As alunas Laisa Camila Martins e Tatiane Soares Codonho realizaram a seguinte entrevista com o Prof. Dr. Paulo Negri Filho a fim de saber um pouco mais sobre suas experiências profissionais e acadêmicas. Confira:

1. Em seu artigo “Inferências dos membros de redes sociais na internet a respeito de vinhetas de abertura de telenovelas”, o senhor menciona que a TV Globo se consolidou como a maior produtora de novelas do Brasil, por motivos como ter uma “fábrica de sonhos” denominada Projac, por possuir grande ajuda durante o período da ditadura militar, por apresentar novelas em horários distintos com diferentes temas e etc. Sendo a maior produtora de telenovelas logo esta tem uma garantia de possuir as melhores vinhetas de telenovelas? Por quê?

Prof Paulo: Na verdade, esse aspecto ele vem já desde o começo da rede Globo e ele é baseado principalmente por esta ter se formado como não só um meio de comunicação, mas um meio de comunicação que tinha por trás pessoas que pensavam marketing, que é algo que não era muito comum até então nas outras emissoras. A Rede Globo resolveu resolveu criar a cúpula da empresa com pessoas que conheciam marketing, mas também, com artistas. Nas outras emissoras era muito comum artistas e só artistas. Então, diretores, atores formaram essa cúpula para pensar a grade de programação, os programas, os públicos. E a Globo, nesse sentido, saiu na frente porque eles colocaram pessoas de marketing que conseguiam pensar, então, os públicos de uma maneira diferente com mais profundidade, com pesquisa de mercado. Então um embasamento maior para poder crescer, isso com certeza alavancou a produção tanto quantitativamente quanto qualitativamente da empresa.

Um outro ponto importante é que baseado nessas pesquisas eles conseguiram estipular horários em que determinados grupos de públicos eram alcançados então eles davam conta de variados públicos ao longo da programação durante o dia. Culminando com o horário nobre que basicamente todos os públicos eram atingidos, com o Jornal Nacional, que está na programação há muitos anos e a novela das 20h/21h. Então, dessa forma eles conseguiram se estruturar e crescer bastante. Tem um ponto em que nesse artigo eu não toco, que acho que pode ser importante mencionar, é que desde que a Record foi comprada pela Universal, a Globo tem estado numa situação um pouco mais complicada do que estava até então. Antigamente, a Globo estava numa situação muito mais confortável, sendo sempre primeiro lugar e o SBT normalmente segundo. Com a compra da Record pela Universal, a Globo tem sido impactada pelas estratégias de marketing que agora a Record tem tomado e com investimento alto em produções como em séries bíblicas, que o investimento financeiro se tornou muito grande, inclusive com atores globais que eles levaram para a Record, com roteiristas e diretores bons, com artistas tanto de edição quanto de pós-produção bons. Então, eles conseguiram ali estar várias vezes competindo fortemente com a Tv Globo e tomar o primeiro lugar em alguns momentos.

A Globo tem ultimamente feito um movimento de se repensar e de tentar sair um pouco daquele “padrãozinho” que era confortável para eles, que eles trabalham bem, que estão bem acostumados e tentando buscar outras alternativas para poder desafiar a Record e não perder esse primeiro lugar. Uma dessas alternativas são as novelas das 23h, seriados como o SuperMax, que são coisas diferenciadas para ver se alcança outros públicos e para se reinventar, para não perder aquela posição que ela tinha até hoje.

Eu acho que tudo isso que eu falei dessa estruturação que tem por trás, tem como consequência, não só as novelas, mas as vinhetas de boa qualidade também. Um dos grande nomes da Globo que é conhecido por todos nós é o Hans Donner que foi trazido para Globo para pensar a sua arte final, pensar sua identidade visual e suas vinhetas. Ele foi quem inovou muito porque trouxe vários aspectos do cinema, que não eram feitos até então. Então, as vinhetas da Globo passaram por um patamar diferente das outras emissoras, que até então trabalhavam com vinhetas em que você tinha um fundo musical bacana, uma música legal, aquela “música chiclete” e imagens que iam cobrindo essa música. Hans Donner pensou a vinheta de outra maneira, uma vinheta que ela faz pensar que ela tem haver com a trama ou que ela visualmente te desperta coisas que vão para além do enredo da novela, não só a novela em si. Um exemplo muito forte disso tudo é a própria vinheta do Fantástico que o Hans Donner fez na década de 80 que até hoje é lembrada por todo mundo como uma das vinhetas mais marcantes que existe, com aquelas mulheres saindo da água, e ele conseguiu fazer umas montagens como se os bailarinos estivessem em vários continentes diferentes do mundo dentro de estúdio. Então ele veio inovar muito na Globo e trouxe pra vinheta esse ar novo que a Globo conseguiu manter e tem trabalhado nisso. Então ela se destacou nas vinhetas, não só de novela, mas nas outras também, e ainda continua mantendo essa liderança. Acho que a Record tem corrido atrás, tem buscado conseguir atingir a Globo em algum momento. O SBT e Band bem menos, eles acabam meio que replicando de forma bem mais simples as vinhetas, como são as vinhetas das novelas mexicanas e as europeias. Mas a Globo e a Record, elas têm pensado um pouquinho mais as vinhetas.

 

2. Ao estudar um pouco sobre seus trabalhos, descobrimos uma curiosidade de sua parte no desenvolvimento de trabalhos sobre dança. Você pode nos explicar de onde veio essa vontade de associar a dança com comunicação e como esses trabalhos ajudaram no amadurecimento de seus projetos de pesquisa, se contribuiram de alguma forma.

Prof Paulo: Eu acho que esses trabalhos que relacionaram a dança com a comunicação, eles surgiram de uma maneira bem orgânica, foi meio sem pensar, foram acontecendo. Eu sempre tive uma proximidade muito grande com as artes, sempre gostei muito de tudo que era relacionado a arte, até que eu comecei a participar de algumas oficinas e comecei a trabalhar em grupos de teatro, de dança, de circo, até que eu fui dar aula de dança, de circo. Então eu estava sempre envolvido com essas coisas.

A publicidade sempre me chamou a atenção, acabei indo fazer curso de publicidade, mas eu já estava envolvido com a arte quando eu entrei no curso. Eu nunca tinha pensado muito bem na relação das duas coisas, mas eu sempre percebia que havia alguma coisa que relacionava a comunicação com as artes. Até que na especialização eu tive a oportunidade de parar para pensar isso de maneira mais científica e não só dessa maneira empírica e com “achômetro”, mas sim mais acadêmica. Foi quando eu descobri o professor Norval Baitello Jr, com a teoria dele que traz o corpo como mídia primária, e foi então que percebi que de fato aquilo que eu achava que poderia ter uma ligação tinha mesmo e tinha autores como o professor Norval falando a respeito disso. Então foi o momento que eu parei para olhar como que o corpo, enquanto mídia primária comunicava, que foi daí o trabalho da pós-graduação, da especialização e foi nesse momento que eu fui pensar esse corpo como meio de comunicação, como primeiro meio e como meio fundamental e acho que isso se desdobrou até mesmo no mestrado, quando eu fui estudar as tecnologias na comunicação, a inserção das tecnologias na comunicação. Uma das conclusões do trabalho foi que não existe tecnologia sem o ser humano, elas existem pelo ser humano, para o ser humano. Então a gente nunca pode ignorar o corpo e o ser humano como sendo o primeiro. Nesse sentido eu acho o professor Norval bem feliz quando ele coloca o corpo como mídia primária e as outras são consequências dessa primeira mídia.

 

3. Gostaríamos de saber por que você escolheu se graduar em um curso na área da comunicação, especificamente Publicidade e Propaganda? O que você mais gostou no curso? Já trabalhou em algo nessa área?

Prof Paulo: Na época em que fui prestar vestibular eu tinha duas opções que eu gostava muito e que me interessava, uma era Design e a outra era Publicidade. Eu não sabia ao certo a diferença de uma coisa pra outra, achava que eram um pouco parecidas. E aconteceu que, pelo destino, eu fiquei na lista de espera de Design e passei em Publicidade, então eu fui fazer Publicidade. Acabei gostando, mas acredito que ao longo do curso eu fui percebendo que mais interessante que a própria publicidade é a comunicação, enquanto campo maior. Tenho minhas questões com relação à publicidade, eu sempre digo que eu sou um pouco o advogado do diabo, porque a publicidade tem várias coisas que a gente pode questionar e repensar, boa parte do mundo que a gente vive hoje é culpa da publicidade e parte ruim desse mundo que eu quero dizer. Mas a comunicação já tem outro viés que para mim é muito mais interessante, muito mais humano e que tem a ver com a mídia primária que eu falei que me interessa, tem relação com as artes, com a interação e com a integração das pessoas, então nesse sentido me encontrei no curso de publicidade, apesar de ter meus contras com relação a ela.

Na publicidade, eu trabalhei na agência júnior na época da faculdade, depois a
outra experiência foi coordenando uma agência de publicidade júnior em outra
instituição, quando eu já era professor. Eu nunca fui pra uma agência de
publicidade enquanto profissional porque nunca me atraiu, então eu sempre
corria, dava voltas e voltas para não entrar nas agências. Hoje eu me arrependo
disso, acredito que poderia ter tido essa experiência por um ou dois anos, só
para sentir o dia a dia da agência. Mas tive outros caminhos, acabei me
aproximando um pouco do jornalismo porque trabalhei com redação, diagramação e
arte final de jornal por um tempo. Trabalhei com televisão, que foi o que fiquei
mais tempo porque sempre chamou mais minha atenção. Essa acabou sendo minha
relação com publicidade, acho que eu sou mais um pensador da publicidade do que
um profissional da publicidade em si.

 

4. Professor, gostaríamos de saber sobre o que se trata a sua tese de doutorado e de que maneira as antigas pesquisas realizadas pelo senhor, como o artigo “Inserção da tecnologia no ensino da comunicação social” e “Inferências dos membros de redes sociais na internet a respeito de vinhetas de abertura de telenovelas” contribuíram para esta?

Prof Paulo: O tema da tese é vinhetas de aberturas de telenovelas. Caí nesse tema porque a televisão sempre me chamou atenção desde que eu era criança, era algo que me despertava interesse, que eu via não só como a mídia mas como um lugar onde a arte podia se desenvolver, onde as pessoas podiam se relacionar. Não sei, acho que a televisão para mim extravasa um pouco aquilo que a gente entende como televisão como somente um meio de comunicação. E com as vinhetas de abertura, eu sempre tive um carinho especial, sempre olhava para elas com carinho pensando “Nossa como fizeram isso?”, pensando a técnica de construção das vinhetas, pensando os porquês das opções, pensando como chegaram naquilo, na criação, na concepção daquelas vinhetas. Então sempre despertou minha atenção. Até que eu resolvi pesquisar a respeito, falei assim “Poxa, me chama a atenção e eu nunca li nada a respeito, vou ler um pouco para ver se eu aprendo mais sobre as vinhetas” e quando eu fui fazer essa pesquisa, para ler mais a respeito, eu descobri que não havia o que ler porque não tinha. Para não dizer nada, tinha raríssimas coisas a respeito de vinhetas de abertura de novela, de vinhetas de abertura no geral, mas de vinhetas de aberturas de novela, especificamente, havia menos ainda. Eu encontrei um artigo no design de uma pesquisadora de design que falava de vinheta de abertura e daí ela tocava nas vinhetas de novela e um outro artigo, daí de uma jornalista que trabalhava com vinhetas de aberturas, mas de telejornal. Então, quando eu me dei conta de que era muito rara as pesquisas em vinhetas de abertura de novela, eu decidi levar isso para o doutorado como projeto e não me arrependo. É algo que eu tenho gostado muito de estudar, que tem sido muito gratificante apesar de ser desafiador por não ter muita bibliografia, poucos estudos. Então tem me desafiado muito, por muito tempo eu patinei na pesquisa porque abre um campo muito vasto de possibilidades e eu não sabia quais dessas possibilidades escolher. Transitei muito até chegar no ponto em que estou hoje, no desenvolvimento de uma metodologia para analisar essa vinhetas.

Como que os estudos anteriores me ajudaram? O que eu digo sempre para os meus alunos é que tudo que a gente faz na vida vai agregando de alguma maneira, nada é dispensável. Já tive aluno que cursou engenharia antes de comunicação, que cursou fisioterapia antes de comunicação e eles falavam assim: “Ai eu sei que não tem nada a ver e que eu perdi meu tempo” e eu falo: “Não, você não perdeu seu tempo, alguma coisa você vai relacionar, alguma coisa você vai trazer dessa experiência para colaborar”.

Com relação a minha experiência, na graduação me formei em publicidade. Eu acho que consigo olhar para as vinhetas como um produto de venda da novela, ela tem um viés publicitário para mim, que eu acho que tem a ver com a minha formação na graduação.

Daí com relação à pós que eu estudei essa mídia primária, o corpo. Eu tenho percebido muito e tenho olhado muito para o uso do corpo dentro dessas vinhetas. Então, apesar de não ser o objeto de estudo, eu acabo olhando e me desperta atenção por ter essa referência do estudo lá na especialização.

E com relação ao mestrado, que eu pesquisei a inserção das tecnologias na comunicação, eu acabo pensando também as técnicas e tecnologias que foram usadas nas construções das vinhetas e em sua concepção, na formatação e como essas vinhetas são apresentadas para os públicos. Então de alguma forma tudo vai te fazendo pensar um pouco mais a respeito.

Eu acho que às vezes nós temos uma pretensão de conquistar o mundo e depois vamos nos dar conta que essa conquista é uma gotinha só, que a gente vai pingar ali nesse campo vasto que é a comunicação. E isso já deixa a gente feliz. Eu tenho percebido que eu tenho ali algumas gotinhas nesse meu percurso, que hoje colaboram para eu ter ido um pouquinho melhor nessa área. E, claro, se fosse uma outra pessoa pesquisando vinheta, uma outra formação, de outros lugares, com certeza teriam um outro olhar. Gostaria muito que a minha pesquisa despertasse a atenção de outros pesquisadores, que fossem pesquisar também e agregassem essas referências deles para poder construir aí uma referência bibliográfica das vinhetas de abertura, que é algo que a gente ainda não tem, mas é algo que eu acho que futuramente a gente pode ter. E eu quero ter sido um dos que contribui para isso.

 

5. Sabemos de todo o caminho que deve ser percorrido desde a graduação até a aprovação de um doutorado. Gostaríamos de saber quais são seus próximos objetivos.

Prof Paulo: Eu tenho claro algumas vontades, não são projetos ainda, mas são vontades. Uma delas é dar continuidade ao estudo de vinhetas, já tive uma fala na minha banca de qualificação de que eu devo transformar a tese em livro sobre vinheta, já que não tem. Então porque não eu publicar alguma coisa, como o livro, nesta área. Tem essa pretensão que, se tudo correr bem, pretendo publicar um livro a partir da tese falando a respeito de vinhetas. Pretendo continuar estudando essas vinhetas, principalmente ampliar um pouco este estudo olhando mais para vinhetas de outros países. Eu tive a experiência de ir para Portugal ministrar uma palestra a respeito de vinhetas, já da pesquisa da tese, e foi muito interessante eles vendo as nossas vinhetas. Algumas que eles não conheciam e falavam: “Isso não é uma vinheta, isso é uma obra de arte”. Eles ficaram fascinados com as nossas vinhetas, por sua qualidade técnica.

Então eu gostaria de olhar com calma para as vinhetas de outros países. Tenho um especial interesse de olhar também para as produções orientais, que é algo que a gente aqui no Brasil não dá muita atenção. Então olhar para vinhetas no Japão, na China, na Índia, na Austrália. Tentar transitar um pouco para entender melhor esse objeto. Então é algo que eu acho que vai se estender por um bom tempo ao longo da minha vida.

Além disso, tenho também interesse em que as coisas aqui no curso se resolvam. Hoje eu estou como professor colaborador. Apesar de ter sido aprovado no concurso para efetivo, o concurso está travado na nomeação. Então, quero ver se tudo se encaminha para que as coisas se ajeitem e que eu possa contribuir mais com o curso. Porque, como colaborador, a gente pode dar aula, mas acaba ficando meio limitado com algumas questões que poderíamos ajudar mais. Acho que seria interessante nesse sentido, então é uma coisa que eu também pretendo.

E futuramente pretendo fazer um pós-doutorado também, ficar um período no exterior e, de repente, estudando essas vinhetas mesmo, pensando nelas numa imersão no exterior, fora do país por um tempo.

 

6. O curso de comunicação e multimeios é conhecido por seus alunos e professores por ser um curso que abrange muitas áreas da comunicação e que nos ensina a trabalhar com várias dessas áreas ao mesmo tempo. O que você vem aprendendo sobre isso desde que entrou no curso até o presente momento?

Prof Paulo: Acredito que o primeiro impacto foi um choque com relação ao curso porque toda minha experiência docente, desde que eu comecei a dar aula em 2009, sempre foi com o curso de comunicação ou no jornalismo, ou na publicidade, ou nas relações públicas. Quando eu vim prestar o concurso, fui estudar o curso e procurar entender sua lógica, e percebi que é um curso com uma proposta muito diferente do que eu tinha conhecido até então e isso me despertou atenção. Senti um pouco de medo, mas eu falei “vamos ver qual que é” e só estou descobrindo o que é, na verdade, agora que eu estou no curso. Tenho tido uma surpresa muito grata. Apesar dos alunos falarem assim “ah, mas a gente não é nem publicitário, nem jornalista, nem relações públicas e fica aquela coisa assim, a gente não é nada”. Na verdade, acredito que agrega uma coisa que é muito maior do que ser só jornalista, ou só publicitário, ou só relações públicas e talvez a gente que já é profissional da área tem essa visão um pouco mais clara do que os alunos que estão dentro do curso. É um curso que abre um leque que é muito mais interessante, hoje se eu tivesse a possibilidade de fazer uma graduação provavelmente escolheria comunicação e multimeios e não publicidade, pois acredito que ele me daria muito mais possibilidades no mercado de trabalho ou como pesquisador, sua proposta é muito mais contemporânea. Os professores e colegas que vieram pra cá dar palestra e ministrar curso no Multicom comentaram que a proposta do curso é bacana e que ele é super inovador.

Eu acredito que é o curso que vai oferecer o tipo de profissional que o mercado precisa e que ainda não sabe que precisa, porque jornalismo e publicidade já estão bem consolidados. Todo mundo já sabe o que é e pra que serve, mas os dois profissionais estão numa caixinha muito fechada. Comunicação e multimeios é muito recente e é exatamente o que o mercado precisa, um profissional mais versátil que pensa de maneira mais ampla e que tenha um visão mais holística, que não seja fechado naquela coisa mais mercadológica ou mais noticiosa do negócio. Tudo que a publicidade não tem de legal, mas que a comunicação de maneira mais ampla tem, é o que o curso de comunicação e multimeios pode oferecer enquanto habilitação na comunicação.

 

7. Como você já cursou um curso mais específico da comunicação como publicidade e propaganda e agora dá aula para um curso mais abrangente como comunicação e multimeios, você deve notar a diferença dos estudos e das produções dos alunos. O que você acha que mais difere de um aluno formado em comunicação (uma área tão ampla) para alguém formado em algum curso mais específico como publicidade ou jornalismo?

Prof Paulo: Em Publicidade a gente fala muito em comunicação integrada, inclusive tem a disciplina de comunicação integrada em publicidade que tenta mostrar para os alunos a comunicação de uma maneira mais ampla, mas é muito difícil esse trabalho, normalmente eles têm uma visão muito publicitária do negócio e fica muito voltada para os quatro P’s de marketing especialmente o P de promoção, o que limita muito. A principal diferença que eu tenho visto comparando os alunos de publicidade com os alunos de comunicação e multimeios é que em comunicação e multimeios vocês não ficam tão limitados, vocês conseguem pensar de maneira mais ampla, conseguem pensar com cabeça de publicitário, mas também jornalista, mas também de relações públicas, mas também de comunicação e multimeios, ou seja, vocês tem mais facilidade de transitar, o que eu acredito que é um grande problema do curso de publicidade hoje. Infelizmente apesar de nós professores e coordenadores percebermos essas dificuldades nos cursos de jornalismo, publicidade e relações públicas o MEC tem feito um caminho exatamente inverso do que gostaríamos, ao invés de integrar mais a comunicação, o MEC tem desmembrado mais para deixar cada coisa mais específica, isso começou com o curso de jornalismo quando foram implementadas novas diretrizes, o jornalismo se separou e virou um curso a parte com disciplinas a parte, com estágio mais fechado e naquele círculo jornalístico, que não se comunica com a publicidade nem com relações públicas e nem com as outras partes da comunicação, a publicidade e as relações públicas foram no mesmo caminho por exigência do MEC e também se desmembraram e acabaram ficando um pouco mais fechadas e isso eu tenho visto como algo extremamente maléfico para os profissionais que se formam nessas áreas porque eles não conseguem entender a comunicação como algo que é integrado porque o publicitário precisa do jornalista que precisa do relações públicas que precisa do multimeios e precisa de outros profissionais para desenvolver bem seu trabalho. Em uma agência ninguém nunca trabalha só com publicidade sempre tem psicólogo, profissional de letras, filósofo, designer, tem profissionais de várias áreas dentro de uma agência e a partir do momento que nós nos vemos dentro de uma caixinha totalmente separado das outras áreas e da comunicação como um todo isso é muito limitador, acredito que nesse sentido o MEC foi extremamente infeliz e não houve muita abertura para discussão de professores e coordenadores de curso para essas questões, simplesmente eles levaram as propostas à frente, implementaram e as universidades estão tendo que colocar essa proposta em vigor para poderem manter os cursos abertos. Então tem algo burocrático por trás do Ministério Público da Educação que é muito triste e que acabamos tendo que se enquadrar e para os cursos como esses de jornalismo, publicidade e relações públicas é muito ruim, e nesse sentido comunicação e multimeios está saindo na frente porque não foi obrigado a se fechar como os outros cursos foram assim acaba vendo a comunicação de maneira mais ampla porque os outros estão fazendo o caminho exatamente inverso.

 

8. Sabe-se que o senhor participou recentemente de um congresso na Cidade do México e que ainda apresentou um de seus trabalhos. Qual foi a sensação de participar de tal evento? Quais foram as palestras mais proveitosas? Como você se sentiu apresentando um trabalho a nível internacional?

Prof Paulo: O bacana de participar de um congresso internacional é que conseguimos ouvir outros profissionais e outros pesquisadores da comunicação, assim saímos um pouco da nossa caixinha porque às vezes a gente fica fechado. Nós ficamos em um curso que estamos com os colegas da gente, sabe o que pesquisa, se entende e está ótimo, só que se fechar assim é ruim pra quem é da comunicação. Então participar desses congressos é legal porque acabamos vendo as visões de outras pessoas que estão trabalhando outras coisas, pesquisando outras áreas, outros objetos, o que acaba agregando muito também para nossas pesquisas. Esse congresso que fui se chama ALAIC e ele é um congresso em que vão todos os pesquisadores da América, principalmente da América Latina e é muito interessante vermos o pessoal, as pesquisa da Argentina, do pessoal do México, do Peru e Chile e ver as perspectivas diferentes de pesquisa, as metodologias que são usadas, os objetos que são abraçados, o que acaba sendo uma troca muito rica. Infelizmente eu tenho sentido que os congressos tem tido uma grande dificuldade com relação a tempo, então você tem pouco tempo para apresentar seu trabalho, pouco tempo pra ouvir os colegas e pouco tempo pra discutir esses trabalhos, assim você viaja para outro país, gasta com viagem e hospedagem e acaba tendo pouco tempo para discutir essas coisas que seriam bem proveitosas, o que acaba sendo legal é que acabamos trocando email e conhecendo outras pessoas, mantemos contato para além do congresso e isso acaba sendo bacana, então eu acredito que é o principal ponto do congresso. A experiência de apresentar no exterior é até mais tranquila do que apresentar no Brasil porque sempre que estamos nos apresentando em outro país de alguma forma a gente é novidade no que estamos falando, porque estamos trazendo outra perspectiva, do teu lugar de fala que é diferente das outras pessoas.

Não vi nenhuma pesquisa com relação a vinhetas no congresso, apesar de ter participado de grupos de trabalhos que são mais específicos de audiovisual, não teve nenhuma pesquisa com vinheta, mas teve outras pesquisas de audiovisual que me ajudaram a pensar as vinhetas. Nesse congresso em específico no México acho que a palestra que mais mexeu comigo de alguma forma, tanto enquanto pessoa quanto pesquisador foi a do professor Guillermo Orozco que é mexicano e que participou da mesa de uma das palestras junto com a professora Maria Imaculada aqui da ECA-USP, a fala dele veio a encontro com o que eu penso da comunicação, de uma comunicação que pensa as pessoas em primeiro lugar, antes de pensar mídia, antes de pensar mensagem, antes de pensar os meios, que pensa as pessoas que fazem parte do processo de comunicação, então foi uma fala que foi muito proveitosa de ouvir e que também veio confirmar uma das coisas que eu acredito enquanto pesquisador de comunicação. Também acabei tendo a possibilidade de fazer uma entrevista com o professor Orozco, ela acabou de ser publicada essa semana na revista RU – Revista Uninter de Comunicação, foi publicada em espanhol, mas também vai sair a versão em português, então foi muito bacana poder conversar com o professor Orozco que um autor que a gente lê na graduação e na pós graduação que tem muita contribuição na área e que tem um pensamento que vem totalmente ao encontro dessa questão mais humana da comunicação, de pensar o ser humano, então foi muito bacana, acredito que a parte mais emocionante pra mim no congresso foi essa de poder sentar com o professor, poder entrevistá-lo, ouvir dele aquilo que eu estava perguntando e ter essa possibilidade de ter um contato mais próximo com um autor que é bibliografia minha e que uso de referência para minhas pesquisas.

 

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