A 8ª edição do Multicom, que aconteceu entre os dias 18 a 20 de maio, teve como temática “Arte e Comunicação.” No primeiro dia do evento, contamos com apresentação de trabalhos científicos e a presença da Profa. Ma. Janiclei Aparecida Mendonça, da Unicuritiba, com a conferência de abertura intitulada “As Novas Narrativas Animadas: Inflexões sobre arte, sociedade, cultura e identidade em séries animadas contemporâneas”. (Veja mais)

No decorrer da manhã de terça-feira, dia 19, iniciaram-se as oficinas, que foram divididas em dois dias.

A oficina Teu corpo tem orifícios, sabia? foi realizada pelo Dr. Rodrigo Pedro Casteleira e tinha como objetivo, “(re)pensar os corpos dentro da estruturas colonizadoras e colonizantes, os nus, as resistências e as experimentações artísticas que tentam escapar das lógicas euro-magro-branco-jovem-heterocentradas.”

Rodrigo Pedro Casteleira, Mestre em Ciências Sociais e Doutor em Educação. / Foto: Debora Primo.

Rodrigo Pedro Casteleira, mestre em Ciências Sociais e doutor em Educação. / Foto: Debora Primo.

“A gente viveu aquela oficina pra repensar o nosso corpo dentro dessas estruturas ocidentais, pra gente repensar que a gente também tem a nossa identidade. Pensar que também existe o nu, existem os gordos, os negros, os LGBTQ+.” comenta Camila Martinato, aluna do primeiro ano do curso de Comunicação e Multimeios.

Após a exibição de performances que quebram esse padrão euro-magro-branco-jovem-heterocentradas e uma discussão sobre os orifícios que compõem o nosso corpo, os alunos participaram de uma atividade prática, onde bordaram em lã vermelha, uma assinatura do artista Rodrigo Casteleira, a representação dos assuntos levantados anteriormente. O trabalho ficou para exibição durante o resto do evento, em frente ao bloco I-12, onde ocorriam as demais atividades do período da tarde.

 

 

 

 A arte da diagramação foi ministrada por Cleverson Lima, publicitário e diretor de arte em uma agência de publicidade. A oficina previa “apresentar características básicas sobre a diagramação desenvolvendo um olhar estético sobre as particularidades entre diferentes meios, que garantem o equilíbrio e a boa leitura desses meios de comunicação. Além de promover a oportunidade da prática da diagramação.”

 

Perguntamos ao publicitário sobre como foi a sua primeira experiência ministrando uma oficina, que por acaso, foi no Multicom deste ano.

“Eu já participei de várias oficinas. Mas estar no lugar de quem a ministra é algo totalmente diferente. Embora eu seja formado para ministrar aulas, e tivesse sempre o desejo de fazê-las, eu nunca me coloquei nessa situação. Mas foi uma sensação interessante. Gostei de conhecer  a habilidade, e as dificuldades, de cada aluno para o desenvolvimento da arte visual. E esse para mim foi o interessante na oficina, mesmo eu tendo ido para ensinar, eu aprendi muita coisa.”

Você é graduado em Marketing, tem licenciatura em Letras, pós-graduação em Cinema e Linguagem Audiovisual e em Estudos Literários, certo? O que o fez seguir em diferentes áreas da comunicação?

“Eu sempre gostei de desenhos, fotografia, filmes, música e livros. E aprecio a habilidade de muitos artistas nestas áreas. Eu gostaria de ser um excelente profissional em cada uma delas, mas o tempo é curto, e da forma que dá, eu tento. Disse isto porque, meu desenvolvimento na parte acadêmica, embora pareça distinto, me levaram a desenvolver habilidades que considero importantes, e que num plano maior, eu tento englobar todos esses estudos num projeto de um “eu” melhor. As experiências em cada uma dessas áreas, me ajudam a tentar desenvolver um trabalho único, no intuito de que, em um futuro, eu possa compactar tudo em algo extraordinário. Por enquanto, acho que os quadrinhos me darão esse start.”

Foto: Isabela Palma

Cleverson Lima ministrando a oficina./Foto: Equipe Comunica

Como é trabalhar na área de publicidade?

“Não lembro de quem é a frase, mas uma vez eu li que: ‘fazemos publicidade para ganhar dinheiro, para ter tempo de fazer o que gostamos’. Queria ser desenhista, mas ganhar dinheiro é o necessário para qualquer um. A publicidade na época era o jeito de aliar o benefício de “criar” com a remuneração. Mas ninguém fica tanto tempo em uma área sem gostar. Nesse sentido a publicidade me ganhou, e ela fornece isso. Se tem um benefício na publicidade, é isso: Criar. Criar todos os dias, nunca a mesma coisa, tentando ser o mais original possível (pelo menos até o cliente trazer uma ideia genial que ele viu no Google). A dificuldade para quem gosta de criar é entender que a publicidade não é arte, embora ela utiliza dela para expor um produto/ideia. Nesse sentido a dificuldade seria abrir mão da criação (que você inseriu não só conceitos técnicos da comunicação, mas até um pouco da sua alma) para  ser complementado/alterado/, às vezes de forma técnica, às vezes para o gosto do cliente, mas isso faz parte.”

 

Ao mesmo tempo no auditório do H12 rolava a oficina de Criatividade em Eventos, comandada pelo publicitário paulista Bruno Gerlin. Em uma atividade grupal, os alunos desenvolveram a prática do Design Thinking em uma manhã muito agradável.

Em conversa com o palestrante, fizemos algumas perguntinhas à ele:

 

Como você encarou esse convite para participar do VII Multicom?

“Na verdade foi uma surpresa. A prática do design thinking é uma coisa relativamente nova e na comunicação é muito pertinente e precisa ser bem explorada. Foi um convite encarado com muito carinho.”

Que dica você daria para quem quer começar a trabalhar na área de eventos?

“Comece organizando eventos próximos de você, como a festa de 15 anos da sua prima. Eu acho que não tem escola melhor do que planejarmos as festas pessoais, pra que você comece a ter “jogo de cintura”. Mas isso é bem embrionário. Para dar passos mais profissionais eu indico, por exemplo, que vocês estudantes se envolvam em eventos da própria universidade, como o Multicom, para que assim possa ser colocado no currículo.”

 

 Como a temática do evento é “Arte e Comunicação”, não poderíamos deixar de fora as formas de expressão que unem lindamente essas duas áreas. No segundo dia do Multicom, evento anual do curso de Comunicação e Multimeios da UEM, a atividade cultural contou com o artista Paulo Cruz, que nos presenteou com a performance “Resistir” e a declaração de poemas e músicas.

A mesa redonda foi composta pela Renata Marcelle Lara, doutora em Linguística pela Unicamp, e pelo João Paulo Baliscei, mestre em Educação pela UEM.

 

O Me. João Paulo Baliscei nos apresentou parte de sua pesquisa sobre as representações da masculinidade, entre heróis e vilões, nas produções da Disney.

Foto: Equipe Comunica

João Paulo Baliscei na apresentação de sua tese de doutorado “Arte, comunicação e gênero: do estereótipo às diferenças”/Foto: Equipe Comunica

Como professor que tem contato com vários colégios, saberia dizer se já está havendo uma desconstrução dessa masculinidade na educação? Há diferença entre as instituições públicas e privadas?

“A gente percebe que à medida em que a temática feminista adentra na escola, e que as mulheres se sentem mais emancipadas, e se sentem mais confortáveis em desconstruir a sua feminilidade, pode ser, talvez, que os homens também, pelo contato se tornem mais adeptos à isso. Mas o que eu percebo, em questão de rigidez, há uma proteção maior com essa masculinidade hegemônica do que com a feminilidade hegemônica, que já está mais desestabilizada. A masculinidade hegemônica continua como quase que indiscutível. Um passo pra que isso aconteça, é o debate de gênero e do movimento feminista nas escolas.”