Nesta entrevista, os alunos Gabriela Bueno e Phill Natal buscam conhecer um pouco mais sobre a formação do Prof. Mestre Tiago Lenartovicz e como ela contribui na atual função em que desempenha. Confira:
1. Como você chegou até a área da Comunicação?
Prof. Tiago: Na época da escola, eu trabalhava com os meios de comunicação como jornal e site. Tínhamos uma equipe que produzia esse tipo de material. Assim, comecei a percorrer esse caminho tanto na produção de material jornalístico, quanto ilustração, criação de charges e anúncios. Ali, eu comecei a ver e me interessar por essa área e decidi fazer parte desse mundo.
2. Analisando seu currículo, observamos que você transitou por diversas áreas da comunicação tanto na parte acadêmica como na profissional. Como isso contribuiu para sua formação hoje no cenário dos multimeios?
Prof. Tiago: Acho que para conseguir ensinar determinadas participações da comunicação e campos profissionais, essa passagem pelo lado profissional do mercado de trabalho é importante para conhecer o que de fato as pessoas pensam sobre comunicação. Ver o que elas esperam dos profissionais, o que elas entendem de errado e, com isso, dar um retorno bom para os alunos. Para eles, que ainda estão na universidade, possam pensar o que dá para fazer e onde é possível trabalhar. Isso é pertinente da minha formação, não é? Nós temos que transitar, mesmo não atuando na área do mercado da comunicação, nós sempre temos que transitar, saber o que as pessoas têm pensado sobre os profissionais, o que se discute, o que se produz em comunicação e sempre trazer isso para as discussões dentro da sala de aula. É mais do que pensar só na formação e no mercado.
3. Você possui mestrado em Letras. Qual a relação entre Letras e Comunicação? Quais as contribuições de uma área com a outra?
Prof. Tiago: Quando eu trabalhava com comunicação me interessava muito pela área de redação. Tive interesse em me aprofundar porque eu sentia a necessidade de entender um pouco mais as questões relacionadas ao texto, produção e linguagem. Essas áreas se comunicam muito bem, existem pontes muito sólidas, eu vi análise do discurso tanto em Letras como em Comunicação, também estudos da linguagem e estudos da forma de construção textual. As formas como o texto e a linguagem têm significados representa algo na formação de identidade e do sujeito, tudo isso se comunica muito bem.
4. Observamos que seu mestrado trata de Letramento digital, assim como outros trabalhos publicados. O que é letramento digital?
Prof. Tiago: É uma questão relacionada às práticas de ensino e aprendizagem, é um termo pouco usado. Entendemos essas práticas como alfabetização. Letramento é quando analisamos questões que estão relacionadas às nossas práticas sociais. Quando falamos em letramento, estamos simplesmente estudando como se entende um texto, um diálogo, uma comunicação. O letramento é uma forma de explorar várias relações dentro de práticas sociais que utiliza a linguagem. Digital é essa nova forma de utilizar tecnologias para a comunicação, para o ensino e aprendizagem. Então, alguns chamam de letramento digital, outros como multiletramento. Mas, é essa possibilidade de termos várias telas ou as expressões possíveis de serem colocadas nos meios digitais.
5. Hoje, você é coordenador do ComunicaUEM. O que é esse projeto e como surgiu?
Prof. Tiago: O ComunicaUEM é um laboratório experimental para os acadêmicos de Comunicação e Multimeios. Ele surgiu com a professora Cibele, em uma disciplina e os alunos produziam e publicavam nesse espaço. Essa ideia foi ganhando corpo até que ele se tornou um projeto do curso, deixando de ser limitado à disciplina. Eu entrei no projeto e deixamos aberto para outros anos e os outros alunos. O projeto visa as práticas de comunicação nas diferentes plataformas e tenta criar produtos que fujam das formas mais tradicionais. Por isso que falamos ser um laboratório, a dinâmica de produção é diferente, a dinâmica de conteúdo e busca de conteúdo também é diferente. Hoje, fazem parte do projeto a professora Fernanda, professor Paulo, professor Gustavo e eu. Além destes, contamos com cerca de 10 alunos. Temos reuniões semanais e reuniões pelo facebook onde discutimos os temas e a produção. A ideia é justamente criar um espaço onde consigamos colocar os produtos produzidos pelos alunos do comunicaUEM e dos alunos do curso, porque muitas vezes fica descentralizado, um publica numa página, outro em outra. Então é legal tentarmos centralizar as produções para todo mundo acompanhar o que cada um está fazendo e também ser uma proposta institucional. A ideia é em breve termos isso de forma mais completa.
6. Qual a importância do ComunicaUEM para os acadêmicos do curso de Comunicação e Multimeios?
Prof. Tiago: É principalmente a ideia de você ter dentro do curso uma proposta de colocar ideias em prática, levar discussões, produzir alguma coisa. Fazer com que as discussões que são levantadas em sala de aula sejam traduzidas em produções, também ajudar os alunos a se identificarem com determinadas áreas ou focar naquilo que acham mais interessante dentro da comunicação.
7. Seu artigo publicado em 2015 que traz o filme Rio como objeto de estudo trata sobre a construção da identidade. Considerando o curso de Comunicação e Multimeios, como um comunicólogo deve enxergar o papel da mídia tradicional na construção das identidades?
Prof. Tiago: Dentro dessa nossa área nós temos uma grande possibilidade de análise e de produção com relação a essas ideias de construção de identidade. O artigo é relacionado a uma animação que retrata uma identidade brasileira. Dentro da nossa possibilidade de estudo e de pesquisa na área da comunicação, o comunicólogo tem que sempre entender o que está sendo dito de uma forma crítica, tem que saber analisar isso por diversos vieses, tem que entender contextos históricos, socioeconômicos e socioeducativos. É preciso que um comunicólogo possa fazer parte de forma imersiva dessas relações, porque estudar as relações de identidade não é fácil, precisamos levar em consideração diversos aspectos. Então, nós não conseguimos traçar perfis, a mídia tradicional normalmente traça identidades muito fáceis de serem identificadas ou de serem definidas. Eu acho que como comunicólogos temos que observar como essas identidades são traçadas, como elas vêm se modificando, e se não se modificam, questioná-las. Temos que observar como nós, comunicólogos, além dessa análise crítica, podemos contribuir para produzir identidades que condizem melhor, também questões de visibilidade e diversidade que possam fazer parte de todas as formas de comunicação tanto tradicionais como não tradicionais.
8. Você tem formação também em publicidade. Percebemos que a publicidade é uma área já estabelecida no mercado de trabalho diferente da Comunicação e Multimeios que é uma área nova. Qual perspectiva você tem do profissional de Comunicação no mercado de trabalho?
Prof. Tiago: Acho que a perspectiva é boa, desde a minha formação até agora muita coisa mudou. Antes tínhamos perfis de profissionais de comunicação muito bem estabelecidos: o publicitário, o jornalista, o RP [relações públicas]. Como vemos no curso, temos perspectivas diferentes de entender um profissional da comunicação, só que por outro lado ainda vemos os profissionais da comunicação muito à margem, vemos mercados muito monopolizados e centralizados. A maior responsabilidade de quem vem se formando agora e nossa, como professores, é não deixar que essas novas mídias, não-tradicionais, se viciem ou peguem os aspectos das mídias tradicionais. Então, é um campo ainda a ser explorado, porque as mídias tradicionais têm aspectos muito enraizados, as novas mídias tendem a ter uma abertura e uma dinâmica diferente. Mas sabemos que isso atrai os grandes olhos dessas mídias tradicionais, elas querem fazer parte disso. É uma luta muito forte tentar fazer com que essa mídia consiga de certa forma ter a sua forma mais democrática. Assim, temos que pensar em formas mais democráticas da mídia, democratização da mídia e da comunicação. Acho que o perfil do profissional de hoje tem que ser mais dinâmico e mais atento, mas principalmente uma coisa que batalhamos muito aqui é saber desenvolver esse perfil crítico e analítico dentro dessas áreas. Não é uma área estável, é extremamente mutável. Eu acho que isso é bom para todos, não deixa os professores ficarem acomodados, mexe com os profissionais que acham que já são os cabeças de tudo, quando chega um pessoal novo com novas ideias isso tende a mudar. É uma área que precisa muito de pessoas que persistam justamente porque a área da comunicação ajuda muito a transformar as coisas ou reforça as existentes. O profissional tem que saber onde que ele se situa e é esse o ambiente que nós aqui na Universidade tentamos promover”.
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