Superman. Fonte: G1 / Revista Batman nº1. Fonte: Wikipédia. / Revista Homem Aranha nº 1.. Fonte: Guia dos Quadrinhos

Em ordem: Primeira aparição do Superman. Fonte: G1 / Revista Batman nº1. Fonte: Wikipédia. / Revista Homem Aranha nº 1. Fonte: Guia dos Quadrinhos

Porém, por muito tempo, os quadrinhos eram vistos como vilões. Acreditava-se que as histórias pudessem atrapalhar o aprendizado da leitura. Por ter uma estrutura diferente, com diversas imagens e construção textual própria, os educadores de antigamente acreditavam que aquelas histórias que faziam as crianças sonharem, podiam corromper sua escrita e leitura. Ledo engano!

Com muito esforço e estudo essa história mudou e hoje os quadrinhos são respeitados dentro e fora das escolas. Muitos professores utilizam-os como uma ferramenta de auxílio no processo de aprendizagem de leitura e principalmente, para interpretações de texto. Quem nunca fez uma prova na qual tinha que interpretar uma tirinha da maravilhosa Mafalda ou do bagunceiro Calvin? Ah! tenho certeza que sim.

Com toda essa mudança e com o prestígio crescendo acerca dessa estrutura tão interessante, os quadrinhos foram se tornando uma importante fonte de informação, e não apenas como objeto de estudo, mas também como linguagem! Surgindo assim os Graphic Novels.

Nos anos 70, Will Eisner, considerado o maior quadrinista de todos os tempos, produziu uma história em quadrinhos classificada como Graphic Novel, pois sua estrutura era mais encorpada, com uma história mais densa e longa, muito se assemelhando a um livro. Esse termo foi cunhado como forma de distinguir aquelas historinhas infantis dos então romances quadrinizados ou romances gráficos, que narravam dramas  densos e até mesmo, relatos verdadeiros como uma biografia. Apesar de haver algumas discussões sobre esse termo, pois muitos acreditam que a nomenclatura “graphic novel” é apenas uma forma de “gourmetizar” os gibis, eles se popularizaram e ganharam prestígio.

Um dos exemplos mais famosos desse estilo de quadrinhos é o Maus, criado por Art Spielgeman, que narra, através dos desenhos, a história de uma família judia durante o nazismo.  As representações fazem com que a história seja ainda mais interessante, pois Spielgeman retrata os judeus como ratos e os alemães nazistas como gatos (uma alusão a forma de tratamento dada pelos nazistas aos não-arianos). Maus ganhou o Prêmio Especial Pulitzer, em  1992. 

Gibi Maus, ganhador do prêmio Pulitzer em 1992. Fonte: Vailendo.com.br

Maus, ganhador do prêmio Pulitzer em 1992. Fonte: Vailendo.com.br

Outro exemplo interessante são as obras do jornalista Joe Sacco. Seus quadrinhos reproduzem, principalmente, as questões sobre a Palestina. Sacco é muito conhecido no meio acadêmico, tendo suas obras conhecidas como “jornalismo em quadrinhos” pois, realiza através dos desenhos, relatos jornalísticos de sua visita a Palestina. Suas produções incluem Palestina: Uma nação ocupada, Palestina: Na faixa de Gaza e Uma história de Saravejo.

Também não podemos deixar de citar Persépolis! Uma obra desenvolvida por Marjane Satrapi sobre sua vida no Irã, mostrando através de um olhar feminino a cultura e o cotidiano israelense.  Persépolis ganhou também uma versão em desenho animado, que chegou a concorrer o Oscar de melhor animação em 2008.

No Brasil, temos os gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá como representantes do Graphic Novel. Os irmãos são criadores da HQ Daytripper e ganharam o prêmio Eisner em 2011, além de permancerem duas semanas na lista de coletâneas em quadrinhos mais vendidas do The New York Times. Daytripper é considerada a HQ brasileira de maior sucesso no exterior.

Em ordem: Joe Sacco: Reportagem / Marjani Satrapi: Persépolis/ Fábio e Gabriel Brás: Daytripper. F

Em ordem: Joe Sacco: Reportagem / Marjane Satrapi: Persépolis / Fábio Moon e Gabriel Bá: Daytripper. Fonte: Amazon

Assim, esses quadrinhos auxiliam-nos a compreender assuntos complicados como o nazismo, a disputa entre israelenses e palestinos, a mulher na tradição israelense, dentre vários outros. Até mesmo a obra O Capital de Karl Marx foi quadrinizada, nos ajudando a compreender conceitos como divisão de classes, mais-valia, alienação, dentre outros desenvolvidos pelo sociólogo.

Assim, o Comunica deixa como sugestão todas essas obras (e muitas outras) como dica de leitura. Vale a pena pesquisar mais sobre os gibis e ver como os quadrinhos são sim, uma importante fonte de informação, para além da diversão! 

Fontes:

História em quadrinhos no processo de aprendizagem

Graphic Novels

Quadrinhos mais vendidos de todos os tempos