Hoje (10) aconteceu na Universidade Estadual de Maringá (UEM) a aula inaugural do curso de Comunicação e Multimeios, organizada pelo Centro Acadêmico (CACO), que este ano trouxe a Prof. Dra. Luciana Panke, docente na Universidade Federal do Paraná, para discutir o tema “A (in)visibilidade da mulher no processo político” e a presença feminina no cenário político-eleitoral.

A abertura do evento contou com a presença e as falas de representantes do CACO, do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e da reitoria, além da Prof. Coordenadora Dra. Ana Cristina Teodoro da Silva, todos salientando a importância de representatividade, inclusão e integração em todos os âmbitos da política, atentando também para a busca de mudanças neste ano de eleição.

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Já a professora começou contando suas experiências pessoais, o qual queria sair da zona de conforto e embarcou para no México, onde realizou seu pós doutorado, enfrentou situações de assédio e machismo que a incentivaram a pesquisar sobre a propaganda eleitoral de mulheres na América Latina, entrevistando mulheres de 15 países e analisando as campanhas de diversos países do continente e sistematizando três perfis encontrados nas candidaturas femininas: guerreira, maternal e profissional.

Panke também salienta que a sociedade é repleta de culturas machistas, como a cultura da incompetência, do silêncio, do estupro, da servidão, da inadequação política, da submissão ideal e do “mimimi”, todos inferiorizando e estereotipando a mulher, não dando voz para participar efetivamente não apenas na política, mas até de âmbitos do cotidiano como um almoço de família (onde a mulher “deve” cozinhar, lavar e limpar enquanto o homem faz o churrasco, come e bebe) ou no trânsito. Ademais, mesmo em locais onde há maior número de representantes femininas no parlamento, como na Bolívia, as mulheres não escapam do machismo presente no âmbito da política, e não têm suas opiniões e decisões ouvidas, não participam efetivamente.

A aula é finalizada com a professora afirmando que o início da vida política de muitas mulheres se dá pela: influência familiar e escolar; militância na base de partidos, movimentos sociais e/ou sindicatos; ou pela experiência no mercado de trabalho ou no funcionalismo político e deve-se naturalizar o fato de ter mais mulheres na política e não restringir determinados assuntos como “de mulher”, como se a representatividade feminina não fosse importante para a política.

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O Comunica também selecionou algumas perguntas feitas pela plateia:

1) Você falou a respeito da imagem da mulher na política: a guerreira, a mãe, a profissional… Mas e o perfil de fato? O perfil necessário para encarar os desafios que estão na carreira política?

Luciana Panke: Em termos de formação profissional, tinha formações variadíssimas das entrevistadas, não teve então uma profissão que se destacou ou tivemos mulheres só com ensino universitário, algo assim. O que eu notei era uma aptidão que parecia natural, não vou dizer todas, mas a maioria com carisma, sabe? De conseguir ter expressão verbal, todas me receberam tão bem, todas eram tão firmes nas suas conexões, que eu acho que independente de qualquer formação universitária, essa foi a primeira característica. Acho que uma firmeza, a dedicação e uma causa para lutar. Essa é a linha norteadora desse perfil da mulher política.

2) Você comentou da diferença do parlamento, falou um pouco da Hilary Clinton, um pouco do parlamento inglês e eu queria saber se você chegou a estudar para ver se essa diferença na América Latina é muito grande em relação a Europa e aos Estados Unidos, ou se esse quadro de certa forma se repete?

Olha, eu só olhei de curiosa, não como pesquisadora. Eu tenho o intuito de levar essa pesquisa para outros continentes porque tive a oportunidade de entrevistar uma belga, e algumas americanas também, e a belga falou: “olha, mesmo a questão que vocês sofrem aqui de discriminação da mulher na política, eu também sofro lá. A única diferença são as pautas, que lá não exige que a gente faça pesquisa pública”. Eu falei: “nossa, lá não tem nem saneamento básico, né? Mas tudo bem, estamos falando da Bélgica”. Mas ela foi a primeira que me assinalou nesse sentido.

Uma outra que estava em um acampamento de refugiadas falou: “olha, vocês estão brigando por protagonismo político, e nós brigamos pela sobreviência”, então aquilo me arrepia até hoje, me deixou assim “meu Deus, é uma coisa muito impressionante”, então foi assim, um tapa na cara em relação a situação mundial, isso estimulou com certeza a minha curiosidade, mas o que eu tenho visto é puramente “Luciana vendo Netflix e jornal com a perna pra cima no sofá”, então não é uma pesquisa realmente ainda, mas espero chegar lá.

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E batemos um papo rápido com a professora Luciana:

1) Como foi essa experiência de estar aqui durante a aula inaugural?

Luciana Panke: Foi a primeira vez que eu vim pra cá, de estar participando da UEM, e é muito legal quando se tem a oportunidade de falar pra jovens porque você está plantando, semeando para uma mudança de cultura, e como eu falei muito de cultura, essa questão geracional, de observar por exemplo com era a família de minha avó, a minha mãe, a minha, da minha filha, e assim por diante, você vai notando mudanças nos comportamentos. Então ter a oportunidade de falar para jovens é já fincar o pé na esperança de mudança geracional, porque a partir do momento que a gente coloca outros questionamentos para um grupo que está começando sua vida profissional, que está em fase de questionamento etc, é um dos momentos mais gratificantes pois você deposita esperança nisso, e pelo que observei, quase todo mundo ficou até o final e teve muitas perguntas, muita interação pelos olhares, então pra mim foi sensacional, estou indo embora bem realizada.

2) Com esse quadro de desigualdade e de culturas tão excludentes para as mulheres, onde achar motivação para entrar no meio político?

Justamente porque tem esse quadro que a gente tem que se motivar, porque saber colocar, tomar para si a responsabilidade também da mudança, não só esperar que os outros façam mudança, mas que a gente também pode ser um agente de mudança e transformação. Então justamente porque tem a desigualdade que a gente tem que tomar a iniciativa e também lutar contra isso, ser pessoas que praticam o ato de resistência: “não, a gente não vai ceder, isso é um direito e vamos batalhar por ele”. A gente tem que estar representada e ter uma voz ativa e escutada, mas sem dúvida, disso nós não podemos abrir mão.