Quarta-feira, 26 de abril, frio e chuva, feira do Produtor de Maringá. É nesse cenário que acompanhamos por algumas horas o trabalho de Seu Wilson e de sua filha, Graziela

Wilson Radael, 60, está na feira há aproximadamente sete anos. Em sua barraquinha comercializa produtos como a mandioca, o abacate, o morango (de bandeja e congelado), o palmito e a goiaba – sendo este último o carro-chefe – fruta que ele trabalha há quase 20 anos.

Flor de goiaba que Wilson fez especialmente para nós enquanto conversávamos

Flor de goiaba que Wilson fez especialmente para nós enquanto conversávamos

Na época em que começou na feira, Wilson conta que comprava as mercadorias de terceiros e depois as vendia, mas que por questões práticas passou a plantar também. O plantio acontece em São Tomé, cidade localizada há aproximadamente 100 km de distância de Maringá e onde o produtor reside.

Apesar de ter que se deslocar três vezes toda semana, Wilson afirma não ter vontade de mudar para Maringá, lugar em que residiu antes de ir para sua cidade atual. Já Graziela, 21, acredita que mais cedo ou mais tarde essa mudança irá acontecer. Ela, que sempre morou na cidade e permanece por conta da faculdade, ajuda o pai na feira quando não está frequentando as aulas ou o estágio.

O pai e a filha: muito amor, respeito, colaboração e orgulho envolvidos

O pai e a filha: muito amor, respeito, colaboração e orgulho envolvidos

Wilson nos explicou um pouco como funciona a sua rotina. Nas segundas e quartas a colheita é feita no mesmo dia em que a feira irá ocorrer. A montagem começa às 15h30, mas só é permitido vender a partir das 16h30, quando toca o sinal marcando o início da Feira do Produtor. Aos sábados é diferente: é preciso colher no dia anterior, pois a feira acontece no período da manhã. Durante a madrugada, próximo às 4h30, o estande é montado e as vendas já podem ser feitas.

A família conta com clientes dos mais variados tipos e perfis. Clientes que já são fiéis; clientes que encomendam produtos antes do expediente começar e só aparecem para buscar; clientes que aproveitam também para conversar – desde assuntos mais corriqueiros até sobre o cenário político atual; clientes que auxiliam nas vendas através da propaganda “boca a boca”. Durante o período em que estivemos ali, vimos gente levando para casa 15kg de mandioca; pessoas já encomendando produtos para a próxima feira; clientes que só perguntavam o preço depois de já estarem com o produto em mãos. O perfil de clientes é bem variado, tanto em hábitos de consumo quanto em idade e gênero.

Nem o tempo fechado impediu que as pessoas “fizessem a feira”

Nem o tempo fechado impediu que as pessoas “fizessem a feira”

Roberto*, cliente fiel de Wilson há mais de três anos, compartilhou conosco alguns dos motivos de comprar na feira, mais especificamente com o nosso conhecido feirante: a qualidade dos produtos é muito superior a dos alimentos encontrados no mercado, por exemplo. A procedência desses alimentos também é outro fator, pois, em suas palavras, “você conhece a pessoa que plantou e colheu, sabe de onde aquilo está vindo”. É possível ainda encomendar produtos à maneira que você os prefere e até mesmo “reclamar se a mandioca não cozinhou”. Roberto nos conta, ainda, que vai à feira pelo menos um dia na semana, preferencialmente na segunda ou na quarta-feira. Ele é um dos clientes de Wilson que nos despertou curiosidade ao perguntar o preço somente depois de já estar com as mercadorias em mãos. Quando questionamos, ele nos disse que o preço era secundário, a qualidade era absoluta e que sabia que ali ele não seria cobrado por nada além do justo.

Além de “venderem o seu peixe” os feirantes também consomem “o peixe dos outros” e constroem vínculos com “os outros vendedores de peixe”. Durante a produção, enquanto um dos dois (Wilson e Graziela) ficava na barraquinha, o outro saía e voltava logo depois trazendo produtos de outros feirantes, ou para conversar e ajudar os colegas vizinhos: “Ele [seu Wilson] diz que vai ao banheiro ou dar uma volta e fica batendo papo com o pessoal. Às vezes ele até se perde na conversa e eu fico aqui atendendo e tomando conta”, conta Graziela aos sorrisos.

A Feira do Produtor de Maringá reúne por volta de 150 barracas que comercializam alimentos e produtos dos mais variados: desde a goiaba de Wilson até alimentos processados como queijos e conservas. Segundo o portal maringa.com, as edições semanais da feira atraem juntas uma média de 30 mil pessoas. A Feira conta também com uma página no Facebook, em que podem ser encontradas outras informações de funcionamento e notícias. No site da prefeitura de Maringá é possível encontrar informações sobre todas as feiras livres que acontecem na cidade.

Não resistimos. A mandioca oferecida com tanto zelo por Wilson e Graziela está aprovadíssima por nós também

Não resistimos. A mandioca oferecida com tanto zelo por Wilson e Graziela está aprovadíssima por nós também

*Nome fictício do personagem, que preferiu não revelar publicamente sua identidade.

Reportagem realizada por Aline Namie e Giovanna Pedrosa.