Segundo dados do Banco Mundial a pirâmide etária brasileira está em transformação desde meados dos anos 80. O aumento da população idosa faz com que a temática da terceira idade esteja cada vez mais presente nos setores da sociedade. A mídia é um desses lugares onde se fala sobre a velhice. As representações de pessoas idosas aparecem em produções publicitárias, filmes e no jornalismo. Diante dessa temática conversamos com pessoas que apresentaram suas perspectivas sobre o tema.
Graça Moreira, 67 anos, é modelo da terceira idade e participa de desfiles e programas de TV. A modelo acredita que envelhecer é uma dádiva e acha que existem pessoas que adorariam chegar na sua idade e não tiveram a oportunidade. Já Estella Dollorice Corte dos Reis, 86 anos, aposentada da produção rural, acha que envelhecer é ruim. Ela sente que o tempo passa muito rápido e considera que depois dos setenta anos a vida começa a ficar triste e passa a depender de outras pessoas. Maria Melcinda de Souza, 67 anos, aposentada que já exerceu várias funções, como professora de dança, enxerga que a experiência adquirida durante a vida é algo importante e que pode ser passada para os filhos e netos.

Graça Moreira em seu trabalho como modelo
A temática do envelhecimento é abordada muitas vezes pela mídia com um viés positivo, que apresenta a ideia de terceira idade feliz. Para saber mais sobre isso, falamos com a doutora Daniela Polla, que estuda a questão dos discursos sobre a velhice. Ela conta que sua tese se baseia na ideia de velhice saudável. Esse dispositivo estaria, então, presente nos discursos da mídia e da ciência.
Daniela diz que “a mídia vai falar de um idoso ativo, que se aposenta e continua no mercado de trabalho, faz escalada, atividade física, viaja, consome uma série de produtos. É um idoso que domina perfeitamente bem as tecnologias e busca características que são da juventude como cuidar do cabelo, das rugas.”
Ela ainda aponta que os discursos sobre a velhice também invisibilizam uma série de fatores, “se apaga o idoso que a família abandonou no asilo, toda a questão de patologias.” A doutora considera que a forma como se fala dos idosos “tem uma relação quase que direta com o que nós compreendemos do que é ser idoso. Então se a mídia só mostra um idoso saudável a gente tem uma tendência a aceitar esse discurso e compartilhar essa opinião”.
A peça publicitária abaixo, do Itaú Viver Mais, exemplifica como a ideia da velhice saudável está presente nas produções midiáticas. O texto destaca que os idosos devem ser ativos e realizarem atividades físicas. A imagem mostra idosos felizes e dançando.
Polla acredita que uma mudança na maneira como se representa os idosos na mídia é necessária, além de se pensar políticas públicas e ações para que se possa cuidar dessa população e de suas demandas. Para ela “é um papel da mídia propor pautas e problematizar essa forma de falar da velhice.”
Existem visões diferentes sobre a existência de um “espírito jovem” na velhice. Para Estella Reis tudo vai mudando com o passar do tempo e a velhice traz um “espírito velho”. Já Moreira acha que o “espírito jovem nasce com a gente, porque você vê por aí muito jovem com espírito de velho”.
Graça Moreira acredita que as coisas não são exatamente como são veiculadas na mídia. Para ela chamar a terceira idade de melhor idade, por exemplo, é maquiar a velhice. “A melhor idade é a juventude mesmo, porque se pode fazer o que quiser com o corpo”, conta Moreira. Ela também diz que criou uma auto estima para combater a velhice, já que percebeu que em qualquer idade é possível ser feliz, bonita e elegante.
Estella considera que a forma que os idosos aparecem representados na mídia esconde “as doenças e os mil remédios.” Ela conta que nem ela nem seus conhecidos chegaram a velhice fortes como se é mostrado no discurso midiático. Para Estella, quando se envelhece não existe mais uma preocupação com estar bonita ou não.

Maria Melcinda de Souza, de 67 anos
Maria Melcinda acredita que as propagandas tem que estimular os idosos a levarem uma vida mais saudável, fazendo exercícios. Porém ela acha que deve-se tomar cuidado com os discursos que estimulam os idosos a procurar se parecerem mais jovens, para ela, isso de nada adianta, pois a juventude não irá voltar. Ela é a favor de técnicas naturais para permanecer bem e considera errado estimular o uso de recursos como as cirurgias plásticas.
Conclui-se, então, que a mídia tem um papel importante na influência na vida dos idosos, mesmo muitas vezes não expressando uma realidade. Assim é importante que haja uma frequente análise dos discursos que estão presentes nas produções para que os idosos se sintam midiaticamente melhor representados.