Por meio de seus livros, Chimamanda Adichie conseguiu atrair uma grande atenção para literatura da África. É mundialmente famosa e é reconhecida como uma das mais importantes jovens autoras anglófonas, bem sucedida em atrair uma nova geração de leitores de literatura africana. Seu trabalho carrega a militância em prol da igualdade de gênero, enquanto demonstra a importância da ampliação de vozes na literatura. A artista teve ampliada a atenção sobre ela quando trechos de seu discurso “We Sould All Be Feminist” (Todos nós devemos ser feministas), foram adicionados na canção Flawless, da estrela pop Beyoncé. Por isso, o Comunica UEM convida você para escutar essa música enquanto lê a matéria.
Chimamanda Ngozi Adichie nasceu na cidade Enugu, estado de Anambra na Nigéria, , em setembro de 1977, mas cresceu na cidade universitária de Nsukka, no sudeste da Nigéria. Seu pai era professor universitário de Estatística e sua mãe trabalhava como administradora no mesmo local. Quando Adichie completou dezenove anos, deixou a Nigéria e se mudou para os Estados Unidos da América. Depois de estudar na Universidade Drexel, na Filadélfia, Chimamanda se transferiu para a Universidade de Connecticut. Estudou a escrita criativa na Universidade Johns Hopkins de Baltimore, e mestrado de estudos africanos na Universidade Yale.
Ao chegar nos EUA, se surpreendeu com o estereótipo que mantinham em torno da África. Uma colega de quarto pediu para ouvir “música tribal” da região em que nasceu e ficou desapontada quando ela tocou uma fita da cantora pop americana Mariah Carey. “Também achou que eu não sabia usar o fogão. O que me impressionou é que ela sentiu pena de mim mesmo antes de me conhecer”, disse em uma conferência no TED em 2009. Adichie também observou nessa conferência, que aceitamos ideias preconcebidas de assuntos que, muitas vezes, ignoramos. “Se as informações que eu tenho sobre a África fossem apenas imagens, também pensaria que o continente é formado por lindas paisagens, animais e pessoas incompreensíveis lutando em guerras sem sentido, morrendo na pobreza e de aids, incapazes de falar por si mesmas e à espera de um estrangeiro branco para salvá-las.”
Em 2003, foi publicado o primeiro romance de Chimamanda, “Hibisco Roxo”. O livro foi bem recebido pela crítica, indicado a prêmios e ganhador de “melhor primeiro livro” pelo Commonwealth Writers. A segunda obra foi uma homenagem a bandeira de Biafra, local retratado na narrativa de “Meio Sol Amarelo”, sobre antes e depois da guerra. O livro ganhou uma adaptação para um filme com o mesmo nome. Entre outros títulos importantes de seu trabalho, o romance “Americanah” foi escolhido pelo New York Times para a lista de “10 Melhores Livros de 2013”. Além disso, no ano seguinte Chimamanda foi nomeada como uma entre os outros 39 escritores como destaques da profissão com menos de 40 anos.
Hibisco Roxo é narrado por Kambili, uma menina rica, filha de um grande empresário nigeriano. Kambili e seu irmão Jaja são superprotegidos a limites que beiram o abuso paterno, mas vestem as melhores roupas, estão acostumados com os pratos mais refinados e com uma abundância que em nada se aproxima das histórias de África que ouvimos por aí. Na outra ponta da história, seus primos Amaka, Obiora e Chima crescem em um ambiente de crise. A universidade onde sua mãe trabalha está sempre em greve, a comida é simples e até combustível está em falta. Chimamanda não escreve para explicar a Nigéria para seus leitores. Não é ela que vai dizer a alguém que tratar a África, um enorme continente, como uma realidade única e homogênea é, no mínimo, estúpido. Mas ao ler seus romances, é possível entender melhor aquilo que nunca chegou até nós.
“Em 2003, escrevi um romance chamado Hibisco roxo, sobre um homem que, entre outras coisas, batia na mulher, e sua história não acaba lá muito bem.”
Trecho retirado do livro Sejamos todos feministas. Edição do Kindle.
Meio Sol Amarelo é uma homenagem que Chimamanda decide prestar ao povo igbo e aos seus familiares que viveram a guerra de independência de Biafra. Um país pequeno que existiu por um breve período de tempo e hoje é novamente parte da Nigéria. E por acaso você estudou a secessão biafrense na escola? Nós estudamos as unificações alemã e italiana e até a Guerra da Coreia, mas nunca sequer é mencionado Biafra. A guerra entre a Nigéria e a República de Biafra foi, na verdade, um massacre. Teve início com o massacre de milhões de pessoas da etnia igbo e continuou assim até o fim. Biafra foi uma tentativa de resistir, de permanecer vivo e de sobreviver ao ódio entre etnias. Enquanto tudo acontecia, ninguém no resto do mundo tinha qualquer tipo de informação sobre isso, ou se tinha, fazia questão de ignorar. Durante a guerra, nenhum órgão internacional interferiu a favor de Biafra. Ninguém denunciou o massacre. Ninguém vestiu luto pela população assassinada. “O Mundo Estava Calado Quando Nós Morremos” é o nome de um livro escrito por um dos personagens e também do poema que abre o livro fictício, e é também o que Chimamanda diz ao longo de todo o romance, como as relações pessoais definham durante uma guerra, como é preciso lutar por espaço para subjetividade quando uma bomba pode cair sobre a sua casa a qualquer momento.
Deixamos aqui o vídeo “o perigo de uma única história” como inspiração para todos e todas nós lermos Chimamanda Adichie.
Ler o trabalho de uma mulher, negra, africana, declaradamente feminista é, no mínimo, empoderador. Quando esse trabalho é de tirar o fôlego, como no caso, simplesmente não consiguimos achar um único motivo para não lê-lo.
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Veja também a matéria “As Negras Fazem Histórias Sim” em que abordamos um pouco do trabalho de Adichie.
Fontes: