Para ser considerado um fotógrafo, é necessário uma câmera fotográfica? A gaúcha Luisa Dörr, aos 28 anos mostra que não. Com apenas um iPhone ela retratou as mulheres mais influentes dos Estados Unidos, entre elas: Hillary Clinton, Serena Williams, Aretha Franklin, Oprah Winfrey, Selena Gomez e Melinda Gates. Elas tinham sido convidadas para um ambicioso projeto da revista Time, e se espantaram com a forma inédita da fotógrafa de fotografar. Clinton nunca tinha sido fotografada profissionalmente com um celular. “A ideia a entusiasmou, pareceu-lhe superinteressante, mas muitas também tiveram dúvidas quando me viram aparecer”, diz Dörr ao EL PAÍS.

Fonte: Instagram @luisadorr

Fonte: Time

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A campanha provocou admiração nas redes sociais, mas Luisa Dörr, na verdade, foi uma aposta da revista, afinal, não tinha assinado exposições nem capas. Ela foi encarregada do projeto FIRSTS, um projeto multimédia, onde a revista Time retratou as 46 mulheres norte-americanas mais importantes, utilizando de imagens e vídeos sobre a experiência destas mulheres. As quais são ícones femininos que estão mudando o mundo: as primeiras a ir ao espaço, a ganhar 23 grand slams de tênis, a aspirar à presidência da maior potência mundial ou a dirigir o Banco Central dos EUA. Mulheres que estão acostumadas a grandes câmeras, lentes, flashes, produtores, maquiadores, uma tropa de assessores e cenários, mas que desta vez, foram submetidas à praticidade e ao silencioso clique de um celular.

Fonte: Time

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Fonte: Instagram @luisadorr

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Se o sonho de um fotógrafo é publicar em uma capa da prestigiada revista, Dörr ilustrou 12 de uma vez só. Um de seus retratos favoritos, o de Janet Yellen, presidenta do Banco Central dos Estados Unidos, foi feito em apenas dois minutos, o tempo concedido pela protagonista, suficiente para ativar o modo HDR do aparelho, focalizar o rosto suave e amável da economista, com a paisagem de Washington por trás, e fazer disso uma capa.

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Janet Yellen / Fonte: Instagram @luisadorr

Você deve estar se perguntando por que Dörr e por que um iPhone, certo? A editora de fotografia da revista Time, Kira Pollack, nunca tinha ouvido falar da fotógrafa brasileira até topar com seu trabalho no Instagram. A primeira foto que viu foi a de Maysa, uma jovem negra da periferia de São Paulo, cuja trajetória Dörr segue desde 2014, quando a menina, então com 11 anos, concorreu e ganhou uma espécie de Miss São Paulo, mas apenas para jovens negras. “Foi surpreendente, um retrato sincero e poético” recordou Pollak em entrevista à Time sobre como foi seduzida pelas fotos de Dörr. “As fotos eram incrivelmente consistentes. Em sua biografia, estava escrito: ‘Todas as fotos foram tiradas com um iPhone’. Entrei imediatamente em contato com ela”, conta Pollack.

Fonte: Instagram @luisadorr

Maysa / Fonte: Instagram @luisadorr

O projeto pedia naturalidade assim como de seu Instagram, o qual foi composto só por fotos feitas pelo seu celular. “Kira me convidou porque queria que fizesse as fotos do projeto como no meu Instagram. E isso só era possível com um celular. Não funcionaria com uma câmera, eu fotografo diferente, e a pessoa reage diferente”, conta Dörr. Os retratos começaram com um iPhone 5s, mas a maioria foi tirada com um iPhone 7 plus. É o primeiro portfólio da Time feito com um celular.

“Fotografar com um iPhone não significa que seja mais fácil. É preciso pensar na foto da mesma maneira, pensar na composição e trabalhar com a luz disponível. Luz natural, qualquer que seja”, alerta Dörr para responder à pergunta se seu trabalho pode ser considerado menos profissional que o executado com uma câmera. “Este projeto vai além do uso do telefone. O celular foi escolhido pela estética, mas a ideia e a criatividade de cada foto não são pensadas pelo iPhone, eu as penso.”

Fonte: jornal EL PAÍS