O Festival Cannes acontece anualmente na França, desde 1947, e pretende “revelar obras de qualidade, favorecer o desenvolvimento da indústria cinematográfica no mundo e celebrar a 7ª arte internacionalmente”. O evento deste ano ocorreu entre os dias 8 e 19 de maio.

A 71° edição do festival foi um pouco mais conturbada que as outras e o Comunica resolveu listar alguns acontecimentos para te ajudar a entender o que aconteceu nas últimas semanas.

  • Teve protesto por igualdade de gênero

 

82 mulheres que trabalham na indústria cinematográfica protestaram no tapete vermelho contra a falta de diretoras mulheres no festival.

O movimento foi liderado pelo coletivo 5050×2020 (“igualdade até 2020”), que procura escancarar a disparidade de gênero na indústria. O grupo ainda comentou que o número 82 não foi por acaso, mas representa o total de mulheres que concorreram a prêmios nos 71 anos do Festival.

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Logo após a manifestação, Cate Blanchett e Agnes Varda pediram para que a indústria oferecesse condições mais seguras e melhores de trabalho para as mulheres e para que os governos pressionem leis que garantem pagamento igualitário entre gêneros.

 

  • Teve protesto contra o racismo no cinema

 

As mulheres voltaram a se juntar e lançar aquela crítica social. Desta vez, 16 atrizes negras subiram as escadarias para denunciar o racismo presente no cinema francês.

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A ação foi feita como parte do projeto da diretora Aïssa Maïga, Noire N’est Pas Mon Metier (Negra não é minha profissão), livro que retrata as dificuldades de atrizes negras em conseguirem papéis de personagens principais e em se desvencilharem de estereótipos de personagens negras e os preconceitos sofridos com agentes de casting.

 

  • Teve refugiado sírio com papel principal

 

O filme “Capharnaüm”, da diretora libanesa Nadine Labaki, começa com o personagem Zain Rafeea, um menino de 12 anos, maltratado pelos pais, foge de casa e acaba por dormir na rua, encontrar refugiados e cuidar de bebês dos outros para conseguir sobreviver. A história se passa na região do Oriente Médio e a obra levou o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio do Júri Ecumênico.

O ator mirim é um refugiado sírio de 13 anos de idade, que vive em Beirute e foi encontrado por Labaki brincando com outras crianças. O público de exibição se rendeu à sua atuação.

“O jovem Rafeea é uma revelação”, afirma o crítico da Variety, Jay Weissberg.

 

  • Teve produções brasileiras concorrendo à Quinzena dos Realizadores

 

A Quinzaine des Réalisateus ou simplesmente, Quinzena dos Realizadores, é uma mostra independente que acontece paralelamente ao Festival de Cannes e dentre os indicados na seleção final, há um longa e um curta metragem produzidos por diretoras brasileiras.

O segundo longa-metragem de Beatriz Seigner, Los Silencios, se passa em uma ilha entre Brasil, Peru e Colombia. Fugindo da violência colombiana, a personagem e os filhos descobrem segredos da família e características sinistras sobre o local enquanto aguardam visto para entrar no Brasil.

 

O destaque vai para o curta-metragem de Camila Markowicz, O Orfão, que ganhou o Prêmio Queer Palm na última sexta-feira (18). A obra de 15 minutos conta a história de Jonathan, um menino órfão, que após ser adotado por uma família, é devolvido por ter “um jeito diferente”.

 

  • Teve discurso da campanha #MeToo

 

O movimento #MeToo teve bastante repercussão em 2017, sendo adotado por celebridades de Hollywood e continua lutando contra o assédio sexual ao redor do mundo. Asia Argento, atriz italiana, na cerimônia de encerramento do festival, aproveitou a oportunidade para fazer um breve, porém impactante discurso.

“Em 1997, fui violada por Harvey Weinstein aqui, em Cannes.” iniciou a sua fala. “Eu quero fazer uma previsão: ele nunca mais vai ser recebido aqui. Ele viverá em desgraça, evitado por uma comunidade cinematográfica que o abraçou e encobriu os seus crimes”

 

 

A atriz foi uma das primeiras vítimas a se pronunciarem após os escândalos envolvendo o produtor e não parou por aí. Argento ainda fez referência aos que se comportam da mesma forma mas ainda não foram responsabilizados por seus atos.

“Vocês sabem quem são. Mas mais importante, nós sabemos quem vocês são, e nós não vamos permitir que se livrem disto por muito mais tempo.” finaliza.

Após todas essas pontualidades, vamos às categorias e os vencedores da 71ª edição do Festival de Cannes.

Quem levou o prêmio principal, a Palma de Ouro, foi o filme do diretor japonês Kore-Eda. Shoplifters é uma crônica que muda o conceito de “família”. Um misto de comédia e drama, a produção acompanha as aventuras de um grupo de trambiqueiros que adota uma menininha e muda sua rotina por isso.

A saga de um policial negro que se infiltra no Ku-Klux-Klan e consegue se tornar lider da seita, retratada em BlackKklansman, de Spike Lee, levou o Grand Prix, o segundo prêmio mais importante depois da Palma de Ouro.

Lista dos premiados:

  • Palma de Ouro: Shoplifters, de Hirokazu Kore-eda
  • Palma de Ouro Especial: Le Livre d’Image, por Jean-Luc Godard
  • Grand Prix: BlackKklansman, por Spike Lee
  • Documentário: Samouni Road, de Stefano Savona
  • Prêmio Especial do Júri: Capharnaüm, de Nadine Labaki
  • Direção: Pawel Pawlikowski, por Cold War
  • Atriz: Samal Yesyamova, por Ayka
  • Ator: Marcello Fonte, por Dogman
  • Roteiro: Alice Rohrwacher, por Lazzaro Felice, empatado com Nader Saeivar e Jafar Panahi, por 3 Faces
  • Caméra d’Or (filme de estreia): Girl, de Lukas Dhont
  • Curta-metragem: All these creatures, com menção honrosa para On The Border
  • Prêmio da Crítica: Burning, de Lee Chang-Dong
  • Prêmio do Júri Ecumênico: Capharnaüm, com menção honrosa para BlackKklansman