Imigração e refúgio são temas que têm sido pauta nas atuais discussões do Brasil e causam confusão no uso dos termos. Segundo a Organização das Nações Unidas, imigração trata-se de um processo voluntário de um indivíduo que cruza fronteiras em busca de melhores condições de vida; já as pessoas refugiadas estão fora de seus países de origem por motivos de perseguição, conflito ou violência, buscando assim proteção internacional.

Em Maringá, o projeto No More trabalha na perspectiva de auxiliar no acolhimento tanto de imigrantes, quanto de refugiados provenientes de diversos países, como Haiti e República Dominicana. Erick Pérez, missionário venezuelano responsável pelo projeto, conta que o No More começou a partir do contato dele e de sua família com haitianos que viviam em Sarandi, “a gente criou amizades, então o grupo foi crescendo naturalmente e como também somos  estrangeiros, nós percebemos as coisas que, de fato eles precisavam.”

Doação de roupas para imigrantes e refugiados realizada pelo No More no Dia dos Pais Foto: Projeto No More

Doação de roupas para imigrantes e refugiados realizada pelo No More no Dia dos Pais  Foto: Projeto No More

O foco do projeto está em estabelecer conexões entre imigrantes, refugiados, a Igreja Presbiteriana Independente de Maringá, empresas e instituições. Peréz descreve que algumas das iniciativas realizadas pelo No More são consultas jurídicas, doações de roupas e alimentos, oferecer aulas de português e cursos profissionalizantes em parceria com a UniCesumar e auxiliar no atendimento psicológico e espiritual dessas pessoas.

Uma reunião acontece semanalmente entre o responsável pelo projeto e líderes dos grupos de imigrantes e refugiados dos bairros de Maringá e das cidades vizinhas. Eles discutem a situação das pessoas dos grupos em questões como a busca por empregos.

Reunião de liderança, como definida por Erick Pérez, do projeto No More Foto: Filipe Santos

Reunião de liderança, como definida por Erick Pérez, do projeto No More  Foto: Filipe Santos

Pierre Erick Bruny é um imigrante haitiano que está em Maringá há dois anos e é um dos líderes dos atendidos pelo projeto. Ele conta que veio para o Brasil para estudar Direito e que não sabe se voltará para o Haiti depois de terminar o curso. O imigrante considera que o povo haitiano tem uma facilidade na adaptação ao viver em outros países e afirma que “a fraternidade brasileira auxilia no acolhimento.”

Pierre Erick Bruny Foto: Projeto No More

Pierre Erick Bruny  Foto: Projeto No More

Sobre o projeto, ele conta que o No More ajuda na orientação para os imigrantes e refugiados até que eles consigam aprender como as coisas funcionam no Brasil e na cidade. Os estrangeiros são orientados no processo de emissão de documentos e outros trâmites burocráticos. Bruny conta que tem vontade de ver seu país mudar mas por enquanto ainda está se dedicando ao seu desenvolvimento pessoal.

Aulas de português oferecidas pelo projeto em Marialva Foto: Projeto No More

Aulas de português oferecidas pelo projeto em Marialva  Foto: Projeto No More

Outro representante de um grupo que é atendido pelo No More é Jean Merilan, refugiado haitiano que está morando no Brasil faz três anos. Merilan diz que ser refugiado é mais difícil por não ser possível fazer um planejamento da mesma forma como quem vai para outro país como imigrante, já que as motivações para a mudança são os conflitos.

Jean e seu filho, que agora também está morando no Brasil Foto: Arquivo Pessoal

Jean e seu filho, que agora também está morando no Brasil  Foto: Arquivo Pessoal

O refugiado, que está trabalhando e completando o ensino médio na cidade, diz que quando chegou no país a situação econômica estava mais estável, o que facilitou para ele conseguir emprego, “antigamente as empresas precisavam mais, então contratavam cinquenta haitianos e uma pessoa que funcionava como tradutora para os outros, já agora, eles contratam dois haitianos e ninguém para traduzir.”

Ele entende que o projeto beneficia muitas pessoas e é grato pela ajuda e pelo acompanhamento que ele teve. Merilan conta que hoje já conseguiu trazer parte de sua família para o Brasil e que isso é uma de suas realizações pessoais, pois agora também tem um apoio mais íntimo no país.

Tanto Bruny como Merilan consideram que o aprendizado da língua é uma das coisas mais difíceis no processo de adaptação, porque isso influencia diretamente nas relações com as outras pessoas e para conseguir realizar afazeres. A saudade dos parentes é um ponto que também os dois veem como uma luta, pois às vezes os desanima. Eles acham difícil lidar com algumas situações emocionais, como perder um parente no país de origem e não poder se despedir.

Erick Pérez acredita que os vínculos entre os imigrantes e refugiados são importantes e que eles devem permanecer “próximos como uma família, como amigos, para comemorar sua cultura, mas também os motivamos no sentido de se inserirem com pessoas da cultura local, para partilhar as diferenças culturais e tornar isso uma coisa positiva.”

As diferenças que se estabelecem nos processos de imigração e refúgio são, então, determinadas pela motivação e necessidade de sair do país de origem. Os conceitos de refugiado e imigrante, comumente utilizados como se tivessem o mesmo significado, na realidade, devem fundamentar essas singularidades para ajudar na compreensão da situação de cada estrangeiro.