Apesar da burocracia que existe para conseguir adentrar em determinados países, muitos jovens brasileiros estão indo estudar no exterior. Segundo a Associação das Agências Brasileiras de Intercâmbio (Belta), cerca de 302 mil estudantes viajaram para outros países em 2017, um crescimento de 22% no mercado brasileiro de educação estrangeira. Além de realizar uma viagem internacional, quem possui essa oportunidade também tem a chance de adquirir crescimento pessoal e profissional, através de novas experiências, culturas, formação e currículo.

Foto: Naomy Ikeda

Foto: Naomy Ikeda

Na Argentina, por exemplo, país que possui grande contingente de estudantes brasileiros, o processo seletivo se diverge do existente no Brasil: o primeiro ano na universidade pública se resume a um curso preparatório para a carreira que o estudante pretende seguir.  Independente da área escolhida, há aulas e provas para cumprir no Ciclo Básico Comum (CBC) e, se aprovado, pode continuar estudando e se especializar em determinada profissão.

Andreia, 22 anos, estudante de medicina da Universidade de Buenos Aires (UBA), conta como é o processo para ingressar na Universidade, comparando com o vestibular brasileiro: “Para você se inscrever na faculdade aqui, você faz um ano de matérias que cairiam certamente em um vestibular. Então, no meu curso, eu faço seis matérias durante um ano, que são semestrais. É como se fosse um vestibular parcial: você faz as matérias e se for aprovado, entra na faculdade no primeiro ano do seu curso”.

Também existem as dificuldades paralelas à de vestibulares brasileiros, como a necessidade de aprender matérias que não se relacionam com o curso desejado: “Eu nunca havia estudado coisas como derivados integrais na matemática e eu estou vendo isso para entrar no curso de Biológicas. É uma rotina bem puxada, quase uma rotina de cursinho mesmo. Somado à isso, existe a dificuldade de se ter aulas em outro idioma.”

Ela também conta do espanto do seu pai ao se questionar se há vagas para tanta demanda, Andreia responde que não, explicando que “nesse vestibular parcial que eu faço, em um ano eles filtram mais ou menos 60% ou 70% dos alunos que entram, então reprova quase que esse percentual do pessoal que entra, ou seja, não tem vaga para todo mundo”. Ou seja, só ficam as pessoas que realmente querem estudar.

Ao ser questionada do por quê de ir para o exterior estudar, ela responde: “Uma faculdade particular no Brasil é muito cara e ela não dá muitas opções para as pessoas. Outra coisa é que as faculdades públicas têm poucas vagas e são muito concorridas” – argumentando de que o tempo de cursinho para se preparar pesa muito, visto que ela tem 22 anos – “Pra eu ficar mais três anos no cursinho eu já teria 25, até eu me formar seria mais seis anos, então eu me formaria depois dos 30”.

Também opinando sobre os vestibulares brasileiros, diz: “Muitas vezes têm vestibulares que não são muito justos, porque cobram conteúdos que são bem complicadas, todo estudante que faz cursinho sabe e, também por isso, eu optei por vir pra cá, mas eu posso garantir que é tão difícil quanto e, talvez, se eu soubesse disso eu teria me preparado melhor antes de vir, então não é assim ‘estou indo pra lá porque tenho preguiça’. Realmente, se você tem preguiça, não saia do país para estudar, porque é o que você menos pode ter!

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Universidade de Buenos Aires (UBA) / Fonte: Medicina na Argentina

Já na Alemanha, a principal forma de ingresso em Universidades é quando os alunos do último ano do Ensino Médio realizam provas discursivas e orais durante o ano inteiro, e suas notas são somadas às dos dois outros anos. Com essa média, juntamente com o certificado de conclusão do ensino secundário, chamado Abitur, o estudante pode se inscrever na Universidade.

Outra forma de ingressar em uma instituição alemã – e a mais conhecida entre os brasileiros – é quando as universidades oferecem programas de intercâmbio, de forma que o estudante pode iniciar seus estudos no país de origem e pedir transferência após cumprir certo período semestral, como é o caso da estudante de administração da Universidade Fachhochschule Münster (FH Münster), Amanda Figueiredo, 26 anos:  “Eu não iniciei meus estudos nessa faculdade [alemã], mas sim iniciei normalmente no Brasil e, após completar o 6º semestre, dei entrada na documentação para realizar o programa de intercâmbio”. Dentre outras coisas, Amanda precisou preencher formulários, apresentar seu coeficiente de rendimento escolar e seu histórico escolar.

Ao ser questionada do motivo de procurar um estudo fora do Brasil, Amanda comenta: “Eu queria ter mais experiências fora do país, oportunidades de conhecer muitos lugares e a possibilidade de morar futuramente em outro país da Europa para possíveis estágios e trabalhos”.

Universidade Fachhochschule Münster / Fonte: Wikimedia Commons

Universidade Fachhochschule Münster / Fonte: Wikimedia Commons

Já no Canadá, de acordo com o site Hotcourses, cada província e território canadense têm o seu próprio sistema educacional, com especificidades diferentes. De maneira geral, as instituições do Canadá são divididas em quatro tipos: faculdade, universidade, faculdade privada de carreiras e escola vocacional e técnica. Cada um desses tipos de instituição tem processos seletivos diferentes e também exige um nível diferente de proficiência no inglês ou no francês, dependendo do idioma oficial dos estudos.

Já em critérios educacionais, a admissão leva normalmente em consideração o histórico educacional do estudante internacional. Isto significa que você precisará ter um certificado de conclusão do ensino médio com um bom desempenho.

Eduarda Nogueira Marion, 17 anos, futura aluna da UBC – University of British Columbia – conta um pouco sobre como está sendo este processo de ingresso em uma Universidade canadense, falando um pouco também das semelhanças com o Estados Unidos: “No Canadá e nos Estados Unidos, o que pode ser comparado com o vestibular brasileiro é o SAT, mas que em questões de dificuldade, ao meu ver é mais fácil. Ele tem duas matérias: matemática e inglês, de compreensão e de leitura. Você o faz três vezes no ano e manda a sua nota para a universidade desejada, é também necessário o TUVEL, um exame de Proficiência em Compreensão de Leitura em Língua Estrangeira. Além destes dois testes, você tem que pegar cartas de recomendação com professores e o histórico escolar. A que eu faço é particular, como a maioria das Universidades do Canadá e Estados Unidos, porém existem também as públicas, que têm uma duração de 2 anos (diferente do Brasil). Já falando em preços, geralmente, o preço de uma faculdade lá é o preço de uma de medicina aqui do Brasil.”

University of British Columbia. Fonte: site oficial

University of British Columbia / Fonte: site oficial da universidade

Por fim, do outro lado do mundo, no Japão, os alunos do Ensino Médio podem ingressar em uma universidade japonesa através de um dos três processos seletivos existentes: a seleção comum, através do exame nacional (senta-shiken) ou do exame elaborado pela própria universidade (hon-shiken); a recomendação, em que o aluno participa de um recrutamento após ser indicado pela escola; e a admissão oficial, que é a seleção dos estudantes de escolas que foram especificadas pelas universidades. Nos dois últimos casos, o candidato precisa se destacar no ambiente escolar, através das boas notas, frequência nas aulas e participação de atividades escolares.

Para os estrangeiros, o governo japonês oferece bolsas de estudo por meio do Ministério da Educação, Cultura, Esporte, Ciência e Tecnologia (MEXT), com o objetivo de “fomentar os recursos humanos que se tornarão pontes de colaboração mútua entre o país do beneficiário e o Japão por meio dos estudos, que contribuirão para o desenvolvimento dos países e do mundo”, segundo a Universidade Federal de Minas Gerais. Existem seis modalidades distintas de bolsas, com processos seletivos diferentes: pesquisa (pós- graduação), graduação, escolas técnicas superiores, curso profissionalizante, treinamento para professores do ensino fundamental ou médio e língua e cultura japonesa (para estudantes de Letras ou descendentes de japoneses).

*Especial produzido antes do início da pandemia de Covid-19.