As alunas Natália Denipoti e Heloisa Lima realizaram a seguinte entrevista com o Prof. Dra. Cristiane da Silveira Lima a fim de saber um pouco mais sobre suas experiências profissionais e acadêmicas. Confira:
1. Você é mestre e doutora em comunicação social. Na sua visão o quê é multimeios na comunicação?
Prof.ª Cristiane: Bom, na verdade, a palavra multimeios ela pode ser lida de diferentes maneiras dependendo da linha por onde você segue dependendo do autor com que você está trabalhando. Eu entendo que Multimeios tem haver com uma multiplicidade de camadas de sentido que você vai explorar em um determinado produto ou numa determinada abordagem de um fenômeno comunicativo quando você fala multimeios se pressupõe que você está lidando com uma diversidade de coisas que se convergem para um determinado fim, produto,obra então existem muitas maneiras de abordar a questão multimeios na comunicação. Na disciplina do 4º ano, por exemplo, nós temos discutido vários termos correlatos a ideia de multimeios que são, por exemplo, a ideia de multimídia, transmídia,hipermídia ou a ideia de convergência midiática são todos termos que dependendo dos autores estão se referindo a aspectos distintos que podem estar aí nesse grande campo do que são os multimeios da comunicação. Eu entendo que multimeios é essa multiplicidade de meios que podem ser sons, imagens, textos, fotografias ou pode ser uma textura ou mesmo o próprio corpo enfim tem a ver com um conjunto de coisas que vem a conversarem para fazer sentido dentro de uma determinada situação.
2. Na sua tese de doutorado você analisa como os filmes documentários brasileiros inscrevem a música e outros sons em sua escritura. Em sua opinião qual a importância da música/som para o cinema?
Prof.ª Cristiane: Muito interessante a pergunta. Bom, na minha tese, procurei como que o cinema é feito de imagens e sons combinados, formando uma escritura audiovisual que solicita uma certa escuta do espectador, requer um trabalho de escutar as obras. Para isso,se assiste ao filme ao mesmo tempo que o escuta embora, às vezes, nem se lembre disso, pois, normalmente, as imagens solicitam mais contundência do que o som, então nos esquecemos da questão sonora porém ela está sempre lá e sempre esteve, mesmo quando o cinema era mudo. Eu diria que o som é um componente tão importante quanto a imagem, ele sempre existiu junto ao cinema mesmo quando esses eram mudo porque os filmes sempre foram exibidos dentro de uma determinada situação que era ruidosa, às vezes, com música executada ao vivo, muitas vezes, com locutores/atores dublando os filmes por trás das telas. O ruído pode ser até pelo burburinho da própria situação, pois as produções cinematográficas eram exibidas em meio a outras atrações como circo, luta, dança e,então, o espaço do cinema abrigava outras práticas, apresentada essa informação eu diria que não existe cinema sem som ou sem música. No cinema mudo não havia sons nem músicas, mas as imagens podem fazer com que consigamos imaginar a música ou imaginar o som como, por exemplo, quando se dá close em um telefone faz o telespectador imaginar que o telefone está tocando mesmo que não escute o telefone tocando. Assim, eu diria que o som tem um papel fundamental na produção de sentido, porque quando se vê uma imagem sem som é diferente de ver essa mesma imagem com som, pois ele transforma a imagem e eu também diria que a imagem transforma o som. Um autor francês que é muito lido nos estudos de som e música no cinema chama Michel Chion e ele vai falar precisamente, que o som altera uma imagem e vice-versa, então não se vê nem se escuta uma coisa diferente quando se está separada quando ela está junta e ele chama isso de audiovisão. O espectador de cinema ou audiovisual está engajado nessa atitude da audiovisão que é perceber esse conjunto de imagens e sons.
3. Você realizou um estágio doutoral na Universidade de Montreal. No que ele te acrescentou em conhecimentos sobre a comunicação, cinema e música?
Prof.ª Cristiane: Muito legal! Fiquei durante 9 meses num grupo de pesquisa e criação que tem em Montreal chamado La Création Sonore que está vinculada ao Departamento de Estudos Cinematográficos e História da Arte da Universidade de Montreal e se trata de um grupo de pesquisa raro no mundo. Mesmo no Brasil, existem grupos de estudo sobre cinema mas eu não conheço muitos grupos que estejam focados nessa discussão sobre cinema e música/som tem alguns poucos, um na Bahia e outro em Curitiba na UFPR, que estudam música mas não, necessariamente, ligada ao audiovisual pois estão estudando música pop, radio e essas coisas, sem foco no aspecto cinematográfico. Em Montreal, o grupo de pesquisa tinha um apego grande com o cinema mas também nas artes midiáticas, então lá tive contato com um grupo de pesquisadores com uma formação diferenciada e consistente que entendiam mesmo de cinema e de música, muitos eram músicos profissionais e tocavam diversos instrumentos. Tive chance de ficar esse período bem imersa em um lugar onde tinha muita gente entendendo do assunto, porque no Brasil estive em ótimos grupos de pesquisa, mas onde as pessoas estudavam cinema e não tinham tanto esse pé na música como eu tinha e como eu gostaria de ter, então lá eu tive essa chance de conversar com pessoas muito boas nesse campo de estudo. O Brasil está em emergência nesse assunto, tendo pouca gente com esse foco e estando muito separadas, então foi uma oportunidade grande de refinar conceitos, formas de abordar, analisar e conhecer uma quantidade nova de autores para referências bibliográficas e fílmicas que eu não tinha aqui. Essa obtenção de conhecimentos é consequência de uma bibliografia imensa toda disponivel, filmes do próprio Canadá facilmente acessíveis na internet e nos sites com tradução, o conhecimento está bem organizado e disponível para o pesquisador. Aqui no Brasil, as vezes, nós, pesquisadores, temos que ficar correndo atrás das informações e no Canadá, estava muito mais na mão sendo importante,nesse sentido, pois eu conseguia acessar essas informações e conhecimentos que no nosso país não tem tão disponível e conseguir trazer para cá algumas coisas, algumas contribuições deixando na minha tese registradas e depois que eu voltei, outras pessoas já estiveram lá por meu intermédio sendo esse o começo de interlocução maior se fazendo. Para a minha experiência profissional, o ganho foi esse de conseguir desenvolver a minha pesquisa de forma mais consistente e com interlocução de gente de muita base.
4. Como o “Serelepe-uma pitada de música infantil” colaborou para uma visão de comunicação como arte acessível para crianças, utilizando como ferramenta músicas educativas e a Rádio UFMG Educativa.
Prof.ª Cristiane: A minha história com a música infantil começou bem antes do Serelepe de outros projetos que eu havia feito parte, sendo um deles o Pandalelê, laboratório de brincadeiras, do qual eu fiz parte durante 7 anos e que era coordenado pelo Eugenio Tadeu que também é o coordenador do Serelepe, onde fiquei 10 anos e agora eu estou de licença faz um ano mas eu ainda estou em bastante contato com o grupo. Quando o Serelepe nasceu, eu já tinha um pouco dessa experiência do Pandalelê de 7 anos e eu já estava cursando Comunicação, então eu diria que a música igual a comunicação são aspectos que dizem a respeito da dimensão humana, porque não existe povo sem música da mesma maneira que não existe povo sem comunicação e se ele não se comunica, há uma patologia. Sujeitos “normais” se comunicam e não há sujeito sem música, sendo isso parte da dimensão humana pois a comunicação significa criar vínculos, e a música também conecta pessoas entre si, ou às vezes com o divino por exemplo, as músicas envolvidas nos rituais indígenas. A música em si já tem uma dimensão comunicativa que devemos explorar, por volta de 2005, fui convidada a participar do Serelepe e a gente começou com esse programa de rádio mas, posteriormente, começamos a dar oficinas de formação para crianças, para professores, e,posteriormente, começamos a publicar textos. A partir disso, o próximo passo foi conceber o espetáculo, o disco e agora o grupo está preparando o segundo disco que vou participar como convidada. Paralelamente, fui estudando Comunicação e veja bem, eu acho que qualquer pessoa que queira fazer comunicação, comunicação no rádio ou por qualquer meio, tem que estar interessada nessa troca, em uma ideia de proporcionar vínculo de uma experiência compartilhada, porque esse pensamento de que comunicação é só transmitir é uma ideia um pouco equivocada. Entendemos que comunicação é estabelecer vínculos, então na rádio, pensando rádio e no público infantil ou mesmo as pessoas que fazem rádio, nós éramos estudantes e tinham outros estudantes envolvidos, era a ideia de fazer rádio com a possibilidade de estabelecer vínculos mediados pelas músicas, pelas histórias, pelas brincadeiras e piadas que a gente fazia entre nós. Atualmente, o programa é desenvolvido com alunos do curso de Teatro da Escola de Belas Artes da UFMG, sendo este desenvolvido por um grupo de 20 pessoas que estão envolvidas na feitura dos programas e algo ali é transformado com a relação delas com o professor, delas com a música e o ouvinte vai vir depois, mas sempre se pensa nele e esse vínculo com ele lá no ato de escutar. É importante que aqueles que fazem o programa já tenham tido uma reflexão sobre o que foi feito, então acho que a participação neste projeto fez com que eu colocasse em prática as coisas que estudamos em Teorias da Comunicação na faculdade e vamos rever no mestrado, mas lá foi uma vivência prática e intensa durante 10 anos de trabalho. Toda a semana com conteúdo inéditos, viajando vários países, ministrando oficinas, e em todo o lugar que a gente ia, tínhamos uma recepção bacana, então foi uma possibilidade de colocar em prática o que o grupo e eu sabíamos em teoria que, às vezes, a gente esquece, sendo uma vivência muito enriquecedora nesse sentido.
5. O que é o CINUEM? Qual é a importância do projeto CINUEM para a comunidade interna e externa à UEM ?
Prof.ª Cristiane: Bem, o CINUEM é um projeto que eu não idealizei, ele foi idealizado antes da minha chegada pela professora Fátima Neves, é um projeto abrigado pela Diretoria de Cultura da UEM, que já tem sua importância, sua relevância, que já tinha ali um certo público e que vivia assim até a minha chegada um momento assim meio complicado né, porque o diretor de Cultura tem milhões atribuições ele tava ali assumindo também né, o Projeto tava sem uma coordenação específica, então eu quando logo cheguei, eu mesma procurei ele, me coloquei à disposição, a gente fez uma reunião discutimos um pouco isso, e aí eu logo senti a vontade de abraçar o projeto né, o projeto consiste em exibir filmes semanalmente e promover debates, mas o formato disso tava um pouco aberto né, eu não tinha a obrigatoriedade de fazer como era feito antes, eu tenho um certo grau de liberdade para inventar ali, então depois que eu assumi a coordenação eu também criei o grupo de estudos de cinema no curso, que é um outro projeto mas está vinculado ao CINUEM, porque a ideia é de que os pesquisadores do grupo de estudos ajudem a amparar as discussões do CINUEM, porque como eu também sou de fora eu não conheço tanta gente eu não queria só trazer pessoas para discutir os temas, eu queria trazer pessoas para discutir cinema, discutir cinema e os temas também, mas sobretudo discutir cinema, então abriu o grupo e convidei os alunos, vieram outras pessoas interessadas também, e hoje a gente tem esse grupo de estudos, então pra mim do ponto de vista profissional e pessoal o CINUEM é uma chance de continuar trabalhando com cinema numa cidade onde o cinema na minha opinião ainda engatinha, a gente não tem muita produção aqui, então é uma forma de eu contribuir com a cidade e de contribuir com a formação dos alunos, já que essa é minha área de estudos, então eu acho que é onde eu poderia deixar mais contribuições, seria nessa área, tem outras contribuições a deixar também, mas acho que essa é uma boa área para deixar boas contribuições, eu acho que nesse sentido a gente pode ajudar a UEM, a comunidade interna e a comunidade externa a terem acesso a filmes e discussões que de outra maneira elas não teriam acesso, então fazendo exibições que são gratuitas, são abertas à comunidade, que começam sempre no mesmo horário, a gente não falha né, e tentando fazer um debate qualificado, eu acho que é uma forma da gente criar público, da gente incentivar a novos idealizadores a fazerem, a gente fez o FEVUEM que é um festival de vídeos da universidade, e não deixa de ser uma parceria, o CINUEM foi realizador do FEVUEM, então o CINUEM é um grande projeto que abarca outras iniciativas, as exibições, os debates, o grupo de estudos, o festival, e poderiam vir mais iniciativas ainda, então para mim é uma área onde eu posso desenvolver o meu campo de estudos, na minha área de interesse de pesquisa, que foi tema do meu doutorado inclusive, o cinema, eu posso ajudar os alunos na sua formação e posso ajudar fomentar esse espaço de interlocução, de formação de público e de novos realizadores.
6. O que é o FEVUEM? A segunda edição do FEVUEM teve o CINUEM e o grupo de estudos de cinema como parceiros-idealizadores, sendo a importância inegável de tal iniciativa como você vê o impacto da valorização das ideias de jovens do Paraná tendo seus curtas e vídeos exibidos e premiados?
Prof.ª Cristiane: Primeiro o que é o FEVUEM, FEVUEM é um festival de vídeos da Universidade, foi idealizado pela Leila Antoniassi que ainda é aluna do curso, e que foi realizado no ano passado sua primeira edição, na sua segunda edição a gente decidiu formalizar ainda mais a institucionalização do projeto, esse ano o projeto não foi feito pela Leila mas foi feito pela DCU, pelo CINUEM, pelo grupo de estudos e também pelo Núcleo de Estudos Cinematográficos (NECIM), que é um órgão externo da cidade [de Maringá], é um grupo de entusiastas de cinema, e a gente fez esse festival que tinha como objetivo valorizar essas produções de estudantes, de instituições públicas ou privadas do Paraná, não só graduação, podia ser técnico e ensino médio também, e premiando aqueles que se destacam, mas eu diria que a questão da premiação ela é secundária, daí eu passo pra sua segunda pergunta, como isso impacta, porque fazer o FEVUEM, na verdade a gente pode dizer que esses vídeos que são produzidos nas universidades por esses jovens realizadores, eles tem pouco espaço para circularem, existem poucos ambientes para isso circular, ou as pessoas vão mandar para festivais, que podem ser locais, regionais, estaduais, nacionais ,e internacionais, ou elas vão colocar na internet, ou vão tentar colocar na televisão, televisão é dificílimo você conseguir emplacar um filme, seja ele um curta ou longa, é difícil você passar coisas na TV, então seria a rede os pequenos festivais, as mostras estudantis, então fazer essas produções circular é uma demanda que requer trabalho, as pessoas as vezes tem dificuldade de fazer seu próprio filme circular, então o festival ampara, ele recebe essas obras, põe elas em circulação, e faz com que outras pessoas tenham acesso à elas, então a gente aqui de Maringá pode ver filmes da UNILA, da UNESPAR, gente que vieram de várias cidades do interior, vieram assistir seus trabalhos, mas também o dos colegas competidores, então a gente acredita que a gente tá ajudando a ampliar o público, e a formar e a criar uma cultura audiovisual, é um prática de sair de casa, ir ver filmes com outras pessoas que não é no shopping, que não é o mesmo tipo de filme, que tem outro formato, que tem outro propósito, e aí assim o impacto disso a gente ainda não sabe mensurar, mas eu acredito que a gente está ajudando a fomentar público e incentivar novos realizadores, na medida que você vai vendo mais coisas, você vai ganhando mais vocabulário, eu acredito que a médio prazo as produções vão melhorar, não apenas mais gente vai querer fazer, mas o que vai ser feito com o tempo vai se tornar melhor, mais competitivo, poderia inclusive chegar a outros âmbitos, não apenas no estado, mas chegar competir em outros tipos de mostra maiores, então por enquanto a gente está tentando fortalecer o local, fazer circular, fortalecer, criar público e incentivar que está aqui fazendo, mas a médio prazo a gente poderia pensar em projetos mais ambiciosos, a idéia é de que com tempo o público vai ficar mais vocabulário, vai ter mais contato com mais estilos, mais formas técnicas, enfim com outras narrativas, para incrementarem a sua produção e melhorarem aquilo que pode ser melhorado.
7. Você ministra a disciplina de Comunicação Comunitária, como ela colabora para uma visão mais ampliada tanto do fazer comunicação tanto do entendimento de comunidade como expressão?
Prof.ª Cristiane: A disciplina de Comunicação Comunitária ela também foi um programa de disciplina que eu não idealizei, eu estou implementando mais ou menos como ele foi imaginado, mas a ideia é discutir o que é a comunicação, porque o radical da palavra comunicação tem a ver com comum, que está também na raiz da palavra comunidade, comum, comunidade, comunicação, são palavras que tem aí a mesma raiz, então elas estão super conectadas, então de que maneira comunicação tem a ver com comunidade, que tem a ver com comum, bom tem a ver justamente com aquilo que a gente falou, com estar junto, mas não é estar junto num lugar, eu posso estar junto com várias pessoas aqui e mesmo assim não criar vínculos com elas, então estar junto de forma sólida, vinculada, de forma compartilhada, criar objetivos comuns, interesses comuns, isso tudo tem a ver com a disciplina, então na disciplina a gente também discute assim como que a Comunicação Comunitária ela tem a ver com práticas alternativas de comunicação, que às vezes colocam como contra hegemônicas, que vão na contramão daquilo que a grande mídia e a grande imprensa praticam como comunicação, então além de fugir dessa lógica transmissiva daqueles que detêm os meios de construção das representações narrativas, a ideia de que na Comunicação Comunitária todos podem produzir narrativas, imagens e textos que falam sobre aquilo que nos interessa, então pessoas comuns também passam a ter voz e lugar nessas práticas, elas não vão ser só suas consumidoras, elas vão ser autoras do texto, e vão estar ali em contato com outras pessoas produzindo coisas, então eu acho que essa disciplina ajuda a contribuir para os alunos verem comunicação não é só a TV, a rádio, essa grande imprensa, a equipe de marketing que trabalha numa determinada agência, não é só a empresa júnior, a comunicação ela pode estar em muitos lugares, você pode desenvolver projetos de comunicação com muito muito impacto social, que tenha muita relevância, que não necessariamente seja nesses lugares majoritários, eu acho que ali os alunos têm também a oportunidade de experimentar uma coisa mais próxima do seu cotidiano, tá em contato com pessoas comuns, e enfim fazer fazer um tipo de comunicação que realmente importa para as pessoas que não tem o objetivo de gerar lucro, que não tem objetivo de vender coisas, que não tem o objetivo de atender as expectativas do mercado, da grande mídia, mas que tem uma chance aí de fazer coisas legais com pessoas que estão alí mais próximo de seu universo e pensando questões políticas, questões sociais, porque a Comunicação Comunitária ela é contra hegemônica, ela tem a ver também com essa possibilidade de permitir sujeito comuns que não teriam acesso a determinadas coisas de terem acesso por meio da Comunicação Comunitária, como por exemplo jovens de periferia terem acesso à câmeras para poderem suas próprias narrativas sobre si, de outra maneira talvez eles não tivessem acesso, então a Comunicação Comunitária pode propiciar esse tipo de situação, esse tipo de ecossistema comunicativo onde as pessoas podem participar em iguais condições.
8. Fale um pouco mais sobre seu interesse pelo cinema, especialmente os documentários brasileiros dirigidos por mulheres.
Prof.ª Cristiane: Na verdade na minha pesquisa eu não foquei muito no cinema feito por mulheres, mas eu tenho tentado pelo menos no grupo de estudos, nas minhas aulas, eu tenho tentado ser democrática, assim todos os anos da vida na verdade a gente tem visto a presença dos homens tomando conta da situação. e o cinema não é diferente né, então o cinema, os grandes cineastas, toda a história do cinema é narrada por homens e protagonizado por homens também, as mulheres sempre foram as vedetes, as “belezas”, etc, mas também muito estereotipadas às vezes nos filmes mais clássicos, mas existem mulheres que estão fazendo filmes já há muito tempo, esse não tem sido o foco na minha pesquisa, mas tem sido foco da minha atenção de vez em quando, então na minha pesquisa eu estudei um filme da Marília Rocha, aquela cineasta mineira que eu tenho exibido nas minhas disciplinas, como o filme “A falta que me faz”, filme dela recente chama “A cidade onde envelheço”, na minha tese eu estudei um filme chamado “Aboio”, mas também tô discutindo os filmes da Petra Costa, enfim, da Maria Augusta Ramos, tem muitas né, no Brasil existem muitas eu não sou especialista nelas, mas tenha tentado no CINUEM cotejar filmes dirigidos por homens e também filmes dirigidos por mulheres, então neste ano que passou a gente exibiu Naomi Kawase, a gente exibiu Clarissa Campolina, mas dependendo do tema a gente tem dificuldade de encontrar porque são menos mesmo né, os homens dominam um pouco essa área, eu me interesso como mulher obviamente, porque eu acho que nós mulheres temos que galgar nosso espaço nos lugares, eu não sou cineasta, não tenho essa pretensão de ser, mas como crítica eu acho que posso dizer isso, é um lugar dominado por homens, eu acho que as mulheres elas tendem a contribuir para um outro olhar, pode não ser melhor nem pior que o dos homens, não se trata de ser melhor ou pior, mas eu acho que é preciso ocupar o espaço, como professora mulher que tá atenta essas coisas eu quero tentar pelo menos quando eu puder valorizar essa produção, porque ela existe, ela é minoritária, mas ela existe, ela é muito expressiva, e vale a pena ser visto.
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